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Viaduto vira academia de boxe em Mauá
Nilton Valentim
Do Diário do Grande ABC
18/08/2001 | 19:05
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  O passageiro do ônibus se levanta num sopetão. Abre a janela e dispara: “Dá nele”. A cena é comum, repete-se todas as noites de quarta-feira, e para os alunos da academia de boxe Nocaute, de Mauá, serve de inspiração para manter o ritmo de treinos, se esquivar da dureza do dia-a-dia, crer num futuro glorioso e, principalmente, nocautear a falta de recursos para impedir que os sonhos beijem a lona. Não importa que o ringue em que trocam golpes seja iluminado por apenas três lâmpadas e esteja localizado embaixo do viaduto da Saudade.

São mais de 150 alunos que se inspiram no técnico Ailton Pessoa, que desde 1990 sobe nos ringues e entre os títulos conquistados se orgulha do Brasileiro Profissional de 1996, na categoria meio-médio, e o Paulista de 1998. “Aqui quem pode paga os R$ 20 de mensalidade, quem não pode treina na faixa”, fala o mestre, orgulhoso do trabalho que realiza.

O espaço em que os futuros pugilistas desenvolvem seus golpes é alugado da Associação Comunitária das Sociedades Amigos de Bairro de Mauá e está dividido em dois setores. Ambos têm em comum o teto, ou melhor, o Viaduto da Saudade. Numa imensa sala, com sacos de areia pendurados, alguns aparelhos de ginástica já desgastados pelo tempo, recortes de jornais e fotos espalhadas pelas paredes, os pugilistas se aprimoram física e taticamente.

Mas é do lado de fora que está a principal atração da academia. O ringue montado ao lado da avenida Rio Branco, em que os pugilistas mostram sua habilidade para a apressada platéia, que das janelas dos carros e ônibus grita – nem sempre são palavras de incentivo – enquanto passa pelo local.

Embora as condições da academia sejam modestas, Pessoa conta que a instalação do ringue embaixo do viaduto não foi motivada apenas por necessidade. “É um pouco de marketing também. Aqui fora, o boxe aparece mais e as pessoas se interessam mais pelo esporte”, afirma o treinador.

As pancadas não acontecem somente em cima do ringue. De acordo com Pessoa, já aconteceu de motoristas se distrairem com as lutas e se esqueceram da lombada – que se localiza há poucos metros – e baterem atrás do veículo da frente.




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