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Repórter do New York Times é solta e revela fonte de matéria polêmica
Do Diário OnLine
Com AFP
30/09/2005 | 18:09
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A jornalista do The New York Times Judith Miller, presa por ter-se negado a cooperar numa investigação sobre um vazamento à imprensa de informações a respeito da identidade da agente da CIA Valerie Palme, prestou depoimento nesta sexta-feira, após ter sido libertada na véspera.

Judith Miller, que passou 12 semanas em uma prisão próxima a Washington, havia se negado até agora a fornecer suas fontes à promotoria. O vazamento do nome da agente é considerado crime nos Estados Unidos.

A história começou em 2003, quando o ex-embaixador americano Joseph Wilson, crítico ferrenho da posição do governo Bush sobre as armas de destruição em massa iraquianas, acusou a Casa Branca de ter revelado, em represália, que sua esposa, Valerie Plame, era agente secreta da CIA.

A divulgação da identidade da agente da CIA foi interpretada como uma tentativa de desacreditar Joseph Wilson.

Segundo o The New York Times, Miller aceitou prestar depoimento ao tribunal após ter sido formalmente liberada por sua fonte do compromisso de manter a confidencialidade. No entanto, Miller só falará sobre esta única fonte.

A fonte em questão é Lewis Libby, diretor do gabinete do vice-presidente Dick Cheney, que havia recebido Miller várias vezes em julho de 2003 e manteve com ela várias conversas por telefone nessa mesma semana. Miller recusou-se a revelar a identidade da fonte diante das câmeras.

O advogado de Libby, Joseph Tate, explicou que seu cliente havia liberado Miller de sua promessa há mais de um ano, mas a jornalista fez questão de se assegurar de que ele não fazia isso por obrigação. "Queria ouvir diretamente de Libby e se assegurar de que era uma opção voluntária", informou.

No entanto, continua o mistério sobre a demora da revelação, que custou a liberdade de Miller no início de julho. "É bom estar livre", disse Miller em comunicado divulgado por seu jornal.

"Recentemente, minha fonte me disse que eu poderia testemunhar no tribunal. Fez isto através de carta e por telefone. Concluí que minha fonte queria que eu testemunhasse", disse Miller ao sair do tribunal.

Em seguida, "meu advogado perguntou ao procurador se meu testemunho poderia ser limitado à fonte que me deu sinal verde para falar. O procurador concordou, o que era muito importante para mim", acrescentou.

"Passei 85 dias na prisão porque acreditava na importância de respeitar a confidencialidade da informação trocada entre fontes e jornalistas. Eu não tive vontade de ir para a prisão. E teria ficado mais tempo se não conseguisse obter essas duas coisas", acrescentou.

Miller foi libertada após se reunir na prisão com seus advogados e com o promotor encarregado do caso, Patrick J. Fitzgerald, para discutir seu testemunho.

"Fui à prisão para preservar o princípio, consagrado pelo costume, de que um jornalista deve honrar a promessa de não revelar a identidade de uma fonte confidencial", explicou.

O diretor do New York Times saudou o comportamento de sua jornalista. "O compromisso de Judy de proteger a confidencialidade de suas fontes foi inquebrantável", destacou Arthur Sulzberger. "Estamos muito satisfeitos de que finalmente tenha sido direta e voluntariamente autorizada (...) a testemunhar".

O promotor Fitzgerald, que quase encerrou a investigação, pediu a Miller há mais de um ano que revelasse o teor de suas conversas com Libby.

Outro jornalista, Matt Cooper, da revista Time, terminou cedendo às exigências da justiça no final de junho, afirmando que foi liberado por sua fonte da promessa de confidencialidade. Em seu caso se tratava do estrategista político do presidente Bush, Karl Rove.

A organização Repórteres sem Fronteiras comemorou a libertação de Miller, lamentando em um comunicado divulgado nesta sexta-feira "que, em troca de sua liberdade, a jornalista tenha sido obrigada a violar o princípio do segredo profissional".




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