Levantamento feito na área da Seccional de Polícia de Sao Bernardo mostra que 48% dos homicídios ocorridos entre janeiro e maio deste ano aconteceram entre 18h e 24h e somente 20% ocorreram entre a meia-noite e 6h, o que leva a polícia a acreditar que a lei aprovada pelos vereadores da cidade determinando o fechamento dos bares após a meia-noite, de segunda à quinta-feira, e após as 2h, entre sexta-feira e domingo, terá uma repercussao muito pequena nos índices de violência do município.

Para o delegado seccional Pedro Liberal, uma fiscalizaçao eficiente da Prefeitura nos estabelecimentos que atualmente funcionam sem licença nos bairros periféricos teria maior efeito sobre a violência. "Acredito que a grande maioria dos homicídios ocorre em botecos que funcionam irregularmente, sem alvará, instalados um ao lado do outro nas vielas das favelas", disse.

A lei, que ainda depende de sançao do prefeito Maurício Soares, visa, em princípio, o sossego de quem mora próximo a bares e lanchonetes. O prefeito, porém, ressaltou que a medida incrementaria os mecanismos de defesa que a cidade vem implementando no combate ao crime.

Se levadas em conta as estatísticas, é durante o dia e no início da noite que a cidade fica mais perigosa. O consenso popular, no entanto, acredita que realmente o risco aumenta na madrugada. "Eu fecho às 21h, tenho medo de ficar até mais tarde", afirmou Antonio José da Silva, 36 anos, o Toninho, dono do bar e Mercearia do Toninho, na Vila Sao Pedro, em Sao Bernardo.

Com comércio na avenida Faria Lima, Valdeir Rodrigues Nascimento, o Batata, dono do Palomas, onde o forró se estende até o amanhecer nos fins de semana, disse que nunca houve uma única briga em seu estabelecimento. "Essa história de que a madrugada é mais perigosa é furada, a polícia sabe onde os bandidos andam e só nao os prende porque nao quer", afirmou.

José Peres, 52 anos, do Bar Vila Sao Pedro, trabalha na Prefeitura durante o dia e atrás do balcao à noite. "Tem muita gente honesta que vai ter seu negócio afetado, e quem é do mal continuará fazendo das suas, seja a hora que for."

Em maio, o assalto a pedestres em Sao Bernardo atingiu seu recorde. Foram 510 pessoas roubadas no município no período, uma escalada que começou com 206 casos em janeiro de 1998 e foi crescendo até 464 registros do tipo em dezembro, resultando na média mensal de 356 pessoas atacadas por ladroes no ano passado.

A maioria dos assaltos a pedestres, mais de 90%, acontece entre 8h e 19h, segundo as estatísticas policiais. Já em relaçao a roubo e furto de carros, foram 725 veículos levados em Sao Bernardo no mês passado, 23 por dia em média, um crescimento de 33% sobre a média do ano passado. A maioria dos casos também ocorreu durante o dia e início da noite, até as 22h.

"Hoje, os bandidos estao trabalhando 24 horas por dia, e nao tem polícia que acompanhe esse pique", afirma Isaias Gabriel Martins, 48 anos, do bar Jurubatuba, na rua de mesmo nome. Ele é contra o fechamento dos bares, embora a medida nao o afete, já que costuma encerrar o movimento antes da meia-noite. Mas ele lembra de muitos amigos que dependem da madrugada, comerciantes dedicados à vida noturna que teriam de mudar seus hábitos e aumentar a concorrência durante o dia.

Em Santo André, inspirado na legislaçao aprovada na capital, o vereador Oswaldo Moura (PMDB) também apresentou um projeto de lei que limita o funcionamento dos bares do município até a 1h. Só seriam permitidos os estabelecimentos equipados com proteçao acústica, estacionamento e seguranças. A proposta ainda passará pelas comissoes e poderá ser votada no segundo semestre.