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'Febeapá' terá reedição pela Companhia das Letras
28/07/2015 | 08:00
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Crítico literário e pensador católico, Alceu Amoroso Lima não suportou a crescente onda de cretinice que se espalhava pelo País e desabafou: "A maior inflação nacional é de estupidez". Isso foi em 1966, mas muito antes e certamente bem depois o cenário brasileiro jamais ficou livre (nem ficará) da quantidade de frases e gestos infelizes. Mas foi justamente esse farto material que inspirou um dos maiores cronistas brasileiros, Sérgio Porto (1923-1968) a exercitar seu fino humor. Foi sob o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta que ele começou a publicar o Febeapá - Festival de Besteiras Que Assola o País, que a Companhia das Letras, em feliz iniciativa, edita em volume único, lançado agora.

Sérgio Porto era dono de um admirável senso de humor. Conhecedor de música popular brasileira, de cinema e de jazz, escrevia com precisão e elegância. Começou a escrever na imprensa em 1947, publicando em Folha do Povo, Sombra, Comício até chegar ao Diário Carioca no qual, depois de assinar a coluna de música, assumiu também a social, mas sob duas condições: tratar de assuntos além da frivolidade da alta burguesia e assiná-la com outro nome. O primeiro que lhe veio à cabeça foi Serafim Ponte Grande, em homenagem ao personagem criado por Oswald de Andrade, mas, ao receber um livro do autor com uma carinhosa dedicatória, Sérgio, receoso de magoá-lo, decidiu mudar.

O pseudônimo nasceu, então, da fusão das sugestões do editor Lúcio Rangel e do ilustrador e artista plástico Santa Rosa: Stanislaw Ponte Preta. "Eram almas gêmeas", observa o crítico e cronista do Estado Sérgio Augusto, autor do prefácio. "Oswaldianamente irreverentes, folgazões, sem frescura, livres de qualquer parti pris ideológico, paladinos de todas as manifestações da cultura popular, mulherólogos, carioquíssimos. Abominavam os hipócritas, os racistas, os puxa-sacos, e não tinham em melhor conta o milico metido a machão, o burro metido a sabido e o intelectual metido a besta."

Sob a assinatura de Stanislaw, Sergio, habitualmente mais contido, revelava uma escrita exuberante e, em seus ácidos comentários, não perdoou ninguém imerecidamente, combinando com maestria inteligência, comentários marotos e texto fluente. Criou também gírias que se tornaram populares, como "cocoroca", "teatro rebolado" e "redentora", para designar o golpe militar de 1964. Também inventou expressões que logo caíram na boca do povo, como "mais por fora que umbigo de vedete" e "mais por baixo que calcinha de náilon".

Com o apoio da fictícia Pretapress, agência de notícias fomentada pelos leitores, que se divertiam enviando recortes de jornal de todo o País, Stanislaw conseguia mapear a imensa quantidade de atos e palavras tolas que, de tão imbecis, eram hilariantes. Afinal, o que falar do comentário de Ibrahim Sued, papa do colunismo social e figura frequente do Febeapá, que, antes mesmo de iniciado o festival, estreava num programa de televisão e avisava ao público: "Estarei aqui diariamente às terças e quintas"? As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.




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