Quatro meses depois de anunciar que seria comprada por grupo chinês, e negar de forma peremptória que a mudança de comando implicaria cortes em massa de colaboradores, a Pirelli anuncia a demissão de 121 funcionários da unidade de Santo André. O clima na empresa é de total apreensão, já que o desligamento veio acompanhado de comunicado dando conta de que a linha de produção ficará paralisada por 22 dias.

Assim que a notícia da transação comercial foi divulgada, em março, os 2.500 trabalhadores da fábrica de pneus ficaram em polvorosa, bastante assustados. Eles temiam que a aquisição da marca pelo grupo chinês ChemChina (China National Chemical Corp) por US$ 7,7 bilhões, resultaria em eliminação de vagas. Alguns chegaram a cogitar a ida da fábrica para a Ásia.

Os executivos da Pirelli optaram por piorar as coisas, passando a sonegar informações, o que tornou a situação ainda mais preocupante. Até que o CEO (executivo-chefe, na tradução para o Português) da companhia, Marco Tronchetti Provera, declarou que “o acordo com os chineses não impactará nos empregos”. Não se tratava, como agora resta comprovado, de verdade absoluta.

Evidentemente, a versão oficial da empresa não vai relacionar o corte de funcionários ora divulgado à venda da Pirelli para o grupo chinês. As dificuldades financeiras que assolam o Brasil serão utilizadas para justificá-lo. Já que perguntar não ofende, a questão que se formula é: a direção da fabricante de pneus está sendo sincera desta vez?

É indiscutível que o Brasil enfrenta fortíssima crise financeira, mas todos os fatores que a caracterizam já existiam há quatro meses. A única coisa que mudou, de lá para cá, foi o comando da Pirelli, agora nas mãos dos chineses. Este Diário, como sempre faz quando os interesses do Grande ABC estão em xeque, alertou para a possibilidade de o ônus da transação comercial bilionária acabar recaindo nas costas do trabalhador, o que, infelizmente, está se confirmando.