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Festival do Rio tem resultado discutível
10/10/2009 | 07:00
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Como fenômeno sociológico, é interessante. "Os Famosos e os Duendes da Morte", de Esmir Filho, foi o grande vencedor do Festival do Rio, anteontem à noite. O longa venceu os prêmios do júri e da crítica, mas não se pode dizer que tenha sido uma vitória tranquila e, muito menos, anunciada.

Esmir já investigou o universo da adolescência em curtas. Seu longa mostra uma garotada do interior do Rio do Grande do Sul que se pluga no mundo sem sair de seu rincão, exatamente como pretendia o escritor russo Leon Tolstoi. Para ser universal, segundo o autor de "Guerra e Paz", é preciso somente estar atento ao seu mundinho particular.

De que maneira os garotos e garotas do novo filme de Esmir Filho fazem isso? Por meio da internet. Vestindo um casaco da grife de Marcos Mion, o diretor subiu ao palco para dizer que fez seu filme sobre adolescentes para adolescentes. Legal. Mas o fato de registrar um fenômeno social não transforma Os Famosos numa obra de vanguarda.

O filme não é nulo. Possui qualidades de estilo, uma bela fotografia que não é decorativa e revela um verdadeiro olho de artista - senso plástico. Mas daí a ser um grande filme e a melhor ficção...

O júri presidido pelo cineasta argentino Fernando Solanas e integrado, entre outros, pela diretora brasileira Helena Solberg e pela atriz, também brasileira, Júlia Lemmertz deixou a desejar na lição de casa.

Mal comparando, "Os Famosos" lembra um filme que a Mostra de São Paulo exibiu. Denise Está Chamando, de Hall Sawen, virou cult ao flagrar uma tendência que só foi se acentuando com o tempo, e chegou ao filme de Esmir Filho. No mundo moderno, as relações interpessoais foram substituídas por celular, internet - Denise é pré-Twitter.

O diretor Sawen era crítico desse - admirável? Assustador? - mundo novo. Esmir constata. A internet muda o mundo e o próprio conceito de simultaneidade de Marshall McLuhan nos anos 1960. Isso, a gente entende.

Muita gente nem deve se lembrar que um dia existiu Denise Está Chamando e é de se esperar que o filme brasileiro tenha uma vida mais longa.

A produtora Sara Silveira, eufórica, comemorava o fato de o Festival do Rio premiar um filme paulista (embora ela seja gaúcha e Os Famosos tenha sido filmado no Rio Grande) e anunciava - vai tentar festivais internacionais. Quais? "Não posso dizer, um em fevereiro..." Ou seja, Berlim.

Pode-se criticar a decisão do júri, mas ela é soberana e não admite réplica nem contestação. O júri foi patético.

Conseguiu lotear prêmios de forma a que cada concorrente da Première Brasil levasse um troféu Redentor, nem que fosse de consolação.

Atribuir menção honrosa de melhor ator para Fúlvio Stefanini, por Cabeça a Prêmio, de Marco Ricca, é brincadeira. Uma que Fúlvio é coadjuvante - se era para ganhar, que ganhasse o prêmio de coadjuvante ou uma menção na categoria. E, depois, não se premia um ator com o currículo dele dessa maneira. Ou ganha, ou não.

O prêmio de atriz ainda foi pior. Nada contra Nanda Costa, que é talentosa - ela venceu por Sonhos Roubados, de Sandra Werneck, que também recebeu o Redentor de melhor filme do júri popular -, mas a indiscutível melhor atriz foi outra estreante, vinda do teatro, Cláudia Assunção, de O Sol do Meio-Dia.

Todo mundo ganhou uma fatia do seu Redentor - todo mundo, menos o melhor filme da Première Brasil 2009, Natimorto, de Paulo Machline, baseado no livro de Lourenço Mutarelli e com o próprio escritor na pele do protagonista.




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