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'A Múmia', que estréia nesta 6ª, promete muita diversao
Do Diário do Grande ABC
17/06/1999 | 14:49
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Múmias sempre foram o primo pobre do gênero de terror. Vampiros, lobisomens, Frankensteins, Freddy Kruggers e outros serial killers há muito fizeram cair a cotaçao do esparadrapo no mercado de sustos e os sarcófagos entraram em franca decadência, descambando para o gênero terror. Afinal, que graça tem um sujeito todo enrolado com esparadrapo que anda com as pernas entrevadas e os braços estendidos, como um sonâmbulo? Daí porque essa múmia anabolizada do diretor Stephen Sommers merece o nosso respeito. Sampleada do andróide descarnado que Schwarzenegger fez em "O Exterminador do Futuro", ela levanta as areias do deserto contra o inimigo, voa como o Superman, "parafusa" braço que perde durante luta, viaja em um ciclone, passa pelo buraco da fechadura. Eta, múmia danada! Feita de uma colagem descarada de filmes anteriores, rindo dos pressupostos de originalidade e verossimilhança, A Múmia é um filme da era do sampler e da montagem. É feita de sobras da opulência de Steven Spielberg, mas leva uma vantagem sobre seu inspirador: nao se leva a sério um segundo sequer.

Na série Indiana Jones, somos levados a torcer pelo herói. É a reciclagem da velha luta do bem contra o mal. Em A Múmia, que estréia nesta sexta, nem o herói leva-se a sério e o exército de múmias inspira tudo, menos pânico. Como o filme que o antecedeu, o clássico de 1932 da Universal Pictures, A Múmia está condenado à maldiçao de fazer esquecer completamente os problemas por duas horas, na escuridao do cinema. Nao veio para fazer história, mas para cumprir sua sina de matinê.

Tempestade antológica - Os efeitos visuais sao espetaculares, mesmo que já os tenhamos visto todos, esparsamente. A diferença é que estao concentrados. Foram feitos pela Industrial Light & Magic e pelo menos uma cena é antológica: a perseguiçao da tempestade de areia viva ao pequeno aeroplano do herói, o americano Rick O'Connell (Brendan Fraser, gala de olhos esbugalhados que já tinha feito muita gente rir com George, O Rei da Floresta, antiga paródia de Tarzan).

Stephen Sommers (diretor de O Livro da Selva, baseado em Rudyard Kipling) assina também o roteiro. Que funciona, mais por força das gags ininterruptas do que da história. Em 1719 a.C., na cidade de Tebas, rola um amor proibido entre um alto sacerdote do faraó, Imhotep, e a mulher proibida do faraó (existiu algum faraó que liberava a mulher?), Anck-Su-Namum.

Imhotep mata o faraó e, quando Anck-Su-Namum se mata, para evitar o castigo, ele se desespera e desafia os deuses, tentando ressuscitá-la. É mumificado vivo, da pior maneira que os egípcios poderiam conceber em sua época: condenado à tortura por toda a eternidade, enterrado com escaravelhos carnívoros. Sua dor e seu desejo de vingança tornam-se, entao, mais fortes e sobrevivem aos séculos.

Em 1923, no entanto, para achar a cidade de ouro que o faraó construía à época de seu assassinato, chegam aventureiros a Hamunaptra (nome da tal cidade). A frente de um grupo de exploradores, está Brendan Fraser. O herói sobrevive a uma chacina e escapa para o Cairo, de onde será resgatado da forca pela mocinha, a egiptóloga Evelyn, interpretada por Rachel Weisz bela novata, cujo currículo se resume ao filme Trazido do Mar.

Marrakesh e Saara - Os cenários nao sao convincentes à toa. As filmagens foram feitas em Marrakesh, no Marrocos, em maio de 1998. A Cidade dos Mortos, Hamunaptra, foi construída no Deserto do Saara, na cidadezinha de Erfoud, dentro de um vulcao extinto. O Porto de Giza, no Rio Nilo, nao era no Egito, mas em Chatham, na Gra-Bretanha. E vocês acham que é tudo muito parecido com Os Caçadores da Arca Perdida? Têm mais do que razao. Até a co-produtora, Patricia Carr, também trabalhou no deserto fazendo Os Caçadores de Spielberg.

Pasme! Nao foi nem a luta com uma infinidade de múmias nem a fuga de um barco em chamas a cena mais difícil. Foi a divertida corrida de camelos entre os aventureiros. Os atores tiveram de tomar aulas de como montar camelos em "alta" velocidade - o que produziu uma das boas gags do filme, a paquera entre os heróis em cima de camelos.

Por causa das altas temperaturas no deserto, muitos dos cenários derretiam ou desabavam antes das externas. Os produtores tiveram de providenciar colunas cobertas de fiberglass com interior metálico para agüentar o tranco. Cerca de 800 figurantes participaram das filmagens, incluindo um cast de 200 tuaregues e 60 legionários.

A açao passa-se nos anos 20, com seu clima de romantismo aventureiro, de máquinas voadoras capengas e árabes misteriosos. O Indiana Jones de Sommers nao é manhoso nem cheio de truques como o de Spielberg - trata apenas de salvar a pele e nao tem uma motivaçao aparente. Mistura de Errol Flynn com Capitao Bóing (aquele aviador do Pato Donald).

Apesar de garantir que fez vastas pesquisas em livros de arquitetura egípcia e história do Egito, Stephen Sommers cometeu vários deslizes. Amantes dos felinos alegam que os gatos, na mitologia egípcia, significam fertilidade - nada a ver com guardiaes do mundo dos mortos, como diz o filme. E também criticam a escolha de um gato branco para aterrorizar a múmia, deveria ter sido um mau egípcio ou, pelo menos, um abissínio.

Em alguns momentos, Sommers fez um samba do crioulo doido, misturando Os Dez Mandamentos com Alien, desenho animado com videogame. O ajudante da múmia, que ela poupa por reconhecer nele o sangue subserviente dos escravos, é a cara (e o caráter) daquele ajudante do Jafar, do "Aladim". Ainda assim é uma diversao das boas.




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