O presidente da Câmara de Mauá, Rogério Santana (PT), passa periodicamente, no próprio Legislativo, por sessões de acupuntura (tratamento complementar para aliviar dores). O caso veio à tona ontem, quando comissão de moradores da Avenida Portugal foi às 10h ao local para reunião com os vereadores, o que não se concretizou.

O grupo foi ao gabinete do petista, onde foi informado de que Rogério não poderia atendê-lo no momento, pois passava pelas agulhadas. O tratamento feito na Casa foi confirmado pelo presidente. "Faço de vez em quando, sempre perto do horário do almoço. Vou puxar a orelha do assessor que disso isso (que foi às 10h)."

Com naturalidade, o vereador minimizou a situação. "As sessões levam cinco minutos e não atrapalham os atendimentos", garantiu, ao destacar que das 8h às 12h recebeu sete moradores em seu gabinete.

As agulhadas são aplicadas por uma amiga terapeuta. As sessões do tratamento, pela rede particular, custam R$ 30 cada. Para Rogério, não há conflito ético ou legal na situação, nem sobre a acupuntura ser realizada durante horário de expediente da Casa, que é das 8h às 17h. "Vereador não é funcionário, mas agente político. Não há carga horária estabelecida por lei."

A visão não é compartilhada pelo especialista em Direito Público Tito Costa, que aponta irregularidade pelo tratamento, de fim particular, ser feito em prédio público. "É absolutamente irregular. Configura-se abuso de poder e até improbidade administrativa."

As declarações de Rogério foram concedidas ao Diário às 14h. No fim da tarde, porém, ele passou outra versão. "Foi uma terapeuta à Câmara para oferecer serviços de acupuntura aos funcionários e querendo fazer uma demonstração do trabalho. Aí disse que poderia ser em mim", relatou.

Questionado novamente sobre se passava pelo tratamento na Casa, reiterou, com ressalva. "Não que faça sistematicamente, já fiz umas duas vezes. Mas no caso de hoje foi só uma demonstração."

DESENCONTRO

Rogério relata que foi informado às 8h de que a reunião, cujo agendamento, segundo ele, estava a cargo do Conseg (Conselho de Segurança), foi marcada para o dia 28. Até então, havia apenas a "indicação" de que o encontro seria ontem. A nova data foi definida pela impossibilidade de comparecimento do secretário municipal de Segurança Pública, Carlos Thomaz.

Por outro lado, os moradores afirmam que foram convocados pelo Conseg a comparecer ontem à reunião. A secretária do Conselho, Sandra Regina Alves, jogou a culpa na assessoria de Rogério, que "confirmou a reunião para ontem na terça-feira, mas na quarta desmarcou." Por isso, não teve tempo hábil de alertar a todos da mudança.

A comissão discute formas de minimizar a bagunça na Avenida Portugal, repleta de bares. Há reclamações de falta de segurança e de fiscalização de trânsito, e de barulho.