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Mercosul perde credibilidade entre populaçoes
Do Diário do Grande ABC
02/11/1999 | 18:42
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Menos pessoas estao acreditando no Mercosul. A afirmaçao foi feita nesta terça-feira pelo politólogo Gerardo Adrogué, sócio-diretor da Mori Argentina, que realizou uma pesquisa que indica que o bloco comercial do Cone Sul está perdendo rapidamente a boa imagem que havia conseguido nos últimos anos. A pesquisa foi apresentada recentemente na reuniao anual da WAPOR (World Association of Public Opinion Research), realizada em Paris, e demonstra que as desconfianças entre os países que compoem o Mercosul sao cada vez mais intensas.

Enquanto que no Brasil os índices de confiança nos países vizinhos sao os maiores da regiao (nos últimos anos a confiança nos argentinos, paraguaios e uruguaios manteve-se acima de 50%), os uruguaios sao os que mais desconfiam: a confiança nos argentinos caiu de 40% para 33%, e nos brasileiros foi reduzida de 45% para 17%. No Paraguai, a confiança nos brasileiros caiu de 68% em 1996 para 38% no ano passado. A confiança paraguaia nos argentinos, no entanto, cresceu de 49% para 59%. A confiança dos argentinos nos brasileiros manteve-se ao redor de 50% nos últimos anos, mas teria começado a cair após a queda do real.

A pesquisa sustenta que embora cresça a desconfiança na opiniao pública, as elites dos quatro países ainda apóiam a integraçao econômica. Atualmente, no Brasil e na Argentina, 90% das elites estariam a favor do bloco comercial. As únicas exceçoes seriam as pessoas vinculadas a setores críticos dos dois países, como os têxteis, açúcar e automóveis. No Uruguai e Paraguai o apoio é menor: 70% apóiam o Mercosul. Mesmo nos momentos mais difíceis do bloco o processo de integraçao continuou sendo apoiado pelos empresários: 90% na Argentina, 82% no Uruguai e 77% no Brasil.

Na maioria dos países-sócios, a opiniao pública, no entanto, pensa diferente das elites, e considera que seus países estao sendo prejudicados pelo Mercosul. Em 1995, 49% dos argentinos considerava que o Mercosul beneficiava seu país. A proporçao subiu para 67% em 1998, e caiu para 59% neste ano, após a desvalorizaçao do real.

"No Uruguai e no Paraguai o processo de integraçao do Mercosul é visto como desigual", diz Adrogué. "No Uruguai nao só existe a percepçao que o Mercosul beneficia o Brasil e a Argentina, mas que também que o país tem menos peso na tomada de decisoes. No Paraguai ocorre o mesmo, mas nesse país sempre existiu uma maior resistência à integraçao", diz. Em 1995, somente 43% dos uruguaios considerava que o bloco comercial era positivo para seu país, proporçao que chegou a 50% no ano passado, para cair drasticamente a 36% neste ano.

No Paraguai, o Mercosul nunca teve grande aceitaçao: em 1996, a imagem positiva era de somente 28%. No ano passado, apenas havia subido para 31%. O Brasil é uma exceçao, pois ali, a imagem de que o Mercosul é positivo para o país subiu de 46% em 1996 para 73% no ano passado.

Adrogué considera que nos países do Mercosul houve um grande desenvolvimento das burocracias que se encarregam da integraçao, mas sustenta que "nao houve políticas de geraçao de confiança no bloco comercial. Nao só os ministros têm que sentir confiança. Os cidadaos também".




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