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Confraternização, por que não?

Confraternização é o termo que melhor se aplica ao sentimento...

Rodolfo de Souza
02/07/2015 | 07:00
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Confraternização é o termo que melhor se aplica ao sentimento que predominou nos momentos que precederam e que culminaram com a expiração de papai. Que Deus o tenha!

Acontece que as pessoas mais próximas, por longo período, dividiram seu tempo entre trabalho, demais afazeres e as frequentes visitas diárias e noitadas no hospital, a cuidar daquele que lá estava e de onde não sairia com vida. Pelo menos esta com a qual estamos habituados.

Cheguei a desconfiar da intenção de meu pai de unir a filharada para uma despedida em grande estilo, tal como seria de se esperar de homem de personalidade forte, que esbanjava charme.

É bastante compreensível que para os mais jovens, o trabalho ainda seja prioridade e não se pode prescindir da necessidade de por ele zelar, uma vez que o ganha-pão é fundamental para o salutar exercício da sobrevivência. Situação que, diga-se de passagem, por vezes botou em conflito as opiniões, embora tudo acabasse se acertando, sempre com o pensamento voltado para a reabilitação do chefe da família que, até aquele momento, sobrevivera aos demais de sua geração.

Entretanto, a despeito de muito sacrifício, tudo acabou de forma diferente da desejada. Fazer o quê? Não somos dotados da sabedoria divina, tampouco somos donos dos próprios narizes. E, tão limitados assim, como haveríamos de saber de nossos destinos? Amargarmos, pois, a realidade de que papai, finalmente, não suportara o inferno de agulhas, fios, cama e mangueiras, sucumbindo ao desejo de alçar voos mais altos. Muito justo!

Contudo, o título de inglória não cabe aqui à peleja que arrancou-nos o suor da cara. Por isso, aquele espaço mórbido, inicialmente concebido para se prestigiar a morte e o resultado de seu trabalho, foi onde teve lugar o apogeu de toda a batalha.

Foi ali que bebemos papai! Isso mesmo, amigo leitor! Foi o local escolhido para, de copos na mão, brindarmos o velho que nunca dispensou um aperitivo e sempre gozou de um senso de humor inigualável. Pude até ouvir sua gargalhada ecoando pela sala naquele instante. Era, afinal, o seu jeito. Aquele momento em que os presentes deixaram de lado a tristeza e se descontraíram, tinha a sua cara. Nada mais, pois, restou ao lamento do que ceder lugar à confraternização que dividiu lágrimas e sorrisos, sobretudo, na hora crucial de levar o corpo esbelto de papai para a morada eterna.

Até o jeito peculiar, bem próprio dele, de acenar uma única vez quando se despedia das pessoas, eu pude ver na sua partida. Desaforado!

Assim era papai, assim era o velho.

* Rodolfo de Souza nasceu e mora em Santo André. É professor e autor do blog cafeecronicas.wordpress.com

E-mail para esta coluna: souza.rodolfo@hotmail.com. 




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