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Polvo nordestino
Raúl Malvino Madrid*
02/08/2010 | 07:31
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Divulgação


 

O consumo de carne de polvo é pequeno no Brasil, mas em outros países esse animal é uma iguaria muito apreciada, o que tem estimulado tentativas de criação em cativeiro. Seu cultivo ainda apresenta algumas dificuldades técnicas, mas estudos vêm sendo realizados para encontrar soluções que tornem essa atividade mais rentável. No Brasil, pesquisas indicam que pode ser uma importante fonte de renda no litoral do Nordeste, onde as águas costeiras oferecem as condições adequadas.

Os polvos, moluscos marinhos sem estruturas rígidas internas, têm oito braços equipados com ventosas e pele capaz de rápidas mudanças de cor. São conhecidas atualmente cerca de 300 espécies desses animais, que fazem parte da dieta humana desde tempos antigos.

As últimas estatísticas da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) mostram que a captura de polvo no mundo vem sofrendo seguidas reduções, exceto na China. Assim, para que o atual consumo por pessoa se mantenha ou aumente, a única alternativa é recorrer à aquicultura. Solucionados os problemas tecnológicos ainda existentes, o polvo certamente estará entre as dez espécies aquáticas marinhas mais cultivadas do mundo. Alguns pesquisadores acreditam que pode alcançar rapidamente o segundo lugar entre as espécies marinhas de cultivo, superado apenas pelas ostras.

Essa previsão tão favorável baseia-se na fácil adaptação das espécies de polvo ao cativeiro e na alta taxa de conversão do alimento ingerido em massa corporal, quando alimentados com suas presas naturais, como caranguejos. Os polvos chegam a incorporar a seu corpo mais de 50% do alimento ingerido, enquanto em outros invertebrados esse índice é de 30%.

Além dessas características, o polvo tem elevada fecundidade e alto rendimento em carne. O rendimento em carne alcança cerca de 90% da massa corporal do animal. Outro aspecto relevante é o alto preço que a sua carne tem nos mercados internacionais, principalmente na Coréia, na Itália e na Espanha.

Iguaria apreciada - Todas essas vantagens comparativas deveriam impulsionar o cultivo desse molusco marinho em nível mundial, mas, mesmo com todos os avanços tecnológicos, ainda existem dificuldades, em especial na obtenção de uma reprodução induzida que torne economicamente viável a criação do polvo em cativeiro.

Além disso, a engorda de juvenis de polvo com alimentos processados (rações) não tem mostrado bons resultados. O crescimento dos polvos é mais rápido quando este é alimentado com crustáceos, moluscos ou peixes.

O litoral do Ceará, com mais de 500 quilômetros, apresenta condições favoráveis para a criação do polvo. Hoje, a única frota das regiões Norte e Nordeste com embarcações dedicadas apenas à captura desse molusco atua no município cearense de Itarema.

Atualmente, o Labomar (Instituto de Ciências do Mar) realiza pesquisas sobre a engorda de juvenis de O. insularis, a espécie de polvo mais comum no Nordeste, em laboratório e em gaiolas no mar, empregando alimento natural e processado. Uma pesquisa de aceitação promovida pelo Labomar com chefes de cozinha de restaurantes de Fortaleza verificou que o polvo é muito solicitado por causa do sabor requintado. Os chefs disseram que uma forma de estimular o consumo seria garantir oferta constante do produto e fazer campanhas de popularização do consumo dirigidas aos consumidores.

A carne de polvo, entretanto, ainda não faz parte da alimentação cotidiana dos brasileiros. O consumo de polvo no País é de apenas 8 gramas por pessoa ao ano, média insignificante quando comparada às estimadas para Espanha (760 g anuais por habitante), Japão (980 g), Grécia (1,2 kg), Itália (1,4 kg) e Portugal (1,7 kg). Assim, apesar do potencial de aproveitamento desse molusco como recurso alimentar, ainda são necessárias pesquisas que viabilizem sua criação em cativeiro, além de trabalhos voltados para sua popularização.

 

* Labomar (Instituto de Ciências do Mar), Universidade Federal do Ceará e Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) do Ceará

 




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