Aos poucos o clima político em Brasília, que já é intenso por si só, vai aumentando, com a proximidade da posse da presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), que entrará para a história como a primeira mulher a comandar o País. Enquanto o dia 1º não chega, os turistas que estão na Capital Federal pedem mais justiça, literalmente.
A miniatura do monumento A Justiça, escultura feita pelo artista Alfredo Ceschiatti, com três metros de altura, localizada em frente ao STF (Supremo Tribunal Federal), na Praça dos Três Poderes, é a mais vendida pelo comerciante de suvenirs José Natalino.
Ele fica na entrada do Museu Nacional, projetado por Oscar Niemeyer e inaugurado em 2006, com sua pequena mesa, onde estão dezenas de peças que representam os famosos pontos turísticos de Brasília.
Mas não é apenas pela beleza peculiar da estatueta que ela é a mais vendida por Natalino. Segundo o vendedor, que há três anos trabalha no local, existe ideologia política por trás da escolha dos turistas. "O brasileiro quer mesmo mais justiça, seja ela social, moral ou judiciária", salientou o comerciante natural de São Miguel Paulista (SP) e que possui familiares em São Bernardo.
A miniatura A Justiça divide espaço com as lembranças de Os Candangos - o original também fica na Praça dos Três Poderes -, do Memorial JK - museu do presidente que fundou Brasília, inaugurado em 1981 e localizado na Praça do Cruzeiro -, da Catedral e de outras arquiteturas históricas do Distrito Federal, atrações indispensáveis aos visitantes.
José Natalino ressaltou que o movimento de turistas em Brasília aumenta no fim do ano, independentemente de ter posse de um novo presidente da República, o que ocorre de quatro em quatro anos.
Um exemplo é o advogado Luiz Campos, que saiu de Americana (SP) com a família para passear na Capital do País. "Já conhecia a cidade, vim muitas vezes a trabalho. É um lugar lindo, que queria mostrar para minha mulher e meus filhos." O momento histórico da posse de Dilma, porém, não é a prioridade de Campos.
"O PT quando chegou ao poder tinha um discurso, mas não o colocou em prática", justificou o advogado, ao lado da mulher Ana Cláudia e dos filhos Henrique e Juliana.
Apesar de classificar o Brasil como um País maravilhoso, o diretor de marketing norte-americano Michael Ruckr também não estará presente à transmissão de posse petista. Ele elogiou o trabalho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e disse que o chefe da Nação brasileira é tão respeitado no Exterior quanto em território tupiniquim.
Indagado, então, sobre quem era o cara em sua opinião, não titubeou. "Barack Obama (presidente norte-americano, que afirmou que Lula era ‘o cara'), claro", respondeu Ruckr, após fotografar a Catedral de Brasília.Sua amiga Camila Rabelo, diretora de produção do South Park Studio, que mora nos Estados Unidos, ficará na cidade para a passagem de faixa presidencial, mas por motivos familiares, para estar mais tempo ao lado dos pais, que moram em Brasília. "Tomara que Dilma dê continuidade às ações de Lula."
O guia turístico Joel Linhares de Oliveira acredita que até sexta-feira Brasília receba milhares de visitantes exclusivamente para a posse presidencial. A expectativa do profissional que tem contato com diversos hotéis do Distrito Federal é que as hospedagens cheguem a até 80% da ocupação já amanhã.
A expectativa dos organizadores do evento é que 20 mil pessoas participem da atividade - equivalente a 10% da população local - já taxistas, vendedores ambulantes, manobristas de hotéis e outras fontes experientes, mas sem conteúdo oficial, estimam 70 mil expectadores na festa.
"Esse evento é realmente um atrativo a mais, tamanha a importância histórica", avalia o guia, que compara a cerimônia que ocorrerá no sábado com Dilma no papel principal à posse de Lula em 2003, quando o cidadão da classe trabalhadora subiu a rampa do Palácio do Planalto.
"Além de uma mulher chegar ao poder pela primeira vez no Brasil, é também a despedida de Lula, que tem grande popularidade, mesmo em fim de mandato", observa Oliveira.
A avaliação é de que os visitantes deem mais atenção ao evento de transmissão do cargo do que os moradores locais. Mesmo Brasília sendo uma cidade jovem - completou 50 anos dia 21 de abril deste ano - e consequentemente ter população púbere, a sociedade politizada está acostumada a vivenciar situações políticas importantes.
Os cidadãos de outros municípios do Brasil são mais acostumados com prefeitos e vereadores, ainda assim em menor escala do que os brasilienses, acostumados com autoridades de maior relevância.
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