Pela LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) formulada pelo governo e aprovada na semana passada na Câmara, o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), vai deixar a administração, no ano que vem, com dívida de R$ 2,2 bilhões. O passivo explodiu no segundo mandato do petista.

Em 2013, a mesma LDO projetava que o rombo da Prefeitura estava em R$ 987,5 milhões. Para o próximo ano, a estimativa da dívida é 125% maior do que o deficit registrado quando Marinho iniciou o segundo mandato, após ser reeleito no primeiro turno no pleito de 2012.

A evolução da receita, entretanto, não acompanhou a ascensão do valor da dívida. Há dois anos, a LDO apontava que São Bernardo teria arrecadação de R$ 3,7 bilhões. Para 2016, estão previstos R$ 5 bilhões para ingressarem aos cofres públicos – alta de 33,3%.

Em conta hipotética, cada um dos 811.489 são-bernardenses (estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística para 2014) teria de desembolsar R$ 2.731,79 para amortizar o rombo. Esse número corresponde a 3,5 vezes um salário mínimo, hoje em R$ 788.

A gestão Marinho prevê que o montante em débito vai crescer exponencialmente, mesmo fora do Paço a partir de 1º de janeiro de 2017. O futuro prefeito de São Bernardo chegará ao 18º andar do Paço com passivo avaliado em R$ 2,5 bilhões (alta de 15,20% em relação a 2016). Para 2018, há possibilidade do deficit ser de R$ 2,69 bilhões (acréscimo tímido, de 5,42%).

A LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) permite que municípios tenham dívida que possa comprometer 1,5 vez a quantia do Orçamento. O passivo que Marinho deixará ao seu sucessor corresponde a 44% da peça orçamentária, mas vem acompanhada de sinal preocupante ao próximo prefeito.

Quando questionado sobre o volume do passivo, Marinho diz que há dinheiro empenhado para pagamento dessas contas, que, em sua maioria, são oriundas de financiamentos contraídos para obras na cidade.

Diversos acordos assinados pelo petista têm duração de 30 anos, junto a bancos internacionais, com altas taxas de juros. Apesar do recurso separado, o volume do deficit financeiro pode inviabilizar novos aportes por parte do governo municipal.

Por aliados, petista manobra em outras siglas

Com o PT em crise institucional e com altos índices de rejeição ao partido, o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, principal articulador da legenda no Grande ABC, mira alocar políticos de sua confiança em outras legendas.

O objetivo principal é ter pés em várias canoas a fim de se viabilizar eleitoralmente em 2018, quando ele tentará obter aval do PT para ser postulante ao governo do Estado.

Em São Bernardo, o chefe do Executivo trabalha com candidaturas alternativas, de políticos antagônicos ao petismo, para fazer com que Tarcisio Secoli, secretário de Serviços Urbanos e seu predileto para concorrer ao Paço, comece a subir nas pesquisas. Tarcisio segue patinando nas sondagens, gerando clima de incerteza no diretório local, principalmente porque os deputados Alex Manente (PPS) e Orlando Morando (PSDB) aparecem com amplo favoritismo.

Marinho é o fiador da mudança partidária do único vereador petista de São Caetano, Pio Mielo. O parlamentar já declarou que é “Marinho Futebol Clube” quando o assunto é política partidária. O prefeito de São Bernardo age nos bastidores para tirar Pio do PT e colocá-lo no PMDB, sem risco de retaliação – presidente do petismo de São Caetano, Márcio Della Bella trabalha no gabinete de Marinho em São Bernardo e já foi avisado da tática eleitoral.

Outra jogada política de Marinho é em Rio Grande da Serra. O prefeito Gabriel Maranhão (PSDB), atual presidente do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, recebeu sinalização do colega petista de que não haverá apoio financeiro para campanha ao Executivo de Claudinho da Geladeira (PT). Há, no PT local, dirigentes que defendem que Claudinho se resguarde neste momento e aceite a ingerência de Marinho na cidade.