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Figurinhas da Copa transformam-se em mania
Dérek Bittencourt
Do Diário do Grande ABC
24/05/2010 | 07:15
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Febre no Brasil e no mundo, o álbum de figurinhas da Copa da África do Sul conquistou pessoas de todas as idades, raças, credos, classes sociais e, inclusive, profissões. De estudantes, frentistas de postos de combustível, padeiros e pedreiros até comerciantes e empresários, é comum ver homens e também mulheres carregando seu montinho de repetidas para trocar em bancas e outros locais.

E até mesmo jogadores de futebol entram na brincadeira e colecionam os cromos de seus companheiros de ganha-pão. O Santo André é um exemplo disso. A dupla titular de zagueiros Halisson e Toninho, o atacante Rodrigão e o assessor de imprensa Renato Sardim são alvo da gozação do restante dos atletas, mas não escondem a satisfação em ter o livro ilustrado.

Enquanto se preparavam para a entrevista e as fotos, os colecionadores não escaparam das brincadeiras dos companheiros. "Pô, só não vai entregar quais são os jogadores e em quais posições jogam, porque senão os adversários não vão respeitar e vão partir para cima", brincou o goleiro Júlio César, de passagem pela sala de imprensa do Estádio Bruno Daniel. Até mesmo o técnico Sérgio Soares deu seu parecer. "Isso mostra o quanto o time é jovem", disse.

Alheios às brincadeiras, os atletas levaram na esportiva. "Tiram mais sarro de mim. Falam que não vim no treino porque estava trocando figurinhas", disse Toninho. "Alguns tiram sarro. Mas, também, trocar no aeroporto é brincadeira", comentou Rodrigão. "Pegam no pé nas viagens. Quando vamos à banca no aeroporto, já acham que vamos comprar figurinha. Aí é a deixa que precisam para zoar o resto da viagem", explicou Halisson.

E não é só antes e depois dos treinamentos que os colecionadores são lembrados pelos demais. "Até brinquei com o Halisson outro dia no treino, que ele havia tropeçado em um bolinho de figurinhas", lembrou Júlio César. "Mas brinco principalmente com o Toninho, que é metido a bravão", emendou o camisa um, que um pouco mais sério justificou o ato dos colegas. "São pais que colecionam pelos filhos. Mas é uma mania que pegou no mundo inteiro."

A mania, aliás, não é de hoje para eles. Rodrigão, por exemplo, desde a Copa de 1990 tem o hobby de colecionar. "E desde então tenho todos os álbuns das Copas de 1990, 1994, 1998, 2002 e 2006 completos", afirmou o atacante, que está a 90 figurinhas de fechar o da edição de 2010. "Mas não sou fanático. Vou com calma", disse.

Halisson, por outro lado, havia parado com o hábito de trocar figurinhas. "Fazia 12 anos que não colecionava. O último foi o de 1998, que não completei. Mas fui para Bauru e ganhei do meu sogro. Logo de cara já comprei o pacotão (embalagem que tem 50 pacotinhos) e comecei", explicou o zagueiro, que completou o livro na quinta-feira com a ajuda das trocas com Toninho. "É o entrosamento perfeito. Trocamos figurinhas dentro e fora de campo", brincou.

Mas ninguém ganha de Toninho. Apesar de ser a primeira vez que coleciona, já completou dois álbuns do Mundial sul-africano e está prestes a fechar o terceiro. "Tenho três porque dois são para meus filhos Antonio Henrique e Guilherme. O meu e o do Antonio estão completos, só falta o outro", argumentou. "É a primeira Copa dos meus filhos e a partir de agora vou colecionar todos para eles", completou o defensor.


Colecionadores desaprovam limite de idade

Quem já não escutou a frase: ‘Álbum de figurinha é coisa de criança?' Na opinião dos colecionadores do Santo André isso não existe. "Chego na banca e vejo senhores, pais e filhos trocando. Não tem idade", disse Halisson. "É um hobby, assim como também coleciono camisas. É um gosto", emendou o assessor Renato Sardim.

"Colecionador não tem idade. Assim como tem quem colecione camisas ou miniaturas, tem quem goste de álbum. Pelo contrário. Imagina trocar figurinhas com o próprio filho?", comentou Rodrigão, que viveu situação curiosa com um dos filhos (tem dois, Yuri e Rodrigo) há poucos dias. "Ele foi me ver na final (do Paulistão) contra o Santos e depois no jogo foi me perguntar se eu tinha repetidas."

Mas existem algumas regras ou vícios, como por exemplo ter o hábito de colecionar apenas os álbuns referentes às Copas do Mundo. "Comprei o da Champions (Liga dos Campeões da Europa) uma vez, mas não é a mesma coisa", explicou Sardim. Outros, ao invés de trocar, têm outros métodos para adquirir as figurinhas. "Eu era fera no bafo e sinto falta. Era assim que colecionava e não na base da troca", admitiu Rodrigão, que se utilizava da técnica bafão (ou pastelão, aquela que utiliza-se das duas mãos) para ganhar os cromos na infância, no Colégio Liceu São Paulo, em Santos.


Atletas e treinador revelam satisfação em também ser figurinha de álbum

Colecionar as figurinhas dos jogadores que disputarão a Copa do Mundo da África do Sul é algo bastante representativo para as pessoas que levam esse hábito a sério. Conhecer os nomes completos dos atletas, locais e datas de nascimento, além de outros detalhes, fazem parte de um processo no qual aqueles que compram, trocam e colam os cromos se sentem mais conectados aos ídolos. Agora, imaginem só estar no álbum e ter sua própria figurinha para colecionar. O atacante Rodrigão e o técnico Sérgio Soares já viveram essa situação na carreira.

O treinador andreense, enquanto jogador, chegou a integrar as páginas de livros ilustrados do Campeonato Brasileiro e do Paulistão. "Tenho uns dez álbuns de quando saí pelo Guarani, Palmeiras, Juventus, Gama, Goiás...", relembra Soares, que atuava como volante.

Já a experiência de Rodrigão foi tão marcante, sobretudo para alguém que já era colecionador, que guarda como relíquias e sabe decor o número de seu cromo. "Em 1999, no Santos, foi a minha primeira vez como figurinha. Número 26, lembro até hoje", disse. Para ele, uma recordação para passar às próximas gerações da família.
"É legal para mostrar aos filhos. Ainda não tive a oportunidade, mas é bacana porque vão ver que o pai, além de figura em campo, foi figurinha fora dele", explicou o atacante "E serve até para inspirar caso queiram seguir a carreira de jogador", completou.

Geralmente, quando os atletas são fotografados, recebem um exemplar do álbum já completo. No entanto, segundo Rodrigão, vale depois ver os parentes tentando encontrá-lo no conteúdo dos pacotinhos. "É legal. Principalmente para a família, que tentava me tirar para ter de recordação", disse Rodrigão. "Ser figurinha é motivo de orgulho para mim e satisfação para a família", afirmou.

Sérgio Soares, por sua vez, tentou acabar com o mito dos cromos impossíveis usando um caso pessoal. "A minha figurinha no Guarani era muito difícil. Tive de ralar muito para conseguir. No fim, troquei com um cara", concluiu.

AMIGOS E RIVAIS
Folheando o álbum da Copa deste ano, Rodrigão parou em algumas seleções. México, Paraguai, França, Gana e Brasil foram conferidos atentamente pelo jogador. Motivo: procurar amigos e rivais. "Conheço o Robinho, o Ronaldinho Gaúcho e o Júlio Baptista. Já joguei com o Elano, no Santos, com o Lúcio, no Internacional, e com o Pepe, no Marítimo (de Portugal)", comentou.

"Esse goleiro do México (Ochoa) é muito bom", afirmou, lembrando-se do confronto entre Indios Juárez, time que defendeu no ano passado, e América, equipe do arqueiro.




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