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Procura por cabeleireiro leva até 1 ano
Alexandre Melo
Do Diário do Grande ABC
03/07/2011 | 07:46
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A evolução da renda da população, principalmente da classe média, encheu os salões de beleza do Grande ABC e alavancou a receita dos empresários. O que não cresceu na mesma proporção foi o número de profissionais nos estabelecimentos, que têm vagas, mas não acham pessoas qualificadas para os postos. A busca por trabalhadores pode chegar a até um ano.

Não é possível estimar quantas oportunidades estão em aberto. Grande fatia dos 4.500 salões que funcionam na região precisa de cabeleireiros especializados em química e penteados, além de manicures que saibam fazer unhas decoradas.

O empresário Renato Botelho tem investido na ampliação do negócio, mas sempre esbarra na carência de mão de obra. "Para contratar um profissional com amplo de técnicas de pintura levo entre seis meses e um ano. Encontrar manicure é ainda mais difícil, pois muitas trabalham por conta."

Há três meses Maria Edineide de Oliveira abriu um pequeno salão no bairro andreense Cidade São Jorge. Até agora ela não encontrou a pessoa adequada para fazer cortes masculinos. "Não adianta ter alguém que dê prejuízo. Durante 15 dias a pessoa mostra o que sabe fazer e se der certo é contratada."

Enquanto não encontra o cabeleireiro ideal, Neide finalmente vê a clientela aumentar com a chegada de sua manicure, selecionada após checar várias referências no mercado. Ela está contente, visto que o serviço está atraindo mais freguesas para o estabelecimento. São atendidas em média 15 pessoas por dia.

MERCADO

Segundo o presidente da Associação de Cabeleireiros do Grande ABC, Benedito Xavier, de cada 100 pessoas que se formam em cursos profissionalizantes no setor, apenas 20 seguem no mercado de trabalho. "Muitos investem em negócio próprio, mas a concorrência é forte. Sem conhecimento e clientes, o salão fecha as portas."

Calcula-se que em média 8.000 pessoas trabalhem cortando cabelos na região. Entretanto, a maior parte atua sem regulamentação. Sócio de um centro de estética, Eduardo Aguilar, ressalta que a falta de mão de obra é uma situação crônica no setor. "Somos em nove profissionais que atendem cerca de 50 pessoas por dia. Damos conta do recado, pois não encontramos gente qualificada. A principal carência é de manicure."

A alta na renda garantiu à classe C cuidar mais da vaidade e elevar os gastos com produtos de higiene e beleza. Tanto que o Brasil é o terceiro mercado mundial para cosméticos, ficando somente atrás dos Estados Unidos e Japão, respectivamente. Pesquisa da empresa Data Popular mostra que em oito anos a compra desses itens cresceu 725%, totalizando R$ 19,8 bilhões no ano passado.

Estabelecimentos maiores preparam plano de carreira

Para não perder os talentos treinados durante anos, os proprietários de médios e grandes salões de beleza criaram planos de carreiras para reter os profissionais mais experientes. Em geral todos começam como auxiliares executando funções como lavagem de cabelos e limpeza do salão.

O empresário andreense Ricardo Botelho, proprietário de estabelecimento no bairro Bangu, detalha que os passos seguintes são fazer escova, pintura até chegar ao corte e penteado. "Cansei de não encontrar cabeleireiros preparados para o mercado de trabalho, por isso dou treinamento com duração de um ano e meio a dois anos."

Esta é a mesma estratégia usada por Esaly Beso Brú, que treinou diversas profissionais com o irmão Átila nos 18 anos de funcionamento do salão. "Valorizamos os funcionários ao pagar cursos e lapidar os talentos. A qualidade de ensino das escolas deixa a desejar", afirma. As cabeleireiras começam como assistentes, são promovidas a sênior até chegar ao corte e penteado.

Em São Bernardo, a família Nunes é responsável por 30 colaboradores. Capitaneado por Almiro, o salão atende 1.300 clientes por mês sem esquecer do treinamento dos cabeleireiros. "Neste ano, formaremos mais três pessoas. Elas normalmente continuam conosco por muito tempo, pois fazemos um plano de carreira. Para fazer com que ela trabalhe conforme o posicionamento da empresa é preciso cerca de dois anos de capacitação."

Salários variam entre R$ 700 e R$ 5.000 conforme experiência

Onze anos de trabalho e três cursos realizados por ano levaram a cabeleireira Elisangela Reis, 34 anos, a um dos postos mais altos no salão que atua. Ela é o braço direito da proprietária Esaly Beso Brú e iniciou a carreira como auxiliar. Hoje, tem seus clientes preferenciais e rendimento médio de R$ 5.000.

 "Dedicação e sede de conhecimento devem ser as características dos bons profissionais. Sempre atualizo meus conhecimentos com cursos de visagismo, técnicas de corte, maquiagem e penteado", enumera.

Entretanto, o piso salarial do setor é bem inferior a esse valor. O presidente da Associação dos Cabeleireiros do Grande ABC, Benedito Xavier, diz que o salário inicial é menor que R$ 700. Há salões que pagam mais para os profissionais experientes. E muitos dos trabalhadores atuam sem registro em carteira.

Associação realiza cursos de aperfeiçoamento em Sto.André

Na intenção de capacitar os trabalhadores do setor de beleza, a Associação dos Cabeleireiros do Grande ABC realiza semanalmente cursos que custam R$ 50 por mês mais matrícula no mesmo valor. O presidente Benedito Xavier conta que no ano passado 250 pessoas participaram dos eventos.

A entidade também passará a oferecer workshops de maquiagem aos domingos e cursos de unhas artesanais. "Poucas escolas ensinam os alunos a fazer cortes desfiados com navalha. Damos ênfase nesses aspectos", pontua Xavier. Interessados nos cursos da associação podem ligar no 4427-7317.

O empresário Renato Botelho é outro que treina profissionais no centro técnico que montou no andar superior do salão. Desde o início do ano, 80 pessoas fizeram cursos que duram até três dias.




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