Aos 72 anos, o diretor Zé Celso Martinez Corrêa não tem medo da morte, mas gostaria de viver por muito tempo. Com o desejo de ter sua obra reconhecida ainda em vida, ele confessa que ultimamente se emociona com facilidade. Na década de 1980, em Brasília, gravou um vídeo bradando os versos do samba de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, que dizia "se alguém quiser fazer por mim, que faça agora". A partir hoje, ele tem seu pedido atendido, com a Ocupação Zé Celso, exposição sediada no Itaú Cultural, que divide com o público toda sua trajetória.

Com 12 espaços cenográficos, a mostra aborda praticamente a vida inteira do diretor, já que traz fotos inéditas de Zé Celso ainda bebê até uma conversa que teve na semana passada pelo Skype com a curadora Elaine César. Além disso, um ambiente é formado com cerca de mil anotações feitas por Zé Celso durante seu processo criativo.

"Ninguém vai ver tudo. Existe um excesso proposital, porque o Zé é um excesso. Ninguém consegue acompanhá-lo por inteiro. Existem mil Zés Celsos", diz Marcello Drummond, ator do Teatro Oficina há mais de 20 anos e um dos curadores da exposição.

A mostra não tem intenção de mostrar um lado mais humano ou outro mais artístico do diretor, até porque, em se tratando de Zé Celso, isso seria impossível. "Existe uma arte de viver. Assim como Oswald de Andrade e (Constantin) Stanislavski eu tento fazer com que minha vida seja uma obra de arte", comenta Zé Celso.

A "ocupação" também tem a oportunidade de reparar erros históricos. Um dos destaques é um ambiente com 17 monitores que exibirão vídeos de Zé Celso durante a década de 1980, período classificado pela crítica como os anos de ócio. As gravações mostram justamente o contrário, revelando um momento de efervescência do diretor e da luta para manter o Teatro Oficina vivo.

Silvio Santos, que seria exposto em um altar de um dos ambientes, acabou ficando de fora da exposição por uma proibição de seu grupo empresarial. Já as cenas de nu serão exibidas em espaço reservado para maiores de 18 anos.