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Tenor Franco Corelli morre em Milão
30/10/2003 | 20:44
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Foto:Divulgação Morreu na quarta-feira à noite o tenor italiano Franco Corelli, uma das mais carismáticas figuras do canto lírico do século XX, conhecido pela aparência de astro de cinema e pela facilidade com que sustentava notas agudas, características que lhe renderam papel de destaque em teatros como o Metropolitan de Nova York e o Scala de Milão a partir da década de 50 até 1976, quando se aposentou. Ele estava com 82 anos e, segundo um antigo empresário, sofria de problemas do coração.

“Ele é o mais visceral e belo tenor da geração pós Segunda Guerra”, disse certa vez o maestro Herbert Von Karajan. “Perdemos um dos maiores tenores de todos os tempos”, disse o colega italiano Carlo Bergonzi.

O repertório de Corelli contava com cerca de 30 papéis, entre eles alguns dos principais personagens do repertório tradicional italiano – Cavaradossi, na Tosca; Calaf, em Turandot; Manrico, em Il Trovatore; Radamés, em Aida; Rodolfo, em La Bohème, entre muitos outros – e alguns franceses, como Romeu, no Romeu e Julieta de Gounod, e Don José, na Carmen, papel com que fez sua estréia em 1951, no Festival de Spoletto, após vencer um concurso em Florença.

Foram os papéis mais conhecidos aqueles que lhe garantiram a adoração do público, em ocasiões como sua estréia, em 1957, no Covent Garden de Londres, quando sustentou por 12 segundos o grito agudo de “Vittoria!” de Cavaradossi no segundo ato da Tosca, fazendo o teatro vir abaixo. O entusiasmo dos fãs, porém, nem sempre encontrou eco na crítica especializada. Para alguns, suas interpretações eram repletas de concessões, que valorizavam a voz em detrimento da música do compositor, evidenciando ainda a completa falta de senso de estilo e conhecimentos musicais do tenor. Seus defensores, porém, como o crítico Harold C. Schonberg, do New York Times, sugeriam que sua voz e suas interpretações tinham uma lógica própria que precisava ser entendida.

O próprio Corelli era uma figura polêmica, conhecida pelo temperamento forte. Tanto que Maria Callas – com quem interpretou uma série de pares românticos – afirmou ter encontrado nele um colega à altura, “com quem podia, de fato, atuar”. Por outro lado, seu gênio forte o envolveu em histórias que entraram para o imaginário do mundo operístico. Em uma delas, durante uma récita de Il Trovatore, saiu do palco para agredir um membro da platéia que o havia vaiado. Contido por seguranças, voltou ao palco a tempo de cantar o que considerou sua melhor versão da ária Di Quella Pira, conclamação à vingança do personagem Manrico.

Corelli era autodidata e um crítico severo dos professores de canto, “gente perigosa”, “uma praga para os cantores”. Ele creditava aos mestres do Conservatório de Pesaro, a quase perda de seu registro mais agudo e, por algum tempo, pensou em se transformar em barítono. Rapidamente, porém, mudou de idéia e tornou-se seu próprio professor, ouvindo gravações de tenores como Caruso, Gigli e Lauri-Volpi e tentando imitar seus estilos e efeitos vocais.

A fórmula, no seu caso, deu certo. No Metropolitan, de Nova York, onde estreou no papel de Manrico, foi o tenor principal durante 15 temporadas, cantando 365 récitas. Uma curiosidade: a estréia de Plácido Domingo no Met, ocorreu devido a um cancelamento de Corelli, uma hora antes do espetáculo.




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