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Cultura e tradição ganham destaque na Vila Assunção

Bairro de Santo André proporciona passeio pelo planeta; possui esporte japonês, teatro e raízes portuguesas

Daniel Macário
especial para o Diário
23/06/2015 | 07:07
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Claudinei Plaza/DGABC


Quem passa pelas ruas da Vila Assunção, em Santo André, já deve ter visto. A região sem sombra de dúvida é uma viagem pela cultura e tradição mundiais. Aliás, quem carrega consigo aquela vontade louca de se aventurar nas coisas que a vida pode lhe proporcionar com certeza deve incluir esse pedaço do município na sua rota.

É em volta de tanta globalização que uma antiga paixão dos japoneses se instalou no bairro, o gateball. Criado em 1947 no Japão, logo após a Segunda Guerra Mundial, por Eiji Suzuki, o esporte coletivo tornou-se uma das grandes atrações da Vila Assunção.

Localizado na Avenida Dr. Antônio Álvaro, desde 1980, um espaço que oferece gateball recebe durante toda semana moradores de diversos bairros, em sua maioria idosos. Com quatro campos para a prática do esporte, o lugar é para muitos um estilo de vida, como é o caso do aposentado Benedito Luiz Castelli, 62 anos.

“O mais interessante daqui é a parte social. Antes de vir aqui, só conhecia um japonês, que foi padrinho do meu casamento. Agora conheço vários. Sempre estou aqui. Tudo isso virou um estilo de vida. Você vive o gateball”, afirma Castelli.

Segundo o aposentado, o espaço é mantido pelos próprios frequentadores. “Como diariamente tem gente aqui, nós é que realizamos a manutenção. No campo, eu que faço o nivelamento, outros, a plantação de árvores, organizam café da manhã. É tudo em grupo.”

Aliás, o espaço é definitivamente liderado por descendentes de japoneses. “Aqui, 99% têm familiares do Japão e 1% é de brasileiros. Mas são muito interessantes essa cultura e tradição deles. Você acaba aprendendo bastante.”

Apesar de o espaço receber em alguns torneios cerca de 80 participantes e de fazer parte do calendário do Jotisa (Jogos da Terceira Idade de Santo André), Castelli acredita que o ambiente pode ser mais bem aproveitado. “Os jovens têm muito receio por achar que é esporte de idosos. O jogo não tem uma nova geração. Aqui mesmo só tem pessoas, em sua maioria, acima de 70 anos. Mas é importante ressaltar que todos podem participar. Estamos pensando inclusive em incentivar escolas próximas a trazerem crianças aqui para aprender, pois é um esporte simples.”

O gateball é jogado em uma quadra retangular de 20 m a 25 m de comprimento e 15 m a 20 m de largura. São três gates (arcos) e um goal pole (pino central). É disputado por dois times, vermelho e branco, de cinco jogadores cada.

Os atletas possuem bolas numeradas correspondentes à ordem de jogo. As bolas vermelhas são ímpares e brancas pares. Os times marcam um ponto por bola rebatida com o stick (taco) que atravesse um gate e dois pontos por atingir o goal pole. Um jogo de gateball tem duração de 30 minutos.

Companhia de teatro oferece várias manifestações culturais

Que tal expandir a curiosidade e a experiência do universo ao qual pertencemos? Ou até mesmo frequentar um espaço de diversidade e dialética? Pois bem, é com esses valores que a Escola Teatro Cia do Nó encanta e atrai cada vez mais jovens e adultos interessados em expandir sua perspectiva pelo mundo como um todo.

Há dez anos na Vila Assunção, o local, além de oferecer aulas de teatro, tornou-se um espaço cultural. Na companhia são realizados peças, encontros para debates, intervenções como flash mob (espetáculos em locais com grande circulação de pessoas), além de a companhia contar com biblioteca interna.

“Ao longo do tempo notamos que as pessoas gostavam de ficar aqui. Entendemos que era necessário criar um espaço que suprisse as necessidades delas. Foi aí que criamos esse conceito”, relata Sila Rocha, 35 anos, que ao lado de Esdras Domingos, 50, administra o local.

Segundo Sila, o principal objetivo é a troca de experiência. “Acho importante esse espaço, pois muitas pessoas acham que aqui no Grande ABC não temos ambientes culturais e recorrem a São Paulo. Pelo contrário, aqui eles têm essa possibilidade de encontrar tudo isso e discutir sobre tudo.”

Para Domingos, o mais importante é que o ambiente consegue integrar pessoas de diversas idades. “Debatemos assuntos com jovens de 10 anos junto com pessoas mais velhas. Isso que é bacana. As escolas não têm mais essa discussão de ponto de vista”, revela o administrador, que ainda ressalta a importância dos encontros. “Em algumas ocasiões, as pessoas chegam aqui com violão e ficam a noite toda, inclusive dormem, pois alguns não têm como voltar para casa. É um interação cultural imensa.”

A vontade pela arte é tanta que neste ano o espaço inclui aulas de circo. As inscrições para o teatro, que aceita alunos a partir de 5 anos, será iniciada em novembro. Entretanto, no fim do ano em todos os fins de semana o espaço tem em cartaz peças de alunos de forma gratuita.

“Todas nossas peças levam à reflexão. O mais importante é mergulhar na história”, relata Sila.

Portuguesa descobre o encanto das flores

Após trabalhar com fogos de artifício e viver até os 22 anos em Portugal, Maria Leonor Vieira, 76, encontrou na Vila Assunção, em Santo André, o que realmente gostaria de fazer. Florista há 50 anos, dona Mariazinha, como é conhecida, relata que o Brasil foi uma grande porta da esperança na sua vida.

“Sempre trabalhei com fogos. Quando vim para cá percebi minha vocação. Hoje não saio daqui para nada, somente volto para minha terra natal para passear”, relata.

Apesar de ter comércio localizado em frente a cemitério tradicional de Santo André, a florista relata uma especialidade peculiar. “Sou muito famosa por conta dos meus buquês de casamento. Muitas noivas me procuram em razão desse serviço. Aprendi com meus parentes.”

Com longa experiência, Maria chega a afirmar que acredita na importância que a flor tem no processo terapêutico para algumas pessoas. “Muitos vêm aqui e conversam com as plantas. Eu mesmo faço isso. É só olhar para elas que você fica feliz. A flor inspira é algo muito valioso para todos”, ensina.

De acordo com a florista do bairro, apesar da variedade de produtos oferecidos na floricultura, as tradicionais são as que mais encantam. “As minha prediletas são as rosas. Elas podem formar diversos desenhos e são belas. Além disso, gosto das margaridas e cravos, que são tradicionais da minha terra natal.”
Para ela, a Vila Assunção foi um grande acerto em sua vida. “Aqui as pessoas são companheiras e simpáticas. Não tem coisas melhor do que viver aqui. A única coisa que está precisando é de mais segurança”, destaca a florista, portuguesa de nascimento, andreense de coração. 




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