Quem fez o encerramento da Virada Cultural Paulista na noite de ontem, com show previsto para as 18h, foi a banda Cachorro Grande que, além de relembrar clássicos da carreira, daria ênfase no quinto disco, chamado Cinema.

O conjunto gaúcho também fará a abertura do show do Aerosmith em São Paulo, no dia 29. O convite foi recebido com alegria. "É uma das maiores bandas de rock de todos os tempos. Também temos tradição de tocar para conjuntos gringos (já abriram Oasis). Mas ainda rola um frio na barriga", disse o baixista Rodolfo.

Antes de Cachorro Grande, tocou a banda Nhocuné Soul, de Santo André, que fez show baseado nos discos Samba Rap Periférico e Amando e Sambando, além de novidades. São faixas do próximo álbum, que deve ser lançado até o fim do ano. "É um disco mais voltado para o suingue e o samba rock. Os anteriores são bem heterogêneos", comparou o guitarrista Luiz.

No começo da tarde, sem público grande, a cantora Negra Li mostrou, às 14h30, porque é conhecida como diva da black music, inclusive falou sobre o assunto ainda no ônibus da banda: "Fico lisonjeada com o título que demonstra carinho".

Houve gente que chegou bem cedo para ver a cantora. Esse foi o caso da doméstica Maria José da Silva, de São Bernardo, que já estava próxima ao palco às 13h10. "Eu assisti a Negra Li na televisão e achei muito legal. Por isso, estou aqui debaixo de chuva. Quero vê-la pessoalmente", disse. Mas, pouco antes do show, não havia garoa. O sol apareceu e amenizou o frio.

A abertura do show no Paço ficou por conta do marido, o guitarrista Julio Dread, que também entoou a música Billie Jean, popularizada na voz de Michael Jackson. Espetáculo a parte foi o trabalho das bailarinas, que mostraram passos consagrados pelo Rei do Pop. A saideira foi o sucesso Você Vai Estar na Minha.

SÁBADO
A virada no Paço ficou por conta da banda Raimundos, que subiu ao palco às 23h55, com o guitarrista Digão no vocal. Neste momento, o público já era considerável.

Este foi o show mais aguardado da noite, que prometia mandar o frio embora. Digão até desafiou a plateia a tirar a blusa para rodá-la no alto. E não é que alguns atenderam ao pedido? O público cantou em coro, bateu palmas e balançou os braços durante mais de uma hora de sucessos, como Mulher de Fases. Antes do show, Digão comentou sobre as diferentes gerações que os acompanham. "Vemos que nosso público se renova. A internet ajuda bastante. Bandas novas também falam da gente".

Entre os fãs, estava o músico Fernando Mendes, de São Bernardo, que não segurou a emoção. "Eles são a melhor banda do mundo. Os caras souberam manter a linha com a saída do Rodolfo." Depois de conferir o show na Virada em São Paulo, não poderia perder este na cidade onde mora. "Vou a todo show. Eles podem contar comigo. Sempre estarei na plateia", garantiu.

A banda Social Chaos, de São Bernardo, antecedeu Raimundos. O som agressivo, mais tarde elogiado pelo guitarrista Digão, é calcado no punk dos anos 1980. Foram apresentadas músicas de protesto, engajamento político, como Herança Maldita e Experimentos.

Em entrevista depois do show, o vocalista e baixista Borello comentou a dificuldade para a banda, com discografia ampla em 10 anos de formação, se apresentar na região: "É difícil principalmente em eventos públicos. Não existe muita abertura para nosso estilo de música." Durante as canções pesadas, eram formadas rodas de ‘bate cabeça' na plateia.

O Teatro Elis Regina também recebeu uma série de espetáculos de dança e teatro, além de intervenções. No sábado, às 21h, a apresentações foi da Companhia de Danças de Diadema, que exibiu a coreografia La Vie em Rose???, inspirada em canção homônima de Edith Piaf. Os movimentos retratavam as incertezas humanas.

A apresentação foi elogiada. "Fantástica. É um orgulho saber que é da região um trabalho digno do primeiro mundo", opinou a assistente social Doraci de Matos, de São Paulo. A aposentada Neri Alves, de São Bernardo, reconheceu o trabalho de todo o elenco. "Sei que esses meninos se esforçam muito."

A segundo conjunto a se apresentar no Paço foi a banda Chico Antronic Embola Dub, formada há um ano na Capital, que exibiu uma mistura exótica da embolada com a música eletrônica. O primeiro disco, chamado Tatto, fazia um convite para ninguém ficar parado. Sobre a Virada, o vocalista Dan afirmou: "É uma ótima janela para a galera ver as bandas que estão começando".

Quem deu a largada ao evento, no Paço de São Bernardo, foi a cantora Rhaissa Bittar, que divulgou o recente álbum de estreia Violà em primeira apresentação no Grande ABC. "O disco passeia por diversos tipos de música (como tango, rock e choro) e conta várias histórias do cotidiano", adiantava a jovem compositora, no camarim.

O show, iniciado às 18h30 de sábado, foi para poucos, devido à garoa forte, mas merecia ser visto por uma multidão, mesmo debaixo de chuva. Rhaissa, 20 anos, está no início da carreira, mas já mostra performance de uma veterana, tamanha é a sua afinidade com ritmos.

Protegida, sob um grande guarda-chuva colorido, a atriz Talita Cabral, de Santo André, arriscava cantar alguns trechos, como da música Dig Dom, enquanto balançava o corpo. "Há três dias, o CD está no carro. Já peguei algumas letras. Ela está no começo e certamente vai embora", apostou.

BALANÇO
Segundo a parcial de público feita pela Secretaria do Estado de Cultura, referente ao período das 18h às 7h, cerca de 16.600 pessoas passaram pelos espaços de atividade cultural oferecidos em São Bernardo. A atração que obteve maior público estimado foi Raimundos, com 5.000 na plateia. O número final não foi divulgado até o fechamento desta edição. De acordo com Polícia Militar, instalada no Paço, não houve ocorrências.