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Médicos de convênios adiam consultas como forma de boicote
Luciana Sereno
eRenata Gonçalez
Do Diário do Grande ABC
07/06/2004 | 21:01
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Embora seja baixa a adesão explícita dos médicos da região ao boicote a 22 operadoras de saúde, há profissionais adiando consultas já agendadas. “É uma forma de o médico evitar um processo por quebra de contrato e até o descredenciamento. Ele não se recusa a atender, mas não está emitindo as guias”, explica o presidente do Movimento Médico do Grande ABC, Romildo Gerbelli, para quem o adiamento das consultas não deixa de ser uma adesão ao boicote dos planos de saúde. Num movimento que começou há dois meses, os médicos reivindicam reajuste dos valores pagos por consulta pelas operadoras. Na última quinta-feira, a categoria decidiu aumentar de 18 para 22 o número de convênios que devem ser boicotados como forma de pressão.

A estratégia do adiamento das consultas é classificada como uma espécie de “greve branca” pelo comerciante Cláudio Gianni, da Vila Assunção, em Santo André. Conveniado ao Saúde ABC, ele conta que a consulta ginecológica de sua filha foi adiada por três vezes em um período de 20 dias. “Entendo os reagendamentos como uma forma de paralisar sem assumir. Acho falta de respeito porque o convênio se nega a explicar o que está havendo. Acho que vou cancelar o contrato”.

A decisão dos médicos em postergar o atendimento, para Gerbelli, visa evitar que o paciente seja prejudicado por completo. “É a esperança por um acordo do convênio. Ele está dando mais prazo”.

Nesta segunda, o Diário percorreu dezenas de clínicas e consultórios médicos em Santo André e São Bernardo. A maior parte deles funciona em áreas de grande concentração de estabelecimentos de saúde e seus profissionais, na maioria, não suspenderam o atendimento. Em Santo André, o Diário percorreu clínicas nos bairros Jardim e Vila Assunção, que também reúnem endereços de diversos consultórios e clínicas médicas, e encontrou dois especialistas – oftalmologista e ginecologista – que paralisaram o atendimento de associados da Unihosp e Medial Saúde.

Em São Bernardo, nas proximidades da avenida Lucas Nogueira Garcez, no Jardim do Mar, pacientes que possuem planos Amesp, Santa Helena, Interclínica e Intermédica (plano padrão) – convênios que estão entre os 22 boicotados – conseguiram passar pela consulta e fazer exames normalmente. À reportagem eles afirmaram que não sofreram restrição de atendimento.

Entretanto, algumas pessoas optaram por fugir do risco antes de prejuízos maiores. É o caso do manobrista Manoel Alves da Silva. Sem conseguir agendar cirurgia no nariz para remoção de carne esponjosa, pela Amesp (convênio ao qual foi associado por 20 anos), Silva cancelou o contrato e ainda não decidiu para qual plano de saúde vai migrar. “Do que adianta pagar para não ser atendido?”. Por mês, o plano familiar do manobrista custa cerca de R$ 300.

Denúncia – Os médicos que não estão aderindo ao movimento estão sendo denunciados ao CRM (Conselho Regional de Medicina). Segundo Gerbelli, até o momento, 70 nomes foram levados ao órgão. Os médicos denunciados devem passar por um processo ético. “Trata-se de uma luta de classe e o código de ética reza que o profissional apóie a classe.” De acordo com o presidente do movimento, quatro artigos do Código de Ética de Medicina vetam ao profissional a possibilidade de não aderir a manifestações da classe. “Além disso, há ainda a Resolução 1676/03 que estabelece como remuneração mínima aceitável a CPHPM (Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos)”.

Para o procurador da justiça Marco Antônio Zanellatto, a ameaça ao médico que não participa do boicote é uma prática abusiva e pode ser enquadrada como crime de constrangimento ilegal. No Ministério Público Estadual ainda não há registros de que os médicos do Grande ABC estejam sofrendo pressões por parte do CRM, entretanto, Gerbelli, do Movimento Médico do Grande ABC, disse que estão programados piquetes em frente aos consultórios dos profissionais que estão atendendo normalmente associados aos planos de saúde alvos do boicote.




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