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Donos da Brasil Telecom se desentendem
Do Diário do Grande ABC
17/06/2000 | 14:46
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Duas reunioes de mais de quatro horas cada - na noite e tarde das últimas quinta e sexta-feiras, respectivamente - nao bastaram para aparar as arestas do banco Opportunity e da Telecom Itália, donos da Brasil Telecom, que atende a telefonia fixa de todo o Centro-Oeste, mais Acre, Rondônia, Paraná e Santa Catarina.

Os dois nao conseguem chegar a um acordo sobre o preço a pagar pela Companhia Riograndense de Telecomunicaçoes (CRT). O entrave acontece porque um dos sócios, nesse caso, os italianos, quer desembolsar US$ 850 milhoes pela operadora do Rio Grande do Sul, quando o negócio estava praticamente fechado por US$ 720 milhoes.

Tanto o banco quanto a Telecom Itália identificam a CRT como um negócio fundamental para os planos da Brasil Telecom, cuja maior parte do capital (62%) pertence ao Opportunity. Fundamental porque deixaria a empresa com a carteira recheada de clientes do antigo sistema Telebrás na segunda fatia mais rentável do mercado brasileiro, o centro sul do país. E, melhor, segundo executivos da operadora, consolidaria as interligaçoes com todo o Mercosul e países andinos.

A aquisiçao da CRT, portanto, trata de um plano de longo prazo, precisamente para dar tamanho à Brasil Telecom antes que o mercado seja completamente aberto - as operadoras poderao atuar uma nas áreas das outras -, o que está previsto para 2002.

Outro comportamento - O desentendimento sobre a CRT nao é recente e nem inédito nas relaçoes entre os sócios. É apenas o mais urgente, porque a Agência Nacional de Telecomunicaçoes (Anatel) determinou que os dois resolvam o assunto até a próxima segunda-feira. Se nao o fizerem, a agência pode intervir na CRT, que atualmente é controlada pelos espanhóis da Telefônica.

O fato é que a atuaçao da Telecom Itália na administraçao da Brasil Telecom mudou desde que a empresa italiana foi adquirida pela Olivetti, no segundo semestre do ano passado. De sócia minoritária, a companhia se tornou uma espécie de competidora interna. Quer assumir o controle no lugar do Opportunity, considerado pelo comando da Telecom Itália apenas como o ``financista' do grupo. A tática para tanto é conhecida.

O acordo de acionistas vira uma máquina para transformar a insatisfaçao do sócio numa proposta de venda do capital. Diante disso, nao foi à toa que a Brasil Telecom aprovou o uso do ágio pago na privatizaçao para abatimento de imposto de renda com dois meses de atraso em relaçao às demais. ``Os italianos protelaram a decisao, usando entraves jurídicos previstos no acordo de acionistas', revela uma pessoa que costuma ouvir confidências do banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity.

Há outros episódios. Ainda com o nome de Tele Centro Sul, a Brasil Telecom decidiu adquirir a Vicom, fabricante de equipamentos de infra-estrutura de telecomunicaçoes. O negócio foi vetado sumariamente pela Telecom Itália, numa das reunioes do conselho de administraçao. Os italianos achavam que a operaçao era cara demais. A Vicon acabou comprada pelas organizaçoes Globo, em sociedade com a própria Telecom Itália.

Além disso, os italianos desprezaram pelo menos vinte convites oficiais do Opportunity para participar do projeto do banco na Internet - o portal IG. E acabaram tornando-se sócios da Globo.com, portal das Organizaçoes Globo. ``Traiçao total', teria dito um diretor do Opportunity ao saber da entrada do sócio na internet brasileira por outras maos que nao as suas.

Negócio paralelo - Aos brasileiros, incomoda também o episódio no qual a Telecom Itália desconsiderou o advogado Joao de Orleans e Bragança como seu representante no conselho de administraçao. Ele havia sido nomeado antes de a Olivetti assumir a empresa.

Sob nova administraçao, os italianos afirmam que nao reconhecem a assinatura de Bragança. O que cria alguns constrangimentos, haja visto que foi ele quem representou os italianos no contrato do financiamento de US$ 500 milhoes concedido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para que o consórcio liderado pelo Opportunity arrematasse a Tele Centro Sul. Credor, o BNDES acompanha o entrave de perto. ``A coisa está feia por lá', diz uma fonte do banco. ``Mas por enquanto, nao vamos intervir.'

Sobre a CRT, sabe-se apenas que sua compra pela Brasil Telecom estava fechada quando a Telecom Itália procurou os espanhóis e, passando por cima das negociaçoes tocadas pela diretoria a mando do conselho de administraçao, ofereceu um valor maior, prontamente aceito pelos vendedores. O ``pepino' vai custar US$ 130 milhoes, se vier a ser oficializado. As negociaçoes entre os compradores continuam.

A interlocutores próximos, Daniel Dantas vem dizendo que nao só pretende continuar a frente da Brasil Telecom, como é tao comprador quanto os italianos. Ele já chegou a fazer uma proposta oficial pelas açoes do atual presidente da Telecom Itália, Roberto Colaninno, que a recusou. Agora, os dois sao compradores. Por isso mesmo, nao conseguem se entender no dia-a-dia da operadora.




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