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Gays marcham em Roma sob fogo cerrado do Vaticano
Do Diário do Grande ABC
07/07/2000 | 18:27
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A previsao dos organizadores da Jornada Internacional do Orgulho Gay é de que nesta sexta-feira - a partir das 16h - pelo menos 200 mil homens e mulheres homossexuais marcharao pelo centro histórico de Roma.

"A verdade é que para nós, mais do que os números, serao as pessoas a decretar o sucesso de uma intensa semana de conferências, debates, concertos, exposiçoes e de convivência que realizamos nesta cidade antiga e ilustre. Valem muito mais a presença e a participaçao de pessoas que já chegaram ou estao chegando do Zimbábue, da Rússia, da Romênia, da Austrália, do Brasil, do Japao e da India para marchar ao nosso lado. Os números nunca nos interessaram. Nao perderemos tempo com a contagem dos gays que estao desembarcando no aeroporto, de vôos procedentes de Londres e do resto do mundo', disse Imma Battaglia, presidente do círculo cultural homossexual Mario Mieli.

A entidade gay foi uma das responsáveis pela organizaçao de um evento que o Vaticano, o episcopado italiano, os partidos católicos da coalizao de centro-esquerda que apóia o governo e da oposiçao de direita fizeram tudo para impedir que se realizasse em Roma, neste ano santo do jubileu.

Dominada pela euforia criada pela autorizaçao da polícia para que o cortejo desta sexta-feira dos gays possa passar diante do Coliseu - que até a manha desta quinta parecia irremediavelmente proibido - Imma Battaglia chamou a atençao dos jornalistas para o importante significado que a parada desta sexta assume para o movimento mundial dos homossexuais:

"Ninguém esqueça ou ignore que vencemos em todas as frentes: contra os conservadores, os racistas, os carolas, os fascistas, a Casa das Liberdades (novo nome da coalizao dos partidos de direita liderada por Sílvio Berlusconi) as hierarquias eclesiásticas e inclusive contra a esquerda moderada. Todos unidos e empenhados em tornar Roma uma cidade fechada para o 'Gay Pride', apontou Battaglia.

O mais decidido e incondicional apoio político à Jornada Internacional do Orgulho Gay foi dado pelo partido dos democratas de esquerda, principal força da maioria governista e maior herdeiro do ex-PCI. Nesta quinta-feira, os mais importantes líderes italianos do movimento fizeram questao de agradecer ao secretário dos democratas de esquerda, Walter Veltroni, a quem transmitiram um agradecimento especial, sobretudo pela decisao que anunciou, em artigo publicado na primeira página de 'La Repubblica', de marchar ao lado dos gays nesta sexta à tarde.

Veltroni nao será o único político nem o único personagem público a apoiar a marcha que se iniciará ao lado da Pirâmide de Cestio, do século XII Antes de Cristo, e se encerrará no Circo Massimo, entre o Palatino e o Aventino, uma área enorme que desde os tempos da Roma Imperial podia receber 250 mil pessoas. Na primeira fila do cortejo se encontrará também a ministra da Igualdade de Oportunidades, a comunista Katia Belillo, assim como parlamentares de diversos partidos (inclusive dois da direita chefiada por Berlusconi), atores e atrizes como Isabella Rosselini, filha de Ingrid Bergman e Roberto Rosselini, e Maria Grazia Cuscinotta.

Entre as várias adesoes importantes que a semana romana do 'Gay Pride' recebeu, nao se pode esquecer a de dom Luigi Cioti, sacerdote católico que em Turim e em toda a Itália há muitos anos se impôs como um mais combativos defensores dos discriminados e excluídos, sejam eles drogados, emigrantes africanos e asiáticos, aidéticos ou doentes mentais. Com uma carta de quatro páginas, lida num dos simpósios promovidos esta semana em Roma pelo movimento gay, dom Cioti - ignorando todas as recomendaçoes e censuras feitas pelo Vaticano em nome do papa - fez saber aos gays: "estou com vocês. Estou ao lado de quem tem fome e sede de justiça e de quem quer uma Igreja sempre mais capaz de acolher cada pessoa e defender o direito de quem é pisoteado".




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