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Indústria teme perder gás natural para termelétricas
Daniel Trielli
Do Diário do Grande ABC
30/11/2006 | 22:29
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A visão de que o uso do gás natural se resume apenas à geração de energia pelas termelétricas pode prejudicar a indústria nacional. Pelo menos é isso que ficou latente nas preocupações apontadas por empresários e especialistas do setor de produção e distribuição do insumo, que participaram quinta-feira do seminário Suprimento de Gás, organizado pelo IIR (Institute for International Research).

No evento, o diretor-presidente da Bahiagás, Petronio Lerche Vieira, indicou que o Plano Nacional de Energia – documento elaborado pela EPE (Empresa de Pesquisas Energéticas) que marca a estratégia do setor até 2030 – vê o gás natural apenas como insumo para produção de eletricidade. “Essa mentalidade está mudando, mas ele ainda é considerado como combustível para termelétricas”, disse. Mas além disso, e do uso para a produção de GNV (Gás Natural Veicular), o gás natural é muito utilizado pelas indústrias para geração própria de energia e também como matéria-prima para o setor químico – seja na fabricação de fertilizantes, formol, vernizes e vários outros produtos.

O segmento, aliás, estava representado no evento. O diretor da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), Carlos Alberto Lopes, foi o que mais veementemente reclamou da suposta falta de atenção do governo em relação à necessidade do gás natural pela indústria química. “Se deixar de entrar um metro cúbico de gás na fábrica, não tem produção. Não existe substituto para o gás natural no setor de gasquímica”, ressaltou Lopes.

A preocupação da indústria se dinamiza ao ser analisada a situação do abastecimento de gás natural do país. De acordo com o presidente da Bahiagás, para as perspectivas a médio prazo do governo se concretizarem (até 2011 produzir 70 milhões de metros cúbicos de gás por dia), todos os projetos de exploração têm de dar resultado positivo, ou haverá desabastecimento.

Alternativa – Para tentar diminuir um pouco os efeitos da escassez de gás natural no mercado, a Liquigás apresentou sua sugestão. Embora seja uma distribuidora de GLP (Gás Liquefeito de Petróleo, que não é a mesma coisa que gás natural), a empresa desenvolveu um sistema para elaborar um substituto bem parecido ao insumo em falta.

Trata-se do Flexgás, uma mistura de GLP e ar. O benefício dessa mistura é ter um combustível de “reserva” com as mesmas características que o gás natural. A única coisa necessária para o uso do Flexgás é um espaço da fábrica onde são montados tanques de GLP e equipamentos de mistura do ar com o gás derivado de petróleo. Esse sistema fica em stand by para o caso de interrupção do fornecimento de gás natural. Então é só ativar o Flexgás e a fábrica continua em produção normal.

“A idéia do Flexgás não vem como uma solução ao problema, porque a quantidade disponível não é suficiente para resolver um contingenciamento tão grande”, explica o diretor da Liquigás, Ubiratan Clair. “Também não é um concorrente, porque é mais caro que o gás natural.”

No Brasil, apenas três empresas têm o equipamento instalado: 3M (em São Paulo), a Audi e a Renault (ambas no Paraná). Mas Clair espera que mais companhias adotem o sistema. “Estamos em uma época de transição”, diz o diretor. “Com esses problemas de gás, as pessoas vão ver que é importante ter um ‘seguro’.”



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