Nem mesmo a retirada de R$ 61 bilhões do mercado pelo governo conseguiu barrar o consumo nacional. Mesmo com crédito menos farto e maior dificuldade na aquisição de financiamentos, os brasileiros estão cada vez mais endividados.

Pesquisa feita pelo Instituto Assaf com dados do Banco Central mostra que, mesmo com as modificações no acesso ao crédito, está muito mais fácil financiar hoje do que há dez anos, o que estimula consumidores a buscarem acesso aos financiamentos, mesmo com o aumento significativo das taxas neste início de ano.

O estudo revela que o endividamento em relação ao PIB aumentou 65% em dez anos, pulando de 28,15% da população endividada em janeiro de 2001 para 46,5% em fevereiro.

Em 2001 havia no mercado R$ 17,1 milhões na modalidade de crédito pessoal. Já em fevereiro esse valor saltou para R$ 211,7 milhões, aumento de 1.137%.

Outra coisa que chama a atenção dos especialistas é que não são apenas bens duráveis que aparecem no topo da lista dos financiamentos. Apesar do parcelamento de veículos ter saltado 672% nos últimos dez anos, a dívida do cartão de crédito cresceu 982%, o que mostra bem o impulso como característica no perfil do consumidor.

"Acontece que o cliente compra qualquer coisa, desde que a prestação caiba no bolso. Assim, não se pensa no valor global da dívida, mas sim da parcela", justifica o pesquisador Fabiano Guasti Lima.

Ao longo desses dez anos, mesmo com os juros básicos em valores altos, houve queda de 29% quando comparada a taxa praticada hoje com a do início de 2001. "Embora o crediário esteja mais caro hoje do que no ano passado, isso ainda não diminuiu o consumo de valores mais baixos, como no cartão, por exemplo. A tendência é que com o aumento no juros, isso caia", pontua Lima.

CHEQUE ESPECIAL

Apesar de estar mais barato financiar hoje do que em 2001, os valores anuais do cheque especial estão 10% maiores no mesmo período analisado. As taxas de aquisição de bens, seguiram o comportamento do crédito pessoal e estão 26% menores do que no início do período.

Inadimplência segue em queda, mesmo com alto consumo

Mesmo com a alta no endividamento dos brasileiros, a inadimplência dos consumidores segue em queda. Só nos últimos meses apenas 5,8% do saldo total de empréstimos tinha atraso acima de 90 dias. O valor é muito próximo ao de janeiro de 2001, que era de 5,4%. O aumento do número de parcelas e a diminuição do valor pago são os motivos para que a inadimplência siga baixa. Em 2001, o prazo médio das operações de crédito com recursos livres a pessoa física era de 375 dias. Atualmente o consumidor dispõe de até 563 dias, o maior prazo já concedido para empréstimos pequenos.

"O mecanismo de apuração de risco está mais seguro e isso faz com que a concessão de crédito seja mais segura hoje", observa o pesquisador Fabiano Guasti Lima.

Só neste ano os paulistanos registraram queda no nível de endividamento por dois meses consecutivos. Os resultados da pesquisa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo mostram que o número de famílias endividadas caiu de 48,3% em abril para 45,7% em maio. Em números absolutos, o total passou de 1,7 milhão para 1,6 milhão.

Para especialistas, a queda do endividamento pode ser justificada pela redução da confiança do consumidor nos últimos meses. Atrelado a isso, a melhoria das condições de emprego e renda possibilitou equilíbrio da situação financeira do consumidor.

Entre os clientes com contas em atraso, 46,3% estão há mais de 90 dias, outros 24,8% têm contas atrasadas por até 30 dias, enquanto que 24,4% do total de famílias estão com dívidas sem pagar entre 30 e 90 dias. O tempo médio ficou em 62,87 dias.