Fungo. Foi isso que derrubou o galho da figueira no Parque Celso Daniel e causou anteontem a morte de Leda da Silva Maubrigades, 68 anos. A avaliação é do diretor do Depav (Departamento de Parques e Áreas Verdes) de Santo André, Valdemar Campeão Júnior, que indica a retirada da árvore. Mesmo com o risco da queda de outros galhos, o parque já estará aberto ao público hoje.
Para retirar a árvore do local, a Prefeitura precisa de autorização do Comdephaapasa (Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico-Urbanístico e Paisagístico de Santo André), que tombou a figueira em 1992. A árvore tem 20 metros de altura e quatro metros de diâmetro. A estimativa é de que tenha entre 60 e 100 anos.
Segundo o artigo 24 da lei 9.071/2008, uma vez tombado, um bem cultural não pode ser destruído, demolido ou mutilado sem prévia autorização do órgão. Os integrantes do conselho se reunirão segunda-feira, às 9h, para decidir o que fazer em relação à árvore.
Este é o segundo acidente envolvendo a figueira centenária. Em 2007, um pedaço do tronco caiu e feriu três pessoas. Na ocasião, a árvore foi avaliada por técnicos do Instituto Biológico do Estado de São Paulo a pedido do Comdephaapasa. A indicação foi fazer monitoramento contínuo da planta.
Desde então a figueira passou a ser vistoriada pelo Depav de seis em seis meses, mas, segundo Campeão, era impossível prever a queda. "Os fungos estavam dentro do galho. Não havia nada na parte externa", afirmou.
SEM PRAZO
Campeão disse ter encaminhado documento ao Comdephaapasa no qual indica a derrubada da árvore. "Não tenho como dizer quanto tempo isso vai levar, depende do resultado dos laudos da Defesa Civil e da Polícia Civil."
O prazo para conclusão desse tipo de laudo é de 30 dias. O parque reabre hoje para o público, mas a área da figueira seguirá isolada, segundo informou a Prefeitura, ontem à noite, por meio da assessoria de imprensa.
Segundo o Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico de São Paulo), é dever do proprietário de um bem, no caso a Prefeitura, cuidar de sua manutenção.
Caso isso não seja feito e o patrimônio passe a ameaçar a vida das pessoas, como no caso da figueira, ele pode sim ser removido.
Em dois meses, Prefeitura identifica 21 árvores doentes
O Depav (Departamento de Parques e Áreas Verdes) de Santo André não sabe dizer quantas árvores estão doentes no município. Desde fevereiro, o departamento, que pertence à Secretaria de Obras e Serviços Públicos, realiza o monitoramento das espécies a fim de prevenir possíveis quedas, como a que ocasionou anteontem a morte de Leda da Silva Maubrigades.
Em dois meses foram monitoradas 735 árvores, sendo que 21 delas, ou 3%, estavam doentes. Destas, nove foram derrubadas e 12 passaram por tratamento para controle de pragas.
O diretor do Depav, Valdemar Campeão Júnior, destacou que a prioridade da ação preventiva são as árvores localizadas em ruas de grande movimentação e nos parques. "Assim que é identificada uma árvore doente, o problema é imediatamente resolvido", garantiu.
O morador que suspeitar de uma planta com problemas pode fazer a solicitação de análise ao Depav. O prazo para a primeira visita, conforme Campeão, é de, no máximo, 20 dias.
Cerca de 3.000 árvores são podadas mensalmente pelo departamento.
Especialista garante: é possível identificar contaminações
A contaminação por fungos que ocasionou a queda do galho da figueira no Parque Celso Daniel poderia ter sido diagnosticada. A avaliação é do especialista em melhoramento vegetal e citogenética Ricardo Lombello, da UFABC (Universidade Federal do ABC).
O professor afirmou que, mesmo que a contaminação estivesse por dentro do galho, há um exame simples que detecta o problema. "Basta furar com uma broca, retirar o material e mandar para análise", explicou.
Ainda segundo Lombello, toda árvore contaminada por fungos apresenta outros sintomas, tais como amarelecimento ou queda de folhas em excesso e ressecamento de galhos. "Se a figueira era monitorada, esses sintomas deveriam ter sido percebidos", opinou.
A Prefeitura pode ser processada pela família da vítima, a idosa Leda da Silva Maubrigades. Conforme o presidente da Associação dos Advogados do ABC, Antonio Carlos Cristiano, a responsabilidade pela árvore é da administração. "Se ela está em espaço público, deveria ter recebido cuidados e manutenção", explicou.
Aposentada morta no parque voltava de consulta médica
A aposentada Leda da Silva Maubrigades, 68 anos, gostava de cantar músicas de quando era jovem. Seu canto era apreciado em diversos bares de Santo André. Disposta e sempre alegre, esse era o perfil traçado por amigos e familiares, que velaram Leda na tarde de ontem no Cemitério Jardim da Colina, em São Bernardo.
Leda morreu após galho de uma figueira centenária no Parque Celso Daniel cair em sua cabeça, na noite de quinta-feira. Segundo familiares, a aposentada voltava de uma consulta hospitalar. "Ela sempre fazia aquele caminho quando ia ao médico", disse um parente que preferiu não se identificar.
"Nós fomos amigos por mais de 30 anos. Era muito bom vê-la feliz e cantando", disse a aposentada Lurdes dos Santos, 66 anos.
Outro companheiro de dona Leda, Vicente dos Reis, 68, lembrou que a aposentada morou por alguns anos próximo ao cemitério onde foi velada, Cemitério Vila Assunção. "Ela era uma pessoa muito querida e sempre estava próxima dos filhos", lembrou o amigo. (Renan Fonseca)
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.