Na semana passada, vimos algumas orientações sobre ortografia. No fim do texto, deixei uma pergunta: é possível encontrar viagem e viajem nos dicionários?

Vamos lá, pois. Verbos como viajar, enferrujar, encorajar, arranjar, entre outros, são escritos com j, e não com g, por motivos óbvios. Se trocássemos o j desses verbos por g, teríamos outra leitura, não? Pois bem, se viajar se escreve com j, esse j permanece em toda a conjugação do verbo: eu viajo, eles viajam, eu viajei, caso eu viaje, caso eles viajem etc.

Então existe a palavra viajem, com j? Existe, sim. Como acabamos de ver, viajem é forma do verbo viajar: "Espero que eles viajem agora". E viagem, com g? É o ato de viajar: "Quero que esta viagem seja melhor do que a anterior". Os dicionários registram o substantivo viagem, mas, num dicionário grande, a forma viajem só aparece no verbete viajar (nos dicionários grandes, costuma-se dar a conjugação completa do verbo).

O que ocorre com viajem é semelhante ao que ocorre com encorajem, do verbo encorajar. Como o substantivo coragem se escreve com g, somos tentados a escrever encoragem, também com g, o que está errado. Se o verbo é encorajar, com j, mantém-se o j em todas as conjugações desse verbo: "Espero que vocês me encorajem".

Quer outro exemplo? O verbo enferrujar: "Enxugue bem os talheres, para que não se enferrujem". Dá vontade de escrever com g, não dá? Como ferrugem se escreve com g... Resista à tentação e escreva com j mesmo: enferrujem.

E os verbos terminados em gir, como dirigir ou corrigir? Vamos pensar. Primeiro é bom saber que não existem verbos terminados em jir, com j. Depois, se o verbo se escreve com g, esse g... Epa! Agora, a história é outra. Não é possível deixar o g em todas as conjugações. Quer ver? Conjugue o presente do indicativo de agir, por exemplo. Se usarmos o g em eu ajo, teremos alteração na pronúncia, não é? No caso de ele age, emprega-se o g, porque não é preciso trocá-lo por j. Percebeu?

Moral da história: na conjugação dos verbos terminados em gir, emprega-se o g quando possível, ou seja, sempre que sua presença não provocar alteração na pronúncia. Veja estes exemplos: "Fuja desses programas que mostram a intimidade das pessoas"; "O eleitor brasileiro nem sempre foge de políticos corruptos"; "Eles querem que o professor corrija a prova". Percebeu? No próximo domingo, a gente volta. Até lá.