Do lado do aprendizado, o concerto oferece a rara chance de bolsistas e público entrarem em contato com duas obras importantes da produção sinfônica brasileira. A Sinfonia opus 27 – Sinfonietta de Henrique Oswald (1852-1931) e a Sinfonia Tropical de Francisco Mignone (1897-1986) são expressivos resultados de um dos mais significativos projetos musicais em andamento no país – o Projeto Memória Musical, idealizado pelo violinista Erich Lehninger, que visa resgatar centenas de manuscritos da música brasileira de todas as épocas.
O trabalho não costuma propiciar grandes espaços na mídia e, portanto, não encoraja empresas a patrociná-lo. Por isso, é importante citar que empresas como a Volkswagen, Ultragaz, Infraero, Siemens, Petroquímica União e Banco BNL estão bancando o projeto, que já restaurou 12 obras expressivas da produção sinfônica brasileira.
Em março passado a Sinfônica de Santo André mostrou as duas sinfonias em concertos no Teatro Municipal, todos com a sala lotada. E o fato de agora repeti-las em Campos significa que o trabalho de resgate do Projeto Memória Musical começa a materializar-se de fato. Pois a idéia básica é levar as orquestras, daqui e do exterior, a interpretar música brasileira a partir de partituras confiáveis.
Imperador – As sinfonias brasileiras compõem a segunda parte do concerto, que oferece, na abertura, o célebre Concerto nº 5 para Piano e Orquestra de Beethoven, conhecido como Imperador, apelido atribuído pelo editor da partitura, apesar dos protestos do compositor, que insistiu sempre em chamá-lo de Grande Concerto.
O arroubo nacionalista deveu-se ao período de guerras e invasão da Áustria em 1808/09, época da composição do concerto. É o último e mais ambicioso dos cinco assinados por Beethoven, no qual ele explora todos os recursos do piano moderno (ele acabara de ganhar um robusto instrumento do fabricante inglês Broadwood).
E aí entra a figura do pianista brasileiro Caio Pagano, hoje radicado nos Estados Unidos. Caio, professor titular da Universidade do Arizona desde os anos 80, é um dos mais talentosos músicos brasileiros, e desenvolve notável carreira internacional. Além de sua importante atuação pedagógica, Caio desfruta, em 2002, de seu ano sabático – uma espécie de férias por um ano concedida pela universidade depois de certo tempo de trabalho – de uma maneira formidável. Assumiu a co-direção artística do Centro de Artes Belgais, um projeto visionário da pianista portuguesa Maria João Pires que revoluciona o ensino da música, integrando-a às demais artes e sobretudo à natureza.
Com Maria João, ele tem percorrido as salas mais seletas da Europa em duo a quatro mãos ou a dois pianos. E, além dos dois CDs recentes (Música para Crianças, de Villa-Lobos, e música concertante de Camargo Guarnieri), Caio lança no mês que vem, no mercado internacional, o primeiro CD de seu Trio Thibaud.
Desfruta, portanto, de um momento muito especial em sua carreira, no qual junta os benefícios da longa convivência com a música viva ao amadurecimento pleno como pianista no grande repertório clássico-romântico.
Orquestra Sinfônica de Sto.André – Quarta, às 21h. No Auditório Claudio Santoro – av. Dr. Arrobas Martins, 1.880, Campos do Jordão. Ingressos na Sala São Paulo (tel.: 011-3337-5414 ou Ticketmaster 011-6846-6000), R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada).
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