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Vila América tem enchentes há 20 anos
Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
09/01/2012 | 07:00
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Arquivo/DGABC


Todos os pontos positivos da Vila América ficam em segundo plano. Pelo menos para os moradores da parte mais baixa do bairro, aqueles que sofrem anualmente as consequências das enchentes, principalmente no verão, há pelo menos 20 anos. A reivindicação das pessoas que ainda não abandonaram suas casas próximas ao piscinão instalado na Avenida Capitão Mário Toledo de Camargo é uma só: obras para conter o grande volume de água que desemboca no local.

No último ano foram três cheias: duas no início do ano e uma no fim de novembro. Além dos prejuízos materiais, como portões, muros e carros destruídos, móveis e equipamentos eletro e eletrônicos danificados com enchentes que chegam a atingir dois metros de altura, os transtornos invadem também a vida familiar. "Abala a estrutura de qualquer casamento. Tanto que só permanece morando aqui aqueles que não têm condições de se mudar", confidencia o coordenador de promoção Eduardo Antunes Rodrigues, 38 anos.

Ao circular pelo local, é possível observar diversas casas disponíveis para venda, apesar da desvalorização dos imóveis. Alguns moradores preferem migrar para pontos mais altos e abandonar a própria residência, caso do auxiliar de armazém Eduardo do Nascimento, 36. "Nasci e fui criado aqui, mas não aguento mais. Vou deixar a casa vazia e mudar para a Vila Humaitá", revela.

O descontentamento é visível. Basta uma volta pelo bairro para encontrar moradores cansados dos transtornos anunciados e recorrentes. "De dezembro até abril a gente fica preocupado e até evita sair de casa", destaca o líder comunitário do local, William de Paiva, 44. Segundo ele, falta vontade do poder público, que há anos promete obras de melhorias no local, que nunca saíram do papel. "Demos ideias de construir outro piscinão na Praça 14 Bis ou até mesmo no Carrefour, muro de contenção, mas nada foi atendido", comenta.

 

Melhor - O espaço de 49 m² reúne cerca de 3.500 habitantes, sendo maioria de pessoas da chamada melhor idade. A população da área é atendida pelas Escolas Municipais de Educação Infantil e Ensino Fundamental Carlos Drummond de Andrade, Nicolau Moraes de Barros e José Lazzarini Jr, além da creche Professora Yone Cintra de Souza, todas localizadas na Vila Pires. Há ainda a Escola Estadial Dr. Carlos de Campos, para alunos do quinto ao nono anos. Na área da Saúde, a Unidade Básica de Saúde da Vila Humaitá é a mais próxima.

 

Parte alta do bairro concentra estabelecimentos comerciais

 

Na Avenida Queiroz Filho estão localizados os principais estabelecimentos comerciais disponíveis. Há padaria, salões de beleza, bares, restaurante, farmácias e até mesmo avicultura. Instalada no bairro há 36 anos, a Drogaria Belvedere é um dos pontos tradicionais. Apesar de ter mudado de administração há sete meses, conservou a maior parte da clientela. "Aqui os clientes são bons. O único problema são os assaltos", destaca o balconista do local há 11 anos Jair Reinaldo, 65.

De uns tempos para cá a violência passou a amedrontar a vizinhança. Assaltos aos estabelecimentos comerciais e pedestres ou invasão de casas são registrados em plena luz do dia. O aposentado Severino do Nascimento, 67, revela que a filha teve celular roubado há poucos dias. "A violência está em todo lugar, mas aqui vem aumentando", observa.

Mudanças à parte, Joaquim Pirola, 80, morador da Rua Marechal Rondon desde 1969, ainda se recorda das ruas de terra, casas e ruas sem iluminação e água e esgoto encanado, cenário encontrado por ele e pela mulher quando resolveram construir uma casa no bairro. "Só tenho que falar bem desse lugar", comenta.

 

Estado do Bruno Daniel causa indignação

Um dos principais pontos da Vila América, o Estádio Bruno Daniel segue praticamente em estado de abandono. Conforme matéria publicada no Diário, em 1º de janeiro, as obras prometidas pela Prefeitura de Santo André para agosto foram paralisadas no segundo semestre de 2011 e, desde então, moradores e torcedores do Ramalhão, como é conhecido o time de futebol do município, aguardam solução.

As únicas coisas que vêm sendo feitas é a reforma do gramado e a limpeza das arquibancadas. No caso da grama, o trabalho está a cargo de funcionários da Prefeitura que não têm conhecimentos técnicos para pisos esportivos. Na semana passada, foi publicada portaria que estabelece formação de grupo multidisciplinar e intersecretarial para elaborar estudos que objetivem as intervenções. A ideia é fazer do estádio arena para sediar shows e executar obras para minimizar problemas decorrentes das enchentes no bairro.

Para os moradores, a reforma também os priva de divertimento. "Não podemos nem assistir mais o Santo André", observa o aposentado Antônio Eugênio Fraqueta, 82. Morador do bairro há 59 anos, ele revela que, por enquanto, a única serventia do local é para as caminhadas matinais da população do entorno. "Usamos as pistas de atletismo para andar, enquanto podemos", diz.

Uma pequena praça na Rua Vinte e Quatro de Maio, ao lado de um dos portões do estádio, também merece atenção, segundo a população

 

 

Ademir Medici

 

Homenagem a Américo Guazzelli, morto em 1928

O nome Vila América é uma homenagem familiar a Américo Guazzelli, gente antiga de Santo André. E o bairro é o resultado das primeiras ampliações topográficas da cidade, oficializadas a partir de 1910.

Um círculo que se fizesse no atual mapa da cidade mostraria que esta expansão inicial centenária não ultrapassaria o Cemitério da Saudade. O velho Caminho do Pilar seria limite desta expansão urbana pioneira.

As duas ampliações topográficas seguintes - hoje poderiam ser chamadas de urbanas - ocorreram em 1923 e em 1927. No caso desta última, seriam contemplados vários novos loteamentos, inclusive a Vila América, dos Guazzelli.

Os imigrantes italianos Guazzelli - pai, mãe e sete filhos, quatro homens e três mulheres - chegaram a Santo André em 1907. Antes disso, e a partir de 1893, residiram em São Paulo, no bairro de Santana. Em Santo André, a família adquiriu terras onde estão hoje as vilas Pires e América. Teve armazém na Avenida Dom Pedro I, atual 1.516. Tiveram olarias.

Revenderam as terras onde foi aberta a Vila Pires. E criaram, eles próprios, a Vila América, mais ou menos no ano em que faleceu Américo Guazzelli - 1928. Na área ficava o lago (aterrado) e o espaço hoje ocupado pelo Aramaçan, fundado em 1930 por funcionários municipais. A família permitiu ao clube que utilizasse o espaço e, anos depois, em demanda, a Prefeitura regulamentou a posse pelo clube, indenizando a família.

Da área original da Vila América fazem parte, hoje, além do Aramaçan, o Estádio Bruno José Daniel e o Ginásio Pedro Dell'Antonia, em pleno Vale do Guarará. As terras foram desapropriadas pela Prefeitura em 1948.

As primeiras ruas de Vila América denominam-se Amparo, Angatuba, Colombo, Jaú (uma travessa), São Pedro (da entrada principal do Aramaçan), Sete de Abril, 24 de Maio e 21 de Abril.

 

Depoimento - "Aqui moravam os Guazzelli velhos, pais do Amalio, do Joaquim.

Eles tinham olaria onde agora é o estádio e o ginásio Pedro Dell'Antonia. Quantos anos que nós trabalhamos para os Guazzelli em suas olarias" (Carolina Maziero Nunes, que entrevistamos em 1989).




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