A troca de ofensas marcou a semana dos candidatos a prefeito de Sao Paulo, Marta Suplicy (PT), e Paulo Maluf (PPB), e promete ir até a realizaçao do segundo turno, no próximo domingo. O confronto entre petistas e malufistas já era anunciado antes mesmo do primeiro turno, quando se previa que Maluf e Marta estariam frente a frente na eleiçao que definirá o sucessor de Celso Pitta. Mas o vale-tudo nos ataques pessoais superou as expectativas, especialmente por parte do concorrente pepebista.

Politicamente isolado, sem nenhuma aliança com partidos ou lideranças importantes, Paulo Maluf age como um franco atirador disposto a derrubar sua adversária de qualquer maneira. O candidato do PPB apela para as questoes morais e religiosas e usa todas as armas nessa verdadeira guerra eleitoral. "Católicos e evangélicos que têm vergonha na cara nao votam em quem defende o aborto, como dona Marta", afirmou, referindo-se ao projeto da ex-deputada federal Marta Suplicy, que estende ao SUS (Sistema Unico de Saúde) a obrigatoriedade de atender mulheres grávidas vítimas de estupro ou em risco de vida.

O candidato do PPB nao mede as conseqüências de seus ataques, desde que eles possam diminuir a vantagem da concorrente do PT nas pesquisas de intençao de voto. Paulo Maluf considera pornográfico o programa TV Mulher, da Rede Globo, que Marta Suplicy participou dando orientaçao sexual. "Ela é sexóloga, dava aulas de pornografia", diz Maluf, lembrando críticas do bispo de Jundiaí, d. Amaury Castanho, que chamou Marta de "permissiva", por causa de um livro sobre sexo que ela publicou. "É que educaçao sexual é coisa que Paulo Maluf confunde com pornografia. Pornografia é "estupra, mas nao mata", contesta a adversária, citando frase dita anos atrás pelo seu oponente.

O bate-boca chegou à Justiça, porque o comando da campanha malufista decidiu levar para o programa eleitoral gratuito os ataques que Paulo Maluf tem feito à sua oponente e entrevistas e discursos. O programa político de rádio de Maluf nao foi ao ar quarta-feira por conta de três liminares obtidas pelo PT no Tribunal Regional Eleitoral. Uma determinou a suspensao da propaganda em que sao feitas críticas à adversária na questao do aborto; a outra se refere a uma suposta experiência de Marta com maconha na juventude; e uma terceira liminar suspendeu uma inserçao em que sao usadas imitaçoes das vozes da petista e o presidente do honra do partido, Luiz Inácio Lula da Silva.

A agressividade da atual campanha supera de longe a de 1998 para o governo do Estado, quando se defrontaram no segundo turno Paulo Maluf e Mário Covas, dois adversários políticos que se tornaram verdadeiros inimigos pessoais. Da mesma forma que agora, inferiorizado nas pesquisas, o pepebista passou a ameaçar o tucano com uma fita gravada, segundo ele, contendo revelaçoes que comprometeriam a moral e a ética do concorrente do PSDB. No último debate, transmitido pela Rede Globo, Maluf levou o gravador e o colocou ameaçadoramente em cima da mesa.

O ex-prefeito Paulo Maluf nunca levou a público o conteúdo das gravaçoes, mas todas as vezes que bate-boca com Mário Covas refere-se ao episódio de forma irônica, dizendo que o governador suava em bicas temendo que ele abrisse a fita. Contra a petista, no entanto, os ataques sao mais pesados, embora Maluf diga o contrário: "Nao ofendo, só digo a verdade. Quem ofende e xinga é a dona Marta". O pepebista classificou de "antidemocrática" a decisao do TRE, que impediu sua propaganda de ir ao ar. Segundo ele, a suspensao caracteriza a "volta da censura prévia".

A tendência até o segundo turno é subir ainda mais a temperatura da campanha. Paulo Maluf vai continuar insistindo nas acusaçoes a Marta Suplicy, até porque elas têm dado resultados, diminuindo a diferença entre os dois nas pesquisas. Além de prosseguir nos ataques aos projetos sobre o aborto e a parceria civil entre homossexuais, além do que preconiza a reduçao do tempo de prisao para quem estuda, ele vai espalhar que ela fumou maconha e que o PT é o partido da bagunça. E Marta vai apontá-lo como "mentiroso contumaz".