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Crise faz Caixa reduzir teto de financiamento

A partir do dia 4, compra de imóveis usados
exigirá entrada de pelo menos 50% do valor

Fábio Munhoz
Leone Farias
28/04/2015 | 07:15
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Nario Barbosa/DGABC


A Caixa Econômica Federal vai reduzir, a partir de 4 de maio, o teto do financiamento de imóveis usados. A medida, que exigirá entrada de pelo menos 50% do valor do imóvel pela modalidade mais popular, que utiliza recursos da poupança para oferecer o crédito – e responde por cerca de 90% dos financiamentos em todo o País –, foi tomada em decorrência do atual cenário de crise da economia. Com a caderneta rendendo pouco e a disparada da taxa básica de juros para combater a inflação, que segue elevada, investidores fizeram retiradas recordes da modalidade em março.

No terceiro mês do ano, a poupança registrou saída líquida (diferença entre retiradas e depósitos) de R$ 11,43 bilhões, a maior retirada mensal da série histórica (iniciada em 1995), segundo dados do Banco Central. Com esse montante, houve a retirada de R$ 23 bilhões, ao todo, no primeiro trimestre, o que também é recorde para o período.

Com a poupança rendendo apenas 0,5% mais TR (Taxa Referencial), ontem em 0,1140, desde agosto de 2013, sua atratividade é cada vez menor em vista de outros produtos. O investidor tem preferido modalidades de renda fixa, por exemplo, que tenham seus rendimentos indexados à taxa Selic – hoje em 12,75% e com projeção do mercado de subir para 13,25% na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) de amanhã – e à inflação – em março, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) atingiu 8,13%, a maior desde dezembro de 2003. Desse modo, sobram menos recursos para financiar a compra da casa própria. “A política de ajustes provocou a migração de recursos para a renda fixa, que não financia imóveis”, avalia o professor de Economia da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Volney Golveia.

MUDANÇAS - Para operações com recursos da poupança, a Caixa vai passar de 80% para 50% nas operações do SFH (Sistema Financeiro de Habitação) e de 70% para 40% para imóveis no SFI (Sistema Financeiro Imobiliário), pelo SAC (Sistema de Amortização Constante, em que a prestação começa mais alta e vai caindo ao longo do tempo do contrato). A medida foi anunciada duas semanas depois de a Caixa já ter diminuído o percentual financiável, tanto para novos quanto usados, de 90% para 80%.

Isso significa que quem vai adquirir imóvel usado de R$ 200 mil, só poderá financiar R$ 100 mil, e o restante terá de vir de recursos próprios. Segundo a instituição financeira, presidida pela petista andreense Miriam Belchior, o foco do banco neste ano será priorizar o financiamento de imóveis novos – que vão continuar com a cota de 80% –, com destaque para a habitação popular, por meio das operações do Minha Casa, Minha Vida e com recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).

Para a ex-presidente do Sindicato dos Bancários do ABC e integrante do conselho de administração da Caixa, Maria Rita Serrano, foi preciso tomar a medida porque inclusive as empresas estão retirando dinheiro da poupança, que é a fonte de recursos do SFH. “É ruim, mas é um ajuste necessário. O ideal seria manter como está, mas (o banco) teve que fazer ajuste porque diminuíram as condições para financiar”, diz.

IMPACTOS - Gouveia também avalia como uma medida necessária, para o banco manter relação saudável de crédito frente a seu patrimônio, mas ele considera que é ruim para a população, que terá menos crédito disponível. Com condições menos vantajosas, esse mercado pode desaquecer – e o preço desses imóveis, como consequência, pode cair. De fato, o setor da construção pode ser prejudicado pela medida, avalia a diretora adjunta do SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo) no Grande ABC, Rosana Carnevalli. Para a especialista, antes diminuir o percentual financiável dos usados do que para apartamentos na planta, porém, a medida vai afetar muita gente que já tem imóvel e pretende comprar um maior (por exemplo, porque a família cresceu), quando anunciar seu usado. “Vai dificultar a venda para terceiros e engessar um pouco o mercado”, acredita.

Para quem ainda não tem a casa própria, o professor da USCS acredita que pode ser incentivo para comprar imóvel novo, o que pode ajudar a movimentar o segmento. 




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