Causa estranheza a superficialidade com que o Ministério Público avaliou a denúncia de que foram cometidas irregularidades no processo de leilão por meio do qual a Prefeitura de São Bernardo vendeu para a Big Top 2, empresa que pertence ao conglomerado do construtor Milton Bigucci, terreno de 15,9 mil metros quadrados localizado no Parque Anchieta. A desconfiança de que as regras do processo de alienação da área foram afrontadas já foi levada à Promotoria, que, espanto dos espantos diante de indícios tão robustos, não enxergou nenhum motivo para acionar a Justiça.

O MP, por exemplo, não vê a mínima evidência de fraude no fato de três empresas concorrentes, duas delas perdedoras do leilão, terem se consorciado para fazer o pagamento do terreno – mesmo o edital sendo explícito ao proibir associações posteriores e dizendo que a quitação da dívida deveria ser feita exclusivamente pela arrematante.

No material enviado ao Ministério Público, há fartura de documentos que comprovam tanto uma quanto outra irregularidades. Mas os promotores entenderam de outra forma. Para Milene Comploier e Lafaiete Pires Ramos, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, não existe nada que justifique levar o caso à Justiça. E mandaram arquivar a denúncia.

Ao descobrir evidências robustas de que o leilão do terreno público pode sim ter sido fraudado, a equipe de reportagem do Diário procurou ouvir os representantes da Promotoria. Sem sucesso. O silêncio, como já dito aqui neste espaço várias vezes, não ajuda no esclarecimento das dúvidas. Em São Bernardo, a começar pelo prefeito Luiz Marinho (PT), as autoridades preferem ficar caladas ao invés de dar explicações à opinião pública. Até agora, todavia, o Ministério Público era saudável exceção. A mudança de postura significa duro revés para o são-bernardense, que sempre teve no MP aliado de peso para enfrentar os inimigos da moralidade que vicejam na cidade.