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O outro lado do mito brasileiro
Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
19/04/2009 | 07:00
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Autor da biografia não-autorizada Roberto Carlos em Detalhes - proibida por decisão judicial desde 2007, a pedido do cantor - o jornalista e pesquisador Paulo Cesar de Araújo ainda batalha para liberar a publicação e comercialização do livro. Ele conta que, em maio daquele ano, após acordo entre o intérprete e a Editora Planeta, um funcionário do artista recolheu na empresa 10.379 exemplares da obra, que teriam sido levados em caminhão para galpão de armazenamento de cargas em Santo André.

Araújo não conhece o local onde o trabalho - fruto de 15 anos de criteriosa pesquisa - acumula poeira e sofre a ação de traças. "Primeiro, o Roberto pretendia destruir os livros. Depois que houve reações na imprensa,decidiu apenas guardá-los", afirma o escritor, que recebe e-mails e manifestações de solidariedade de leitores do País e do Exterior.

‘AUTORITÁRIO' - Há três anos, Araújo tenta compreender a postura adotada pelo biografado, que considera autoritária e radical. O jornalista acredita que Roberto só tomou a iniciativa porque deseja ter apenas uma biografia a seu respeito no mercado: a que se comprometeu a escrever.

"Além de ter oferecido a cessão dos direitos, propus uma revisão. Ele não leu o livro e reclama de trechos como o da morte de Maria Rita (ex-mulher do ídolo) o acidente de trem que teve quando era criança e o levou a perder a perna, a superstição com a cor marrom e o TOC (Transtorno Obssessivo-Compulsivo). Mas fala sobre tudo isso nas entrevistas, não há nenhuma novidade". Ainda conforme o jornalista, "só uma pessoa sem nenhuma intimidade com livros como Roberto poderia agir dessa forma".

Apesar das críticas contundentes, Araújo garante que não alimenta rancores. "Não guardo nenhum ressentimento ou tristeza. Apenas lamento por mim, pela historiografia e pelo próprio Roberto. Agora entendo o que os artistas passavam na época da ditadura militar".

REPERCUSSÃO - O também jornalista Pedro Alexandre Sanches - autor de Como Dois e Dois são Cinco, que analisa a vida e a carreira de Roberto, Erasmo Carlos e Wanderléa - não enfrentou a ira do Rei, mas repudiou a proibição à obra de Araújo. "Foi lamentável o que aconteceu. O Roberto poderia ter processado ou tomado várias outras medidas. Não sei por que aconteceu com um livro e não ocorreu com outro. Acredito que foi porque o meu não teve tanta repercussão", avalia.

Perguntado sobre o que explicaria a perenidade do reinado do cantor, ele faz uma análise ao mesmo tempo simples e lúcida. "Além da música, Roberto é a cara do povo brasileiro em qualquer ângulo. Tem o olhar tristonho, é um homem riquíssimo, mas não tem cara de rico. É o brasileiro típico, cordial e bonzinho. Ao longo da carreira, seguiu todos os ditames do mercado fonográfico e menos inventou coisas que se apropriou do imaginário de cada época."

 




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