Salta aos olhos irregularidade cometida na negociação de terreno público de São Bernardo entre Prefeitura e Big Top 2, parte do conglomerado comandado pelo construtor Milton Bigucci. Depois de mergulhar em farta documentação, o Diário apurou que a empresa descumpriu regras do edital do leilão por meio do qual adquiriu do município área de 15,9 mil metros quadrados no bairro Anchieta – o que, em tese, pode inviabilizar a venda.

Na hasta pública promovida pelo governo são-bernardense em 2008, a Big Top 2 arrematou o terreno – onde hoje se ergue megacomplexo imobiliário batizado de Marco Zero – por R$ 14 milhões. Tudo estaria perfeitamente consumado, dentro da legalidade, se a empresa arcasse com os pagamentos, conforme exigência das normas que autorizaram a negociação. Todavia, não foi o que aconteceu.

Para dar a venda por concluída, item do edital obrigava a participante que ofereceu o maior lance, ou seu representante legal, a fazer o pagamento ao município – à vista ou em vezes. Curiosamente, as parcelas foram quitadas não pela vencedora Big Top 2, mas pelas concorrentes que haviam saído derrotadas da contenda. A composição entre companhias adversárias até era admitida pelas regras, desde, porém, que formalizada antes do leilão.

Consultados, os personagens envolvidos na história negam qualquer irregularidade. Não poderia ser diferente. Mas a infração às normas legais é tão flagrante que causa espécie o fato de o acordo, fechado há sete anos, não ter sido contestado por quem de direito. É verdade que faz tempo que a opinião pública do Grande ABC desconfia da ocorrência de eventuais ilícitos no repasse da área pública de São Bernardo. Agora, porém, o Diário cumpre o seu papel de jogar luzes sobre ambientes escuros e explicar negócios nebulosos ao trazer à tona documentos que comprovam a falha na negociação. Para espanto da população são-bernardense.