Política Titulo Reflexo
Dilma completa 100 dias de governo de costas para região

Presidente cortou repasses, paralisou obras, reduziu
papel da região no governo e viu demissão em massa

Fábio Martins
Do Diário do Grande ABC
12/04/2015 | 09:17
Compartilhar notícia
André Henriques/DGABC


Os 100 primeiros dias do segundo governo da presidente Dilma Rousseff (PT), completados na sexta-feira, retratam contraste com o início do mandato anterior, quando a petista surfava na popularidade de seu antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Desta vez, nestes primeiros três meses, a petista enfrenta cenário desastroso: dificuldade no campo político, com escândalo de corrupção na Petrobras, desconfiança de aliados e, principalmente, crise na economia, com ceticismo do mercado, virando as costas para o discurso adotado na eleição do ano passado, o que afetou diretamente o Grande ABC.

Diante do conflito, ao justificar mudança nas circunstâncias, Dilma sinalizou inesperado ajuste fiscal, lançou aumento de impostos e corte de repasses, paralisando obras que estavam em andamento. O cenário negativo somado às medidas administrativas do Planalto colocam em dúvida a garantia de investimento de R$ 4,9 bilhões em 281 obras bancadas com recursos federais. Não bastasse, a presidente reduziu pela metade o status da região no primeiro escalão e houve demissão em massa na indústria. Resultado: aumento de sua rejeição e descrédito de parte do eleitorado, que tem promovido manifestações pelo País.

O nível de emprego industrial nas sete cidades registrou redução equivalente ao fechamento de 1.600 postos de trabalho em fevereiro na comparação com janeiro, segundo levantamento da Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo). O panorama é de fraca atividade na área automotiva. Na Ford, de São Bernardo, são 424 trabalhadores em banco de horas. Na GM, de São Caetano, 819 em lay-off (contratos de trabalho suspensos), assim como 715 da Mercedes-Benz. As fabricantes também fazem uso de PDV (Programa de Demissão Voluntária), a exemplo da Volkswagen.

No cômputo geral, as empresas do Grande ABC eliminaram, no primeiro bimestre, 4.290 postos de trabalho com carteira assinada, conforme dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho). Os números não contabilizam empregos informais.

Oposicionista na Câmara Federal, o deputado Alex Manente (PPS) alega que o governo não tem coordenação e, por isso, há “grande desencontro de ações”. “São derrotas sucessivas. É trágico. Falta combatividade para encarar os problemas econômicos que afetam a indústria”, pontua. Para ele, o PT venceu o páreo ao fazer campanha do medo. “Diziam que se não votasse na Dilma as obras parariam. Foi um estelionato eleitoral. Não estão cumprindo. Fiz, inclusive, requerimento de informações cobrando o governo sobre as obras inacabadas na região.”

Cientista política e professora da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos), Maria do Socorro Sousa Braga avalia que o País entrou em conjuntura da economia que forçou a tomada de medidas impopulares de contenção. Segundo a especialista, “não à toa (o governo) está pagando o preço” diante dos ajustes considerados necessários. “Veremos como ficará (a situação) até o fim da gestão, porque algumas questões, como o desemprego, podem ficar mais sérias. Deve permanecer adversa, pelo menos, até a metade do ano que vem, quando o custo de vida caminha para queda, afastando tendência de inflação e aliviando os prejuízos.”

Após Dilma amargar derrota eleitoral no âmbito do Grande ABC, a petista diminuiu a representatividade da região no ministério e, consequentemente, de pessoas da confiança de Lula. Eram quatro cargos entre 2011 e 2014 e agora são apenas dois nomes: o ex-secretário de São Bernardo Arthur Chioro (PT) na Saúde e a ex-titular de Santo André Miriam Belchior (PT) no comando da Caixa Econômica Federal, que estava no Planejamento. Gilberto Carvalho (PT) deixou a Secretaria-Geral da Presidência e Jorge Hereda (PT) saiu do banco, dando lugar à correligionária.

Para o deputado federal Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT), o período se estendeu como terceiro turno do pleito, tanto da base governista quanto da oposição. Segundo o petista, no fogo cruzado “ninguém deu paz para a presidente trabalhar” até o momento. “Tanto é que nesse tumulto o projeto maldito das terceirizações (4330/04) foi aprovado. Estão com ódio inaceitável. Estamos sempre apostando na melhora do cenário, mas a oposição não dá alívio. Querem ganhar a eleição no tapetão”, cita. Sobre o corte de recursos, o parlamentar considera que a verba será liberada na medida do possível. “É momento complicado, porém acredito que vai ser normalizado.”
 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;