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Greve faz petistas pedirem demissão em Diadema
Gustavo Pinchiaro
Do Diário do Grande ABC
29/04/2011 | 07:24
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A Articulação de Esquerda - tendência interna do PT - entregou ontem ao prefeito de Diadema, Mário Reali (PT), uma carta formalizando o desligamento do secretário de Esportes, Rubens Xavier Martins, e outros cinco funcionários de cargos estratégicos na administração, indicados pela corrente. O motivo da debandada do setor petista é o modo como o Executivo vem conduzindo a negociação salarial com os servidores - desde ontem o funcionalismo está em greve.

Com proposta de reajuste de 10,4% em cinco parcelas de 2% pagas até 2012, considerada arrocho pelo Sindema (Sindicato dos Servidores Públicos de Diadema), a Articulação de Esquerda reivindicava que ao menos a reposição da inflação de 6,36% fosse dada ao funcionalismo neste ano. Para a ala, não colou o argumento de que a cidade não possui condições financeiras de aumentar gastos com folha salarial.

Entre as 15 reivindicações da categoria, a Prefeitura garante ter atendido 11, mas todas foram rejeitadas. "Não atendia nenhuma. Tudo teria que se conversar lá na frente. A negociação do reajuste por dois anos foi bem-vista, mas não com uma proposta pequena dessas", reclamou a vereadora Irene dos Santos (PT), da tendência.

No ato em que a carta foi entregue, Reali disse que já esperava essa saída. Segundo fontes governistas, existia pressão interna para que o prefeito exonerasse os petistas pelo fato de a presidente do sindicato, Jandyra Uehara Alves, compor a Articulação de Esquerda. Reali informou que considerou a decisão "política".

A tendência já discordava da condução do governo em outras esferas, e a "eclosão" da greve foi o estopim para a derrocada. A Articulação de Esquerda só participou de quatro meses da segunda gestão de José de Filippi Júnior (PT), até que o PT passou a governar com aliados. "É com tristeza que entregamos essa carta, porque tínhamos confiança no Mário. Tivemos boa conversa com ele e a expectativa era boa", considerou Irene, que atua de forma independente.

Mesmo com o abandono, a ala promete cumprir a definiçãodo PT de que Reali será candidato à reeleição. "Será um momento difícil, mas estaremos juntos e continuamos discutindo políticas no PT", declarou Irene.

Durante a sessão da Câmara de ontem, os parlamentares aceleraram a ordem do dia e se abstiveram do uso da tribuna livre. O motivo da agilidade foi a notícia de que os servidores fariam protestos na Casa. A categoria lotou o plenário, promoveu apitaço e conseguiu usar a tribuna livre. 

Paralisação não tem grande adesão 

Bruna Gonçalves 
Deborah Moreira

A greve dos funcionários públicos de Diadema, iniciada ontem, não atingiu a população. A equipe do Diário percorreu 19 lugares, entrou em contato com outros seis por telefone, entre escolas municipais, UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e pronto atendimento, e constatou que a maioria funcionou normalmente.

Somente nas UBSs Casa Grande, São José e Piraporinha a maior parte dos servidores, que compõem 80% do quadro de funcionários das unidades, faltou. Outras tiveram poucas baixas.

"Desmarcamos as consultas por telefone e nos organizamos para atender inalação e medição de pressão. Concordo com a greve, mas não posso faltar porque estou com muitas dívidas e não posso ser descontada (no salário, como promete o prefeito)", contou uma funcionária que pediu para não ser identificada.

A Prefeitura informou que a paralisação não causou prejuízos ao atendimento prestado à população. A administração frisou que a manifestação aconteceu de uma forma parcial e em horários variados, sendo as áreas da Saúde e Educação com maior incidência. No setor de Saúde, urgência e emergência não foram atingidos e nenhuma unidade deixou de atender, segundo nota da Prefeitura.

Funcionários confirmaram a informação. "Mais da metade é terceirizada e não vai aderir à greve, já que tem outro regime de trabalho. Portanto, não atingiu a população. Ou seja, não vai adiantar muito, já que o povo não vai sentir", disse uma enfermeira.

No Hospital Municipal de Diadema, o atendimento não foi interrompido. Ontem, por volta das 15h30, 400 pessoas já haviam passado pelo local. Uma funcionária disse que a paralisação não tinha chegado na unidade. Outra lembrou que, por ser um serviço essencial, não é possível cruzar os braços.

A dona de casa Amélia Juliana Miranda Souza, 19 anos, levou seu bebê e se surpreendeu. "Em menos de meia hora fui atendida. Nem sabia da greve", afirmou.

O mesmo ocorreu no Quarteirão da Saúde, onde funcionários disseram que não houve paralisação.

ESCOLAS

As unidades educacionais do município visitadas apontaram pouca adesão dos professores à greve. A Prefeitura informou que do total de 55 escolas, apenas quatro unidades paralisaram. Na Escola Municipal Jardim União, pela manhã, apenas uma professora, de total de 13, compareceu. O mesmo ocorreu na EM Aurélio Buarque Holanda Ferreira. 

Sindema afirma que 2.000 trabalhadores cruzaram os braços 

Cerca de 2.000 servidores participaram de duas manifestações promovidas pelo Sindema (Sindicato dos Servidores de Diadema), ontem. Segundo a entidade, 1.200 ocuparam as ruas centrais na parte da manhã, e outras 800 seguiram em direção à Câmara Municipal, no fim da tarde. No total, são 6.200 trabalhadores públicos.

A presidente do sindicato, Jandyra Uehara, estimou que 70% dos trabalhadores da Educação aderiram à greve. "Só na Saúde, das 19 UBSs, 18 aderiram", afirmou, contestando apuração do Diário, que visitou nove UBSs e só em três delas houve adesão da maior parte dos funcionários.

Alguns deles, inclusive, criticaram a pauta de reivindicações, que precisa ser mais focada. "Estamos concentrando na questão do reajuste da inflação e ganho real. É a primeira vez, desde 2005, que o prefeito oferece 0% de reposição", declarou Jandyra, ao lembrar que a reposição integral da inflação era uma das promessas de campanha da atual gestão.

A presidente ressaltou que a paralisação continua e que hoje estão programadas novas manifestações, a partir das 9h.

A administração informou que os que não cumpriram o horário de trabalho terão os referidos descontos efetivados no próximo vencimento.




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