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Alcool influencia alta no custo de vida em SP
Do Diário do Grande ABC
27/10/1999 | 17:48
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O álcool combustível, cujo preço sobe a taxas superiores a 15% há pelo menos três semanas na capital paulista, tem influenciado significativamente a alta do custo de vida em Sao Paulo em outubro.

Durante meses, o álcool combustível contribuiu como um item de alívio para a inflaçao, mas o setor canavieiro conseguiu recuperar preços e a situaçao se inverteu. De setembro de 1998 a setembro deste ano, o álcool ficou 14,64% mais barato - enquanto a gasolina teve reajuste de 46,09% no período.

Já na terceira semana de pesquisa da Fundaçao Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o produto correspondeu a 0,24 ponto percentual da taxa de inflaçao de 1,18%, com alta de 17,83%. E a tendência é de que o preço continue subindo, já que as recentes altas ainda nao foram capazes de levá-lo aos patamares anteriores.

O aumento do álcool é atribuído por analistas e produtores a um movimento de recomposiçao de preços, que nao tem ligaçao com a recente valorizaçao do dólar. ``Os produtores chegaram a vender o litro do álcool a R$ 0,10, enquanto os custos de produçao giravam em torno de R$ 0,30', diz Cláudio Manesco, da área de comunicaçao da Unica, a associaçao das usinas canavieiras de Sao Paulo.

Ele explica que o governo liberou o preço do álcool, que antes era tabelado, em época de superproduçao. ``Como havia muita oferta e os preços passaram a ser regulados pelo mercado, os valores de compra e venda do álcool despencaram', comenta.

A combinaçao do esforço dos produtores e usineiros com o do governo resultou no aumento do preço do álcool nas bombas. Somente uma empresa, a Brasil Alcool, por exemplo, retirou do mercado cerca de 1,3 bilhao de litros para provocar recuperaçao dos preços.

Com menos oferta do produto sem alteraçao na demanda, o resultado natural seria o reajuste de preços. O governo federal fez sua parte, comprando 700 milhoes de litros como estoque regulador.

O litro de álcool combustível nas bombas dos postos está quarta-feira em R$ 0,60, preço que estava em torno de R$ 0,30, R$ 0,40 no início do ano.

Embora a escalada do álcool siga firme, Manesco nao acredita que o preço do produto supere 70% do valor da gasolina, o correspondente a cerca de R$ 0,80. ``Isso diminuiria a demanda por álcool e a competitividade do produto', avalia. Se o preço nao chegar a esse patamar, o custo de vida agradece. Pelos cálculos de Heron do Carmo, coordenador do Indice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fipe, se o preço do álcool combustível subir 60%, chegando próximo a R$ 1, haverá uma pressao adicional de 0,80 ponto percentual sobre o IPC-Fipe. ``O álcool tem peso significativo no índice, de 1,7%', destaca o economista. Essa contribuiçao prejudicaria até mesmo a inflaçao do ano, hoje estimada em 7,5%.

Mas se depender dos produtores, o preço ainda deve subir um pouco, por conta da retirada de subsídios ao produto que o governo anunciou na última quinta-feira. Apesar de nao mais controlar os preços diretamente, o governo, por meio da Agência Nacional de Petróleo (ANP), pagava R$ 0,045 por litro de álcool hidratado (o que chega aos postos) aos produtores. Ou seja, se nao conseguir recuperar nos preços a perda do subsídio, o setor alcooleiro enfrentará mais dificuldades.

Carmo, da Fipe, avalia que o preço do álcool tende a cair ``porque quando sobe muito, a demanda trata de reduzi-lo', mas observa com atençao seu comportamento. Com dólar ou sem dólar, o álcool pode continuar pressionando o custo de vida.




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