Economia Titulo Conjuntura
Brasil tenta ajuste para voltar a crescer

Com alta de 0,1% no PIB em 2014, País está longe do ritmo da China, que expandiu 7,4%

Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
31/03/2015 | 07:08
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Enquanto o PIB (Produto Interno Bruto, ou seja, a soma de bens e serviços produzidos em um país) do Brasil cresceu 0,1% em 2014, o da China teve expansão de 7,4% no ano passado. O mercado chinês tem se destacado ao longo das últimas décadas, pelo forte crescimento, baseado em estrutura produtiva voltada à importação de matérias-primas (inclusive do Brasil) para agregar valor e desenvolver tecnologia, mercado interno muito mais forte do que o do País, custos reduzidos de mão de obra, juros baixos para as indústrias e moeda (yuan) mantida desvalorizada frente ao dólar, destacam especialistas. Além disso, a economia chinesa tem ainda outro diferencial: ser planificada, ou seja, o governo central comunista planeja como será a atividade no longo prazo.

A China já teve ritmo mais forte. Em 2007, apresentou alta de 14%, que desacelerou para 10% em 2010. Esse percentual voltou a se reduzir ao longo dos últimos anos, embora siga em patamar muito elevado para os padrões brasileiros. O economista Leonel Tinoco, que é delegado regional do Corecon (Conselho Regional de Economia), explica que o país asiático focou mais recentemente no mercado interno (tem classe média de cerca de 500 milhões de pessoas), passando a exportar menos.

DESAFIO - Já o Brasil, que tem pautado boa parte de suas exportações pela venda de matéria-prima (inclusive para a China), e concentra importações de itens manufaturados (os chineses custam mais barato que os nacionais devido à carga tributária brasileira, aos encargos trabalhistas elevados e à logística precária), passa por momento bem diferente. “As economias são cíclicas e estamos numa fase ruim”, afirmou o professor de Economia da Unicamp (Universidade de Campinas) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda Júlio Gomes de Almeida.

Em evento ontem em São Paulo, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, assinalou que a capacidade de o governo brasileiro fazer medidas anticíclicas (ou seja, de reduzir tributos e promover a expansão do crédito, para estimular a economia) acabou. Ele considera necessário aprovar o ajuste fiscal (o projeto de lei que reduz desoneração da contribuição previdenciária das empresas e as medidas provisórias que alteram regras da Previdência, como auxílio-doença, que desde o início do mês só paga o benefício após 30 dias de afastamento, e não mais 15) no Congresso Nacional, para recuperar a meta de superavit primário (ou seja, o equilíbrio das contas públicas), reduzir a inflação e manter o País com grau de investimento, ou seja, seguir atrativo para investidores internacionais, tudo isso para o Brasil voltar a crescer.

Economistas ouvidos pelo Diário concordam que há necessidade de ajuste fiscal. Almeida afirma que as mudanças poderiam vir de forma mais gradativa, mas ele concorda que eram necessárias, pela deterioração das contas públicas, e reforça que se manter como grau de investimento é importante, já que o setor externo está deficitário e precisa de financiamento. Ele, no entanto, não acredita em recuperação já neste ano.

Tinoco também avalia que será difícil crescer em 2015. Ele também destaca que é preciso reduzir o rombo nas contas públicas e assinala que, com a falta de confiança na economia, os consumidores não compram e a indústria não produz e acaba demitindo. “A restrição ao crédito e o aumento do desemprego, com inflação elevada, acabam gerando queda real de renda”, observa, por sua vez, o presidente do Instituto Fractal, o economista Celso Grisi.


Levy quer BNDES com apoio do mercado de capitais

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou ontem que, além do ajuste fiscal, o governo espera contar com o mercado de capitais para financiar os desembolsos do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), que até o ano passado vinha utilizando recursos do Tesouro Nacional, para a linha PSI-Finame, destinado à compra de caminhões, ônibus e máquinas.

O setor de caminhões é um dos afetados pela crise, com queda de 40% nas vendas no primeiro bimestre na comparação com mesmo período de 2014. Levy assinala que, apesar da elevação nas taxas do BNDES, vai continuar havendo suporte às vendas de caminhões. Ele considera ainda que o câmbio agora em novo patamar (ontem cotado a R$ 3,21) vai estimular as exportações desses veículos. O economista Celso Grisi cita que o dólar mais valorizado frente ao real ajudará a impulsionar as exportações não só das indústrias, mas também de produtores de itens agropecuários e metálicos, e levará à substituição das importações pela compra de produtos nacionais.

CONFIANÇA - Presentes ontem ao encontro, promovido pelo Lide (Grupo de Líderes Empresariais), muitos dos executivos se mostraram dispostos a dar voto de confiança ao ministro para as propostas que ele quer negociar com o Congresso. “Os ajustes têm de acontecer”, disse o vice-presidente da Basf, Rui Goerck. Para o presidente da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletrônicos), Lourival Kiçula, expectativa é de que Levy possa implementar mudanças que ajudem o País. “É o correto a fazer no momento”, disse o presidente da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), Alarico Assumpção Júnior. Porém, ele avalia que o governo precisa cortar despesas, para contribuir com sua parte, em meio ao sacrifício que empresas e trabalhadores vão fazer.

CONVERSA - Levy irá hoje ao Senado expor seus argumentos para aprovação das medidas de ajuste. “É importante concluir essa fase, para permitir que se vire essa página, para a dívida do Brasil se acertar. Tenho confiança nesse processo, para manter a nota (de investimento das agências internacionais) e voltar a crescer o mais rápido possível. O Congresso é parte integrante desse esforço”, afirma.
 




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