A admiraçao entre Milton Nascimento e Gilberto Gil, que fazem shows este fim de semana na Via Funchal, em Sao Paulo, data de muito tempo. O baiano até já fez uma cançao em homenagem ao mineiro, A Sala dos Sons. "Era para ela entrar no álbum Refavela, de 1977, mas a gravaçao acabou se perdendo", lembra Gil. Sem lembrar da letra ou da melodia, o músico só foi reencontrar sua criaçao, perdida em arquivos da gravadora, em 1996. "Entao, convidei Milton para cantar ela comigo no álbum Quanta."

Durante o dueto, os planos sobre a produçao de um álbum em conjunto foram reafirmados. Mas o passo definitivo em direçao à realizaçao do projeto ocorreu em outubro de 1999, quando os dois se encontraram durante uma viagem de aviao. Um ano depois, enfim, chegou às lojas, a criaçao tao aguardada.

A temporada de shows começou no Rio. "Foi gostosíssimo", conta Gil. "Me sinto no palco como um menino crescido." Das 15 faixas do disco, entraram todas, com exceçao de Cançao de Sal. Também integram o repertório músicas da obra de cada artista. De Gil, há Drao, Andar com Fé, Tempo Rei e Vendedor de Caranguejo. Milton canta Fé Cega, Faca Amolada, Cais, Paula e Bebeto, Cálix Bento, Cravo e Canela e Certas Coisas. Nao há momentos solos. Ambos os artistas permanecem no palco durante todo o show.

A turnê vai até agosto, passando por diversos estados brasileiros, além de Japao, Estados Unidos, Europa, Argentina e Uruguai. A rotina em hotéis, avioes e ônibus que a dupla começa a experimentar nao implica necessariamente na criaçao de novas cançoes. "Pode ser que aconteça. Nao tenho mais essa ansiedade, nao é mais uma programaçao como era antigamente", conta Gil. 

A cançao Buda Nagô é um exemplo dessas experiências. "Comecei num quarto de hotel em Roma e terminei em Viena." Milton também se lembrou do processo que originou Cançao do Sal, uma de suas primeiras músicas. "Fiz numa máquina de escrever enquanto trabalhava num escritório da Furnas."