Setecidades Titulo Lá no meu Bairro
Jardim Alvorada tem bruxa com direito a gato preto e cartas

Kellen Patrícia joga tarô, mas diz acreditar que o destino das cartas pode ser modificado

Renato Cunha
Especial para o Diário
28/03/2015 | 07:00
Compartilhar notícia
Nario Barbosa/DGABC


Gato preto, incensos, estátuas, apanhador de sonhos, pentagrama. Estes são alguns dos objetos que climatizaram a entrevista da equipe do Diário com a taróloga e terapeuta holística Kellen Patrícia Rehder, 46 anos, moradora do Jardim Alvorada, em Santo André.

A bruxa do bem garante que o misticismo e a espiritualidade fizeram parte de sua vida desde jovem. “Eu me casei muito cedo, com 17 anos. Naquela época conheci, de fato, o tarô, mas o casamento fez com que me afastasse da clarividência. Tive contato com o misticismo desde pequena. Fui criada por minha nona, que sempre usou remédios à base de ervas para curar doenças.”

O som da casa mostra outro ponto importante na vida da bruxa: o rock’n’roll. Ela relata que começou a frequentar as festas do estilo desde cedo. “Fui a primeira vez na Fofinhos (rock bar da Zona Leste de São Paulo) com 13 anos. Eu adoro rock. Beatles, Rolling Stones, Janis Joplin e tantos outros dos anos 1960. Sou meio hippie, como você pode ver.”

A terapeuta tentou trabalhar em fábricas quando mais nova, mas sempre se deu melhor atuando por conta própria. “Arrumei emprego na parte administrativa da Rhodia Têxtil, mas não deu muito certo. Sempre me virei sozinha. Nunca precisei de ajuda do ex-marido. Uma época ele até dava algo em torno de R$ 250 para os dois filhos, mas eu trabalhava e me virava. Certa vez, comecei a fazer faxina em casas de famílias. Nessa época jogava tarô para algumas pessoas e, no começo, não cobrava.”

Além das cartas, Kellen também produziu e vendeu artesanato, o que ela destaca ser uma de suas paixões. “Eu comecei a fazer as peças em 1997. Saía vendendo pelas lojas, ajudava bastante na casa. Era uma renda legal.”

A terapeuta holística lembra que decidiu ganhar a vida com a espiritualidade, ajudando os outros, após um sonho inusitado. “Foi muito bom. Sabia que estava dormindo, mas também tinha certeza que era real. Uma bruxa apareceu, desenhou uma mandala no chão e fez um ritual de iniciação comigo. Lembro que ela só falava castelhano”, explica. Em outra oportunidade, uma senhora da Wicca (religião que acredita nos poderes da natureza) fez uma previsão para Kellen. “Ela era uma conhecida, uma senhora Wicca muito simpática. Ela virou e disse: ‘Você vai viver de tarô.’ Eu nunca tinha imaginado isso.”

Estimulada pelo universo, ela comprou um baralho de tarô após ter jogado o que tinha fora por conta do fim do casamento. “Estava passando em frente a uma loja e vi o tarô egípcio. Acabei comprando. Comecei a atender conhecidos, cobrava pouco, nunca achei isso certo. Mas eu tinha que viver de alguma forma”, ressalta.

Em uma oportunidade, uma de suas clientes disse que tinha um espaço sobrando na Bela Vista, bairro da Capital. Ela resolveu aceitar. “Depois parei para pensar e percebi que o aluguel era muito alto para começar assim, sozinha. Então, lembrei de duas amigas que eram místicas também e acabamos criando o Espaço Holístico Akasha.”

O local, na Rua Francisca Michelina, 268, oferece tratamento para males físicos e espirituais por meio de florais, terapia holística, tarô, acompanhamento psicológico, com cristais, entre outros.

Kellen diz acreditar em um tipo diferente de destino. “Não gosto dessa ideia de futuro taxado, quadrado. Para mim, destino é a gente quem faz.”

Sapateiro conserta calçados há 40 anos no mesmo local

Uma das coisas mais inusitadas de se encontrar nos dias atuais, marcados pelo consumismo exacerbado, é uma sapataria. Na Rua Dracena, 260, porém, ainda é possível achar um dos poucos sapateiros ‘sobreviventes’: Nelson Valerian da Silva, 72 anos, no mesmo local há 40.

Nelson é mineiro de Muzambinho e conta que veio para Santo André para trabalhar e morar junto com os irmãos, que chegaram antes, mas a adaptação foi um pouco complicada. “Sinceramente, no início não gostei da mudança, não. Foi muito difícil fazer amizades. A gente que vinha do Interior tinha medo de tudo. Acho que fiquei um bom tempo conversando com apenas poucas pessoas. Afinal, lá em Muzambinho conhecia todo mundo, tinha vários amigos. Cheguei e fiquei bastante perdido. Mas, aos poucos, tudo deu certo”, lembra.

Ele conta nunca ter estudado para aprender o ofício. “Aprendi a ser sapateiro lá em Muzambinho. Fiquei observando uma pessoa trabalhar e peguei o jeito. Fui contratado para ajudar esse sapateiro, fiquei oito meses só, depois já sabia bastante coisa do ramo.”

O sapateiro explica que já tentou trabalhar com outras coisas, mas não deu certo. “Quando cheguei de Minas Gerais, arrumei um emprego em uma fábrica, mas não gostei. Depois, passei por uma fábrica de sapatos no Brás, mas saí logo, preferi trabalhar por conta.”

Para ele, o público das sapatarias mudou e diminuiu consideravelmente. “Pouca gente procura. O movimento caiu bastante. Antes os homens colavam mais sapato. Hoje, as principais clientes são mulheres, que vêm colar os saltos.”

Antes de encerrar o bate-papo, ele conta sobre o sapato mais estranho que já viu. “Na semana passada apareceu um cara com um sapato que dividia os dedos do pé, parecendo um chinelo, mas com dois dedos de um lado e três do outro. Achei muito diferente.”

Politizado, aposentado relembra histórias

A conversa com o aposentado Osni Passoni, 59 anos, foi em um bar na Rua Cafelândia. Ele lembra de todo o desenvolvimento do Jardim Alvorada, já que se mudou de São José do Rio Preto para Santo André com apenas 2 anos.

Passoni gosta de falar sobre política, mas não vê políticos corretos no País atualmente. “Nenhum desses partidos presta. Hoje eles não montam chapas políticas, montam quadrilhas, como é o caso do PT.”

Segundo ele, uma das principais diferenças entre sua infância e a juventude de hoje é a questão da educação. “Os professores eram melhores, tinham qualidade e eram respeitados. As escolas ofereciam diversas coisas para ajudar a comunidade. Não gosto de militarismo, mas acredito que nesse aspecto as coisas eram melhores”, explica.

Para o aposentado, outra coisa que mudou de uns tempos para cá foi a relação da vizinhança. “Antigamente a gente conhecia todo mundo. Os vizinhos faziam a festa de São João na rua e cada um levava uma coisa, era muito legal, a gente se divertia bastante. Sinto falta de abrir a janela e ver um vizinho, de sentar no portão de casa para conversar. Parece que as pessoas estão ficando cada vez mais distantes.”

Passoni gosta muito de um local famoso em Santo André: a Rua Coronel Oliveira Lima. “Simplesmente amo aquele lugar. Trabalhei ali na Rojan, que na época vendia calçados, durante 13 anos.”

Ele comenta ainda que, quando jovem, curtia muito rock’n’roll, tinha o cabelo comprido e frequentava os bares do estilo na região. “Eu saía a pé daqui do Jardim Alvorada para ir ao clube da Rhodia. Era muito legal. Nos bares só tocava rock. Curtia bastante Beatles, Rolling Stones, Scorpions. Era realmente um tempo bem legal.”




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;