Carlos Boschetti Titulo Cenário econômico
O real caiu na real
Carlos Boschetti
19/03/2015 | 07:05
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O Brasil está mais uma vez na contramão do desenvolvimento econômico mundial. Enquanto isso, os vilões da crise que desestruturou o mundo desde 2008 estão recuperando suas economias e já estão prevendo crescimento a taxas equivalentes a antes da explosão da bolha imobiliária norte-americana. Nossa economia mais uma vez está no sentido contrário.

Em apenas 74 dias de 2015, nossa moeda foi desvalorizada em 22% em relação ao dólar. Isso significa dizer que uma nota de R$ 100, que no dia 1º de janeiro comprava US$ 38, hoje compra menos que US$ 30. Em outros tempos, chamaríamos isso de uma maxidesvalorização.

Esse ataque à nossa moeda é chamado de movimento especulativo, devido à desconfiança das agências internacionais de avaliação de risco que avaliam nossa capacidade de cumprimento das metas fiscais assumidas na tomada de empréstimos bancários pelo nosso governo, bem como pelas empresas estatais. Toda turbulência é gerada pela falta de perspectiva futura de que nossas instituições serão capazes de aprovar o pacote fiscal proposto pelo governo ao Congresso Nacional. Mais uma vez, repassaram a conta para a população por meio de aumento de impostos, em vez de buscar fontes de geração de recursos com uma redução significativa de gastos e custos de contratos em curso, em que todos sabemos das gorduras e dos superfaturamento, além da fragilidade de controles, que abrem as portas para a corrupção, como estamos assistindo ao vivo e em cores em nossas casas em tempo real.

A recessão já bate a nossas portas e nos preços do supermercado. A previsão inflacionária para este ano está próxima a dois dígitos, o que vale dizer que o risco de superarmos os 10% até o fim do ano é muito alto, pois os indicadores econômicos avaliados semanalmente pelo boletim Focus, editado pelo Banco Central, indicam a inflação já próxima de 9% até o fim de 2015.

Os pilares que sustentaram a política econômica, que foram de desoneração de alguns segmentos como o automobilístico, por exemplo, levaram as vendas de veículos à queda livre de 25% em janeiro e fevereiro, o que fez com que o setor mais uma vez chegasse às férias coletivas, além do anúncio de demissões pela redução das vendas. O setor de energia, com a crise do petróleo, paralisou todos os contratos da Petrobras e também está gerando uma paralisação de todos os pagamentos das empreiteiras, que, por sua vez, estão em crise de caixa e paralisaram seus pagamentos. Elas interromperam as obras e começaram as demissões em grande escala. O setor da construção civil, que nos últimos anos foi uma das grandes explosões de crescimento, também está com seus estoques de unidades prontas enfrentando uma queda acentuada de vendas. O lançamento de empreendimentos foi reduzido, também pela redução de crédito ao consumidor.

E o mais assustador é a paralisia de nossos governantes, que ficam justificando a crise de uma forma superficial e o pior, não reconhecendo a responsabilidade e a gravidade da situação em que o País se encontra.

Então só resta, mais uma vez, a sociedade pagar com seu sacrifício o ônus financeiro com o aperto do cinto familiar, reduzindo gastos, adiando seus sonhos para sustentar uma máquina governamental que sofre de obesidade crônica, leonina e uma cegueira com amnésia. Resta-nos seguir com a esperança de que possamos passar por mais um período de dificuldades, sacrifícios e risco de desemprego. 




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