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Indústria faz papel de plástico reciclado
Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
19/09/2010 | 07:34
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Um papel sintético feito de plástico reciclado que, se molhar, não estraga e que é extremamente resistente. Esse material, com apelo ecologicamente correto e sob medida para resistir à agitada vida estudantil, é resultado de três anos de pesquisas da indústria Vitopel, em parceria com a UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).

A empresa, que tem unidade fabril em Mauá, fechou na semana passada contrato de exploração comercial e licenciamento de patente desse papel (chamado Vitopaper) com a UFSCar. Segundo o gerente de marketing e novos negócios da companhia, Christian Almeida, o acordo foi apenas a formalização da parceria que deu vida a uma ideia de pesquisadores da universidade: compatibilizar propriedades de diversos tipos de plásticos.

Uma das maiores produtoras mundiais de filmes flexíveis (de material chamado BOPP, sigla em inglês para polipropileno biorientado), a Vitopel, havia procurado a instituição de ensino com o objetivo de aprofundar suas práticas de sustentabilidade.

A empresa havia feito pesquisas que mostravam a possibilidade de criar papel a partir do BOPP. "Mas queríamos também associar outros plásticos", disse o gerente. A partir da parceria com a UFSCar, surgiu o papel sintético Vitopaper, que em seu processo pode incorporar copos e pratos de plástico, sacolinhas de supermercado, frascos de xampus etc. "Só o que não pode (colocar) é o PVC e o PET", acrescentou.

O resultado é um produto semelhante ao papel couché, com textura agradável e brilho, e ainda com vantagens: além de "não rasgar" e ser impermeável, gera economia de 20% menos tinta na impressão. Além disso, permite a escrita manual com caneta de diversos tipos ou lápis. E por ser plástico, o Vitopaper também é reciclável.

CADEIA PRODUTIVA - O processo fabril envolve a retirada de 850 kg de resíduos plásticos das ruas para gerar 1.000 kg de Vitopaper. Para isso, a Vitopel trabalha com recicladoras. Tem parceria, por exemplo, com empresa que fornece a tampa e o rótulo das garrafas PET, os quais servem como matéria-prima.

No entanto, a intenção é integrar também os clientes. "Temos projeto de logística reversa", cita o gerente. A ideia é firmar acordo com indústrias alimentícias, por exemplo, para montar postos de coleta e incentivar os consumidores a entregarem as embalagens, interceptando-as antes que cheguem aos aterros, para que não fiquem muito sujas.

PESQUISA - Com investimento anual de cerca de US$ 2 milhões em pesquisa e desenvolvimento, a Vitopel tem atualmente produção de 150 mil toneladas anuais de filmes flexíveis em suas três unidades, duas no Brasil (Mauá e Votorantim, no Estado de São Paulo) e uma em Totoral (na Argentina). Entre os clientes, atende nomes de peso como Nestlé, Unilever, Coca-Cola, Bunge, Suzano Papel e Arcor.

Produção deve triplicar para atender demanda em alta

Iniciada em meados do ano passado, a produção do papel sintético do Vitopel deverá triplicar de tamanho neste ano, em razão da aceitação do material no mercado. De 1.000 toneladas anuais, saltará para mais de 3.000. E embora represente pouco no total do faturamento da empresa, "já passou da fase de gerar custo para ter rentabilidade", segundo o gerente Christian Almeida.

Um exemplo da boa receptividade: serviu para a confecção de 40 mil livros didáticos produzidos pela Fundação Padre Anchieta para alunos do Centro Paula Souza. A meta é chegar a 261 mil livros para atender os cerca de 180 mil estudantes das 182 escolas técnicas. Segundo o coordenador do Núcleo de Educação da Fundação, Fernando Almeida, por um lado, as páginas de plástico reciclado podem trazer a consciência de preocupação com o meio ambiente e, por outro, são mais duráveis. "O livro fica na sala de aula e é usado pelos alunos da manhã e também pela turma da noite".

 




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