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Maes de menores transferidos conseguem ver os filhos
Do Diário do Grande ABC
02/11/1999 | 19:59
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Nas maos, uma Bíblia; na sacola de plástico, um pacote de bolacha salgada, um iogurte de morango com dois canudinhos, um tubo de pasta de dente e um sabonete. A empregada doméstica Vera Maria da Silva, de 44 anos, foi nesta terça-feira ao Cadeiao de Pinheiros, em Sao Paulo, visitar o filho A.P.S., de 15 anos, interno da Fundaçao Estadual para o Bem-Estar do Menor (Febem). "Eu preciso saber dele", dizia a mae, repetidamente.

A.P.S. é um dos muitos garotos transferidos para o Cadeiao e para as unidades do Tatuapé desde que o Complexo Imigrantes foi desativado. Na quinta-feira, Vera, moradora da periferia de Santo André, esteve na porta da Imigrantes na tentativa de ver o filho. Voltou na quinta-feira, em vao. No sábado, nao pôde ir - faltou dinheiro para a conduçao. Domingo (31) ligou para a Febem e soube que ele estava no Cadeiao.

"Será que ele está machucado?", dizia nesta terça-feira, depois de fornecer ao vigilante o nome do filho, preso depois que começou a andar em "más companhias" e passou a roubar telefones celulares nos semáforos. Enquanto aguardava notícias na frente da penitenciária, Vera, separada do marido há dez anos e mae de mais três filhos - um de 11 anos e dois casados - sentia-se mais esperançosa. "Nao sei as regras daqui, mas deve ser melhor que a Febem."

No quadrilátero do Tatuapé, apenas as maes que nao visitaram seus filhos no sábado puderam fazê-lo nesta terça-feira. Era o caso da dona de casa Alice Dias de Oliveira, de 47 anos. Na véspera, seu filho O.D.O. ligou para casa e deixou-lhe um recado dando conta de seu paradeiro, o que alegrou Alice. "Aqui parece mais calmo", disse, enquanto aguardava a assistente social para acompanhá-la.

Via-crúcis - Raimunda Gomes, mae de V.S.R., de 17 anos, soube que o filho estava no Cadeiao de Pinheiros. Moradora de Guarulhos, na Grande Sao Paulo, ela pegou um ônibus e depois de descer no ponto final foi informada de que em cinco minutos a pé estaria no Cadeiao. Mas sua via-crúcis estava só começando e teve de andar uma hora e meia. O jeito foi pegar uma carona. Entrou na penitenciária, viu vários meninos jogando bola e assistindo à TV, mas seu filho nao estava lá e sim no Complexo Tatuapé.

"A cabeça da gente já está a mil e ainda nao dao uma resposta certa", reclamou Raimunda. Lá, finalmente, pôde revê-lo. "Graças a Deus, acabou o inferno", disse, referindo-se à demoliçao do Complexo Imigrantes.




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