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Diana Krall pós-Elvis Costello
João Marcos Coelho
Especial para o Diário
30/04/2004 | 18:45
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“Parem o mundo, que eu quero descer”. Depois de cinco notas ao piano e o break, o verso bem anos 60 de Mose Allison embala a primeira intervenção vocal de Diana Krall em seu novo CD, The Girl in the Other Room (Verve/Universal, R$ 32, em média), que acaba de chegar às lojas. Por que a escolha de Allison, um gênio escondido da música norte-americana, hoje com 77 anos, mas ainda com o pé na estrada e em plena turnê por seu país nesta virada de abril/maio? E por que Stop this World?

Miss Diana Krall, a pianista e cantora canadense que, aos 39 anos, puxou o cordão das intérpretes de jazz que começaram a vender discos aos milhões na década passada (o mais recente e apático subproduto desta safra é Norah Jones), demonstra ter sofrido um formidável choque de qualidade nesta gravação.

E a quem interessar possa: ela conheceu Elvis Costello, um dos mais inteligentes e refinados (sim, isso é possível no domínio da música pop) criadores atuais, quando ambos se apresentaram juntos na cerimônia de entrega dos Prêmios Grammy de 2002. De lá para foi um love affair só. Casaram-se em 5 de dezembro passado na casa de campo inglesa de Elton John e a simbiose afetiva do casal parece ter invadido, completíssima, a porção artística deles.

Allison, de longa data, é um dos gurus de Costello, artista capaz de fazer música com um quarteto de cordas como o Brodsky com a mesma tranqüilidade com que vai de pop. Daí Stop this World. Daí, também, Temptation, de Tom Waits, Love Me Like a Man, de Chris Smither, adaptada por Bonnie Raitt, e Black Crow, de Joni Mitchell.

Estas são as quatro faixas que vão carregar comercialmente o disco – e, curiosamente, também estão entre as melhores das 12 no total. Ainda bem que retorna o piano sofisticado de Diana em Stop this World. São maravilhosas as intervenções do contrabaixo de Christian McBride em Temptation e sutil e precisa a bateria de Jeff Hamilton em Black Crow. Finalmente, Diana demonstra que sabe tudo de piano blues na pesada e contagiante Love Me Like a Man.

A melancolia fica por conta de Almost Blue, bela composição de Costello, o maridão que também faz parceria com ela em outras cinco canções. As músicas são assinadas pela fulgurante loiraça, e as letras pelo casal. Assim, e conhecendo o trabalho de Costello, é inevitável pensar que, embora ótimas, as letras devem ter tido reduzida participação de Diana.

O choque de qualidade refere-se, ainda, à escolha dos músicos que a acompanham em The Girl in the Other Room. Anthony Wilson é tão ou mais competente que Russell Malone, o primeiro parceiro de Diana na guitarra. No contrabaixo, além de McBride, que se espraia por nove faixas, há a participação especialíssima de John Clayton no blues Love Me Like a Man. Revezam-se na bateria três feras: Peter Erskine em oito faixas; Jeff Hamilton em três; e Terri Lyne Carrington, que dá um show de balanço em Temptation, onde ocorre a única intervenção do órgão Hammond de Neil Larsen.

Fizeram muito barulho, recentemente, com a extraordinária vendagem do CD de Norah Jones. Bobagem. Vender muito não avaliza a qualidade de ninguém. Fique com Diana Krall e trate de agradecer o casamento da diva loira com Elvis Costello.




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