Cultura & Lazer Titulo
Jurema comemora 30 anos de poesia com Policromia
Nelson Albuquerque
Do Diário do Grande ABC
17/05/2010 | 07:00
Compartilhar notícia


De seus 52 anos, exatamente 30 foram dedicados à poesia. A andreense Jurema Barreto de Souza - poeta, editora de revista e agitadora cultural - tem muito há comemorar. E faz isso do melhor jeito: com o lançamento do livro Policromia (edição independente, 64 págs., R$ 15).

A autora é do tipo que respira a arte. "A gente vive poesia mesmo quando não escreve", decreta. Quem a conhece sabe que ela é assim. Quem não conhece, a oportunidade é amanhã, a partir das 18h, quando Jurema autografa sua obra na Alpharrabio Livraria (Rua Eduardo Monteiro, 151. Tel.: 4438-4358), em Santo André.

Já adolescente, Jurema passava seus sentimentos para o papel. Mas só se considerou realmente poeta quando venceu, em 1980, um concurso do gênero em sua cidade. Se queria um aval para continuar, recebeu o merecido.

Agora, passadas três décadas, a poeta se diz satisfeita com sua trajetória. "Tudo valeu a pena. É um ideal de vida e não me arrependo", diz. Fala com prazer dos contatos e amizades que colecionou durante os anos, sobretudo com a edição da revista literária A Cigarra desde 1982. Lembra, com carinho, dos convites para realizar saraus em periferias, onde o interesse pela arte é grande e resistente às necessidades materiais. "A poesia é o sentimento de estar vivo", afirma.

Policromia é um livro inspirado e inspirador. Reúne trabalhos antigos e inéditos. Um dos preferidos da autora, e já publicado antes, é Meu Homem, que ela define na própria obra como "uma viagem pelo corpo do homem numa visão surrealista, elaborado a partir da leitura de L'Libre, de André Breton".

Entre os inéditos, um dos destaques é Estrangeira: "Crescem perfumes/ de flores lambidas pelo vento./ O verde se insinua, ousa/ entre prédios e aço frio." O verde deste verso não é o único do livro. Aí fica claro o porquê do título. "Há muitas cores e imagens nos poemas. Entrei numa fase meio psicodélica", ri.

Empatia - Em 30 anos muita coisa muda. Inclusive o modo de fazer poesia. No caso de Jurema, foi o fato de ela buscar o sentimento necessário em outras fontes e pessoas. "Tentei sair de mim, me colocar em outros papéis, outras inspirações, outras vidas", explica.

Como exemplo, cita o poema A Imagem do Rio, que fala sobre a poluição que mata a água: "Eu me transformei no próprio rio".

O prefácio do livro é assinado pela escritora Dalila Teles Veras. "Um poema de Jurema tem sempre a dicção lírica de Jurema, característica que a poeta conscientemente subscreve", diz um trecho.

A edição traz ainda texto assinado pelo poeta alternativo Zhô Bertholini, companheiro da longa caminhada cultural da autora. Aliás, ele descreve um pouco sobre essa trajetória e lembra, por exemplo, dos 11 anos de Jurema como integrante do Grupo Livrespaço de Poesia. Com este, aliás, ganhou um Prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte), em 1994, com a edição da Revista Livrespaço.

É muita história. E tudo alcançado com o espírito independente e ideal alternativo. Zhô sabe o sabor e a importância dessas conquistas: "Queiram ou não, se tiverem que falar da literatura da região, terão de passar pela gente. Não dá para pular esse capítulo".

Trechos

"Meu homem de cílios de
impressão de nanquim da China
De sobrancelhas de
tabaco de Havana
Meu homem de têmporas
de vibrações de oboé
E pulsar de canário"
( Meu Homem)

 "O poeta reconhece-se
no rio, recusa-se a dar a luta
por perdida.
Por mais dolorido que
seja o poema
ir além da imagem e
ser a voz o grito agônico,
ser o próprio rio"
(A Imagem do Rio)




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;