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Belini defende choque de competitividade
Wagner Oliveira
Do Diário do Grande ABC
01/05/2010 | 07:00
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O discurso é antigo, mas a vontade é nova. Assim como antecessores, o presidente da Fiat, Cledorvino Belini, assumiu ontem a direção da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) prometendo organizar amplo movimento em busca de "choque de competitividade" no Brasil para garantir o crescimento sustentado da indústria automobilística brasileira.

Com 37 anos de experiência no setor, Belini prometeu engajar governo e industriai em torno de um projeto que crie as condições necessárias para aproveitar todas as oportunidades de um player global, onde mão de obra, tecnologia e inovação têm de estar sincronizadas.

Para Belini, se quiser ter força, o País terá de resolver problemas estruturais, tributários e burocráticos para criar as condições de desenvolvimento humano, matérias-primas, autopeças e dos fabricantes de veículos. "Sem resolver questões que dificultam a competitividade global, corremos o risco de termos mercado interno forte mas não termos indústria forte para atender à demanda", disse.

A boa notícia, segundo Belini, é que a indústria local vem fazendo os investimentos necessários para garantir a produção. Ele diz que até 2012 as montadoras vão aplicar no aumento de capacidade e lançamento de produtos US$ 11,2 bilhões. Segundo anunciou, a indústria alcançou novo patamar de capacidade instalada de 4,3 milhões de unidades por ano no Brasil.

Antes da festa da posse, que contou com a presença do presidente Lula, Belini falou sobre os principais desafios que terá no cargo nos próximos três anos na entidade que representa o setor.

CRESCIMENTO - Para Belini, o País conseguiu desempenho excepcional nos últimos anos e deve fechar 2010 com 3,4 milhões de unidades vendidas. Isto fará do Brasil o quarto maior mercado do mundo. A indústria conseguiu responder à demanda com inovação tecnológica e novos produtos.

NOVO CENÁRIO - "Hoje há um movimento novo no mundo. Nos países desenvolvidos, há ociosidade de capacidade em razão de queda de vendas. Já nos emergentes falta capacidade com o crescimento rápido dos mercados. Este cenário é ao mesmo tempo bom e preocupante. "Para termos lugar assegurado como player global, precisamos de um choque de competitividade."

PROGRAMA NACIONAL - Belini propõe a criação de programa nacional que envolva o governo e a sociedade em busca de soluções que garantam as condições necessárias para a inovação tecnológica, desenvolvimento humano e crescimento da atividade na indústria automobilística. Para isto, o Brasil tem de resolver problemas de infraestrutura, logística e burocráticos. "A iniciativa privada e o governo temos de fazer um diagnóstico e avaliar todas as oportunidades com racionalização, investimentos e inovação".

Para o novo presidente da Anfavea, o Brasil não pode abrir mão neste momento da tributação de 35% sobre veículos importados. Mesmo com o alto imposto, o País já importa mais do que exporta. Para ele, o Brasil perde competitividade ao sobretaxar seus produtos, enquanto outros países desoneram e incentivam as exportações.

A subida dos juros, de acordo com o executivo, é uma decisão acertada para fazer a inflação recuar para o centro da meta. "Eu não entendo como as montanhas saem do Brasil, atravessam o mundo e voltam ao Brasil em forma de bobinas de aço 40% mais baratas em relação aos mesmos produtos vendidos aqui. O problema é de competitividade.

Para Belini, só uma reforma tributária pode esclarecer ao consumidor a complexidade dos impostos incidentes em cascata sobre o preço de veículo, que é um dos mais caros do mundo.

CARRO ELÉTRICO - O flex garante ao Brasil vanguarda na emissão de poluentes. Para ele, o carro elétrico é uma promessa ainda distante em razão do desenvolvimento das baterias. O executivo disse que o Brasil não corre o risco de ficar fora da tecnologia, que, uma vez desenvolvida, será transferida para cá.

Para Belini, embora o mercado brasileiro tenha crescido nos últimos anos, a escala ainda é baixa, se verificada a média dos 25 fabricantes locais. Ele considera que o País está longe do potencial, quando observada a relação de um carro para cada sete habitantes.

EXPORTAÇÕES - O crescimento da China valorizou as commodities exportadas pelo Brasil, encarecendo a matéria-prima aos fabricantes locais. Além disso, o real valorizado e forte tributação interna dificultam as vendas externas brasileiras.

E destaca que qualquer que seja o presidente eleito, as montadoras vão continuar com forte intercâmbio entre os países do bloco. "Nosso relacionamento começou muito antes da criação do Mercosul e vai continuar ainda muito forte".

RECALL - Em relação à onda de recall que tem ocorrido ultimamente em todo o mundo, ele considera que é bom do ponto de vista de representar respeito ao consumidor.

E finaliza dizendo que, mantidas as condições de crédito, inflação controlada e confiança do consumidor o País tem tudo para continuar com forte crescimento nas vendas.




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