Carlos Boschetti Titulo Cenário
E agora, papai?
Carlos Boschetti
22/01/2015 | 07:18
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Voltamos de nossas tão sonhadas férias em família – economizamos durante dois anos para nossa primeira viagem de avião para o Recife para visitar os pais de minha mulher, que não viam a filha há 20 anos. Nossos filhos adoraram e se encantaram com a grande oportunidade de conhecer os avós maternos. Eles vibraram com a fantástica experiência de viajar para outra localidade com cultura e belezas naturais totalmente diferentes do Grande ABC, onde moramos. Nosso planejamento financeiro foi feito com nossa poupança e tudo foi cuidadosamente planejado, inclusive reserva de gastos adicionais. Todavia, não contávamos com uma situação imprevista: doença na família. A assistência à saúde por vias públicas seria inviável: consulta com um neurologista demoraria pelo menos seis meses. Então a única alternativa foi procurar médico particular, que felizmente acertou no diagnóstico e no tratamento. A saúde do meu sogro de 80 anos foi restabelecida a um custo de mais de R$ 5.000. A única alternativa para viabilizar o pagamento foi usar os limites dos meus dois cartões de crédito. Com isso, terminamos nossas férias com a certeza de que tudo estava sob controle e retornamos para nossa casa com a consciência e o coração aliviados.

Nosso retorno foi tranquilo, aproveitamos para curtir todas as fotos e filmes e compartilhamos com todos nossas experiências. No dia seguinte, fui surpreendido por duas correspondências. Primeiro por uma carta da montadora onde trabalho há mais de 25 anos, solicitando meu comparecimento ao departamento pessoal. A segunda trouxe as faturas dos cartões de crédito, pois os gastos com o tratamento de meu sogro deveriam ser pagos até o dia 20.

As surpresas abalaram a todos, principalmente minha filha de 17 anos, que está cursando o último ano do Ensino Médio. Meu filho mais de 13 também já começou a entender o orçamento familiar. Prontamente, apresentei-me ao departamento pessoal conforme solicitado. Fui surpreendido pois, pelos critérios definidos pela empresa, tornei-me elegível ao desligamento conhecido por PDV (Programa de Demissão Voluntária). Após várias reuniões de esclarecimentos, ficou estabelecido que seria incluído nos critérios de desligamento por tempo de serviço. Receberei incentivo financeiro correspondente aos anos de trabalho e, graças à previdência privada dos funcionários da empresa, serei enquadrado no plano de aposentadoria e terei direito ao plano médico por período a ser definido.

Rapidamente reuni-me com minha família e concluímos que, apesar da situação, é a melhor opção, pois com aperto nos gastos e com recebimento do pacote, vamos conseguir equilibrar nossos gastos e dar continuidade a nossas vidas. Eu teria a oportunidade de me reciclar e voltar ao mercado de trabalho ou até mesmo abrir empresa de prestação de serviço. Porém, ainda tinha mais um desafio, pagar as faturas dos cartões de crédito. Estudei as opções de pagamento e senti o drama dos juros extorsivos praticados pelos bancos junto aos seus clientes. A primeira opção foi estudar o pagamento em 12 vezes pagando o mínimo proposto, o que resultaria em mais de 230% de juros ao ano. A segunda, utilizar limite do cheque especial a uma taxa de mais de 150% a de juros ao ano. A terceira, empréstimo pessoal a taxa superior a 70% de juros ao ano. Portanto, a conclusão foi usar o resto de nossa poupança, quitar os cartões e cancelá-los, para nos ajustarmos às novas realidade e previsão orçamentária. Nossa vida mudou dramaticamente e o futuro é incerto. Não tenho boa resposta aos meus filhos. E agora, papai? 




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