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Investimento federal com
Dilma cai R$ 200 milhões

Grande ABC perdeu 16% dos recursos na comparação entre
2010 e 2011; a região recebeu apenas R$ 1 bilhão neste ano

Raphael Rocha e Fábio Martins
25/12/2011 | 07:13
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O Grande ABC perdeu recursos federais na comparação entre 2010, último ano de gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e 2011, primeiro ano do mandato de Dilma Rousseff (PT). A região recebeu R$ 1 bilhão neste ano, ante R$ 1,2 bilhão despejado nas sete cidades no ano passado. A retração foi de 16%.

A cidade que mais perdeu investimento foi Ribeirão Pires, gerida pelo prefeito Clóvis Volpi (PV). Em 2010, o governo Lula destinou R$ 54,4 milhões para a estância turística. Dilma autorizou repasse de R$ 39,1 milhões, queda de 28% em 12 meses. Em seguida aparece Santo André, de Aidan Ravin (PTB), com redução de 21% - R$ 171,8 milhões em 2010 e R$ 135,3 milhões neste ano.

São Bernardo, do prefeito Luiz Marinho (PT) - apadrinhado por Lula -, registrou a segunda menor variação da região. Nos últimos 12 meses de mandato, Lula repassou R$ 297,8 milhões de transferências voluntárias. Dilma, por sua vez, endereçou R$ 271,4 milhões para a cidade, diminuição somente de 9%. O percentual só não foi menor do que Rio Grande da Serra, que recebera R$ 17,9 milhões em 2010 e ganhou R$ 16,5 milhões neste ano, redução de 8%.

São Caetano, capitaneada por José Auricchio Júnior (PTB), registrou baixa de 16% (R$ 68,6 milhões em 2010, R$ 57,8 milhões em 2011). Diadema, de Mário Reali (PT), e Mauá, de Oswaldo Dias (PT), contabilizaram reduções de 11% e 14%, respectivamente. Reali recebeu R$ 135,4 milhões com Lula e conquistou R$ 121,1 milhões com Dilma. Oswaldo teve R$ 109,9 milhões no ano passado e arrebatou R$ 94,1 milhões neste ano.

O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho (PT), admitiu o freio puxado nos investimentos do Grande ABC e credenciou a queda de repasses voluntários à crise econômica global, que afeta principalmente países da Europa.

"Depois de um ano muito difícil que o Brasil teve de enfrentar a crise que golpeia o mundo todo, particularmente a Europa, tivemos de tomar cuidados. Fizemos política fiscal dura de retração porque temos responsabilidade. A presidente Dilma dedica grande parte do tempo dela para acompanhar a conjuntura econômica internacional e a tomar medidas aqui de precaução mas também de estimulo ao consumo e produção. Entendemos que recessão não é o melhor caminho para sair da crise, mas de todo modo foi um ano muito difícil", avaliou.

Carvalho disse que, para 2012, a projeção é de melhora nos investimentos pelo País, principalmente por meio do Programa de Aceleração do Crescimento. "Nossa perspectiva para o ano que vem é que a crise ainda vai existir, portanto tomaremos os cuidados, mas sem dúvida, até por ser o segundo ano de governo, com os ministros agora feitos as tarefas, vamos retomar com mais força toda questão do PAC e de investimentos. O Grande ABC não tem como ficar fora, pela importância da região econômica, pela importância urbana e necessidades urbanas. Não sei detalhar quais são os projetos, mas sem dúvida a retomada que vai haver do investimento governamental do Brasil inteiro vai se refletir no Grande ABC."

Marinho recebe 49% a mais em dois anos

Afilhado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, viu potencializado investimento do governo federal na cidade desde o início de seu mandato, em 2009. Nos últimos dois anos, a União impulsionou transferências voluntárias no município, passando de R$ 182 milhões destinados em 2009 para R$ 271,4 milhões em 2011 - crescimento de 49%.

Nas eleições de três anos atrás, Lula prometera que, caso Marinho triunfasse, o governo federal seria parceiro de primeira grandeza de São Bernardo. O então candidato a prefeito criticou duramente a falta de diálogo do ex-prefeito William Dib (PSDB) com a União, a despeito da política de Lula de investimentos nos municípios, principalmente por meio do Programa de Aceleração do Crescimento.

Embora Marinho evite comentar o assunto e assegure que se conquistar a reeleição em São Bernardo não vai abandonar o mandato no meio do caminho, correntes do PT defendem que o ex-ministro do Trabalho seja o candidato do partido nas eleições estaduais de 2014. E uma boa gestão na terceira maior cidade da Região Metropolitana seria credencial suficiente para colocar Marinho no páreo.

Na contramão da alta de investimento federal na cidade está Santo André. Desde que Aidan Ravin (PTB) venceu o pleito, em 2008, e tirou a hegemonia petista de 12 anos à frente do Paço andreense a cidade viu minguar as transferências federais. Quando assumiu, em 2009, Aidan recebeu R$ 141,2 milhões. Dois anos depois, o aporte foi de R$ 135,3 milhões, queda de 4%.

Curiosamente, Lula será padrinho político de um petista na corrida eleitoral em Santo André no próximo ano. O deputado estadual Carlos Grana (PT) já recebeu aval do ex-presidente e do diretório do PT da cidade para tentar desbancar Aidan em 2012. E, pelo menos em discursos preliminares, a mesma estratégia que norteou a campanha de Marinho em 2008 deverá se repetir: maior aliança entre a cidade e a União se Grana chegar ao comando do Executivo.

No geral, o Grande ABC contabilizou maior aporte federal nos novos mandatos. Em 2009, primeiro ano de gestão dos prefeitos, a região arrebatou R$ 957,8 milhões. Neste ano, o investimento foi de R$ 1 bilhão, aumento de 5%.

Presidente não pisou nos sete municípios

Pelo andar da carruagem, a presença efetiva da presidente da República, Dilma Rousseff (PT), na região tende a ser semelhante à do ex-comandante do Palácio do Planalto Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Próximo do término do primeiro ano à frente do governo federal, Dilma não fez sequer uma atividade pública no Grande ABC, reduto de seu padrinho político, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

No período de 1995 a 2002, Fernando Henrique esteve no Grande ABC apenas uma vez: em 1997, na Ford, em São Bernardo, no lançamento do Ka.

A falta de desembarque da petista é sentida na região. No meio político, prefeitos comentam que a troca no comando em Brasília representou desprestígio para as sete cidades, tendo em vista que o alvo de interesse não está sendo o mesmo de outrora. Na única ocasião que pisou em território local, após assumir a Presidência, Dilma fez uma visita ao apartamento de Lula, em São Bernardo, por conta do estado de saúde do ex-presidente, que passa por tratamento contra câncer na laringe.

A diferença de prioridades é constatada pelos números. Em 2.920 dias de gestão, Lula esteve em missão oficial na região em 59 oportunidades. Inaugurou obras, lançou programas, fez campanha, visitou fábricas e participou de festividades.

O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, adiantou que não há agenda definida de Dilma na região. Segundo ele, porém, apesar da estatística, a presidente preza muito o Grande ABC. "Ela sabe da importância. Evidente que se houver alguma inauguração, a presidente estará aqui." Em dezembro, era previsto o anúncio de novidades na Linha 18 do Metrô, que ligará a Estação Tamanduateí a São Bernardo, porém o evento foi cancelado.

Principal articulador regional do PT, o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, defendeu que os dados significariam menos prestígio caso os projetos não estivessem sendo aprovados. "Não é isso que tem acontecido. Presença física é menos importante, sobretudo porque ministros tem vindo." O perfil diferente de Dilma e Lula é a justificativa de Marinho, alegando que não dá para fazer essa comparação. "Ninguém pode esperar da Dilma o que tinha com o Lula. Ela não tem a mesma presença dele, mas compreendemos plenamente esse jeito de ser diferente."




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