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Goiás pode se tornar patrimônio histórico mundial
Do Diário do Grande ABC
03/06/2000 | 18:27
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O prazo está definido: dia 16 é a data-limite para que os técnicos do Movimento Pró-Goiás enviem os últimos dados exigidos pelo Fundo das Naçoes Unidas para a Educaçao, Ciência e Cultura (Unesco) para que a cidade de Goiás, a 130 quilômetros de Goiânia, alcance o status de patrimônio histórico da humanidade. "A preservaçao será a contribuiçao decisiva para o desenvolvimento do município", disse Marcelo Brito, superintendente do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), responsável pela documentaçao exigida pela entidade internacional.

Exigências cumpridas, Goiás poderá ser anunciada, em dezembro, como a sexta cidade brasileira a ter alcançado o título. As já eleitas sao Olinda, Salvador, Sao Luís, Ouro Preto e Diamantina. "Mas Goiás será a única com arquitetura puramente colonial portuguesa no mundo, o que aumenta nossas chances", afirma Salma Saddi, diretora da 17ª sub-regional do Iphan, em Goiás.

A expectativa em relaçao à decisao da Unesco é grande e atinge limites sociológicos - a populaçao engajou-se no processo permitindo aos técnicos acesso às casas para realizar o mapeamento completo do território, o que possibilitou a análise de quase 800 imóveis. Mais: os moradores aceitaram a determinaçao de nao modificar a arquitetura original, conservando-a ao extremo.

"Desde que a cidade perdeu a condiçao de capital do Estado, em 1937, para Goiânia, a populaçao diminuiu e o desenvolvimento sofreu uma queda", explica a arquiteta Cristina Portugal. "O único ponto realmente positivo é que a estagnaçao parcial permitiu a conservaçao dos pontos principais do município".

Bandeirantes - Goiás teve origem durante o ciclo da mineraçao e nasceu a partir de uma das rotas dos bandeirantes paulistas. Em 1727, Bartolomeu Bueno, filho de Anhangüera, fundou diversos arraiais ao redor do Rio Vermelho, entre eles o de Sant'Anna, que depois se tornaria Vila Boa de Goiás e, finalmente, Goiás.

Apesar de o barroco ter-se expandido no território brasileiro, as construçoes goianas, que datam dos primeiros 50 anos da colonizaçao, expressam estilo caracterizado como colonial-brasileiro, mais simples e despojado do que o barroco português. Apenas no interior das igrejas notam-se traços de um barroco tardio, expressos em imagens, talhas e pinturas encomendadas aos poucos artesaos e pintores residentes na regiao.

"Como sempre preservou boa parte da arquitetura, a cidade conseguiu que alguns monumentos fossem tombados como patrimônio nacional, já na década de 50", explica Salma. "Em 1978, a área tombada foi ampliada e agora, com o título de patrimônio da humanidade, pretendemos proteger quase todo o território".

O movimento pelo tombamento começou em 1998, com a formaçao de uma comissao integrada, entre outros, pelo artista plástico Siron Franco e pelo ambientalista Washington Novaes. A proposta foi apoiada pelo governador Marconi Perillo, que entrou com o pedido de inscriçao no Itamaraty, em maio do ano passado.

A Unesco enviou sua lista de exigências, que foi respondida por meio de dossiê de quatro volumes. "Até incluímos uma poesia da Cora Coralina, que nasceu na cidade", diz Salma. Em setembro, depois de registrar a proposta brasileira, o órgao das Naçoes Unidas enviou-a ao Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos é a sigla em inglês), associaçao civil, nao-governamental, com sede em Paris, responsável pela avaliaçao dos pedidos.

Em janeiro, veio a Goiás o arquiteto argentino Alfredo Conti, designado pelo Icomos, que, durante três dias, realizou visita de inspeçao. "A populaçao ficou empolgada, a ponto de praticamente todos lavarem as fachadas de suas casas". Conti pediu informaçoes complementares, como estudo comparativo da arquitetura das construçoes de Goiás com outras do mesmo estilo, como, por exemplo, as de Açores, em Portugal.

Solicitou ainda garantias de que as prometidas obras de saneamento básico (principalmente o projeto que pretende reduzir a produçao de lixo) e de fiaçao elétrica subterrânea da área protegida serao cumpridas. O prazo final é o dia 16, porque, dez dias depois, haverá nova reuniao do Icomos. A populaçao de Goiás estimada em 27 mil pessoas, aguarda ansiosa o veredicto.




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