Política Titulo
Tortorello:‘Só posso crescer na vertical’
Juliana Finardi
Do Diário do Grande ABC
25/02/2001 | 20:21
Compartilhar notícia


O prefeito Luiz Tortorello (PTB) disse que governar São Caetano, um dos melhores municípios do país em qualidade de vida, não é tão fácil como se imagina. Em entrevista ao Diário, Tortorello falou sobre as dificuldades que enfrentou no último governo e que continuam neste mandato como, por exemplo, a perda de 30% do ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) com o deslocamento ou a desativação de empresas. Possíveis soluções relacionadas a projeção da economia para o futuro e a atração de prestadores de serviços foram citadas pelo prefeito como formas de resolver os problemas “mais sérios” do terceiro município do país que mais dá atenção a suas crianças, segundo ranking da Unicef. Além disso, o petebista também comentou a situação dos presídios no Estado e defendeu a privatização do sistema carcerário que, pela precariedade, acabou criando o PCC, “um partido mais forte do que o PT”.

DIÁRIO – É mesmo fácil governar São Caetano?

LUIZ TORTORELLO – Eu diria que toda administração tem dois tipos de problemas, os imediatos, que são fáceis de você solucionar – por exemplo, estourou o cano de esgoto e você manda consertar. As coisas imediatas, do dia-a-dia, não têm problema nenhum porque você planeja a administração ao longo do ano, tem verbas em todos os segmentos, em todos os setores e eu sei que, para cada diretoria tem uma verba orçamentária que é preparada de um ano para o outro. Vou dar um exemplo prático. Havia um imenso problema, que é de todo administrador, porque a população não reclamava de educação nem saúde, mas sim de segurança. Então, esse imediatismo pode ser previsto no orçamento e você consegue dar viaturas e todo material necessário para que todos se integrem num programa. Tudo isso eu coloco dentro do que se chama de imediatidade e isso eu acho fácil, não vejo dificuldade. Basta que você tenha um pouquinho de coerência e que você saiba investir certo no programa certo, atendendo uma população de uma forma geral. Mas torna-se difícil administrar uma cidade como São Caetano pelo contexto geográfico, pela posição geográfica da cidade. A nossa posição é ingrata, nós somos um município pequeno e estamos comprimidos na região metropolitana, entre São Paulo, São Bernardo e Santo André, dentro de um conceito de 37 municípios. A região metropolitana tem problemas muito graves e São Caetano também participa desses problemas.

DIÁRIO – E quais seriam esses problemas?

TORTORELLO – Vamos pegar primeiro os problemas ambientais, que são difíceis de serem solucionados. Se nós estamos espremidinhos, os problemas ambientais têm de ser solucionados com uma vontade de 37 administradores e esses 37 estão gerenciados por um poder maior, superposto, que é o governo do Estado. Então, os 37 prefeitos teriam de ter a mesma vontade política de desenvolver um projeto para solucionar o problema ambiental. Outro problema sério é o escoamento de bens e mercadorias. Então nós precisamos do Rodoanel, que é uma solução que fica na dependência da região metropolitana do governo do Estado. Aí vêm os problemas sociais, que também estão dentro de uma conjuntura que o país vive hoje. Você pode colocar qualquer pessoa sentada nessa cadeira que os problemas de hoje, dessa semana e desse mês ela soluciona. O problema é pensar a cidade daqui a 10, 15, 30, 40 anos. Devemos pensar na projeção da economia para o futuro. Daí eu entender que a administração de hoje é fácil mas que o amanhã é altamente preocupante. Tenho 15 km² todos tomados e não tenho como crescer geograficamente. São Caetano só pode pensar em crescimento vertical. E o que é que cabe no crescimento vertical? Só serviços, tecnologia de ponta.

DIÁRIO – Quanto o município perde em ICMS?

TORTORELLO – Nós já perdemos 30%, em uma queda que começou em 1997. Até o ano 2000 perdemos essa porcentagem. Agora, essa foi uma queda generalizada que acho muito difícil recuperarmos porque a economia sofreu uma metamorfose que ninguém muda mais. Mas, se nós perdemos, é porque toda a região também perdeu com a desativação de empresas. Algumas tiveram de concorrer com o preço internacional e fecharam, outras permaneceram com uma matriz no interior. A Confab, por exemplo, é uma empresa histórica que está indo embora porque faz dois anos que está trabalhando no vermelho. Sabe o que Confab significa? Com orgulho nós fabricamos armas para o Brasil. Essa empresa surgiu na Segunda Guerra, quando o Brasil entrou na guerra e precisava produzir armas.

DIÁRIO – Se a Multibrás fosse em São Caetano, o senhor acha que conseguiria mantê-la na cidade?

TORTORELLO – Nem em São Bernardo o prefeito vai conseguir manter. Se eles encasquetarem que estão tendo prejuízo aqui e lá terão lucro, ninguém vai conseguir segurar. Ninguém toca nada com prejuízo. É claro que não queremos que nenhuma empresa vá embora. Quando a ZF quis sair da cidade, de 1995 para 1996, eu nem prefeito era. Então fomos lá e conversamos longamente, pressionamos, apertamos de tudo quanto foi jeito mas eles nos mostraram por A mais B que precisavam ir embora. Agora, nessa pergunta que você fez sobre a Multibrás, é claro que se a empresa sair mesmo de São Bernardo, coitado do Maurício porque não digo já, de emergência, mas daqui a um ano, dois anos, se lá havia três mil pessoas trabalhando, 1,5 mil estarão tomando os remédios da Prefeitura porque não estarão mais pagando plano de saúde. E também vão usar hospitais da Prefeitura, pedir cestas básicas. A nossa obrigação é não deixar ninguém aqui passar fome.

DIÁRIO – Então, o objetivo do sr. é tentar compensar essas perdas com investimentos para atração de serviços?

TORTORELLO – O objetivo maior é este, que você consiga compensar porque o que se perde de um lado tem de se ganhar por outro. Então, se perdemos ICMS, precisamos ganhar com todos os outros impostos como IPTU e ISS. Mas temos de trabalhar em cima.

DIÁRIO – Outro problema que o sr. enfrenta é com o Fundão?

TORTORELLO – Tenho de ver São Caetano no ABC e o ABC na região metropolitana. A região metropolitana no Estado e o Estado no país. Então, todo estadista tem de pensar de maneira global. O Fundão (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério – Fundef) é um projeto espetacular. Agora, poucas cidades do Brasil acabaram sendo prejudicadas e São Caetano foi a que sofreu o maior prejuízo porque passou a ser o maior contribuinte do Fundão. Nós damos por ano R$ 13,5 milhões e só volta R$ 1,2 milhão. Mas a causa é nobre.

DIÁRIO – O que o sr. acha do sistema carcerário em São Paulo e da atuação do PCC?

TORTORELLO – Fui juiz de Direito e conheço um pouco o sistema porque um juiz conhece bem. Nesse país, nunca ninguém se interessou em fazer um alto investimento no setor penitenciário. Mas isso vem do Brasil Império, do Brasil Colônia. Nunca ninguém estabeleceu como meta prioritária, neste setor carcerário, buscar alternativas e soluções. E se ao longo de um século ninguém se interessou em fazer bons e satisfatórios investimentos, não podemos esquecer que a população cresce vertiginosamente. E em cima desse crescimento vertiginoso, todos os problemas crescem, inclusive a população carcerária. Vejo diversas soluções: a primeira delas, de fato, é a de se mudar a lei processual penal, e a lei penal é que têm de saber diferenciar o bandido do infrator. Agora, o mais importante vem na seqüência: o sistema carcerário deve ser privatizado. Há coisas que o poder público é competente para fazer, há coisas que não. E o poder público não é competente para cuidar do sistema carcerário. O que você acha que os presos conversam o dia inteiro quando ficam tomando sol sem fazer nada? Formaram um partido mais forte do que o Congresso Nacional, o PCC é mais forte do que o PT, eu queria ver se o PT conseguiria fazer essa algazarra ao mesmo tempo no país inteiro, só com o celular. O PT, o PSDB, o PMDB, quero ver quem consegue fazer o que eles fizeram e vão fazer de novo em nível nacional. E eles, por telefone, conseguem. E no sistema privado não vai ter isso, não vai ter rebelião.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;