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Papa João Paulo II não participa das cerimônias santas, mas aparece em vídeo durante Via Crúcis
Do Diário OnLine
Com AFP
25/03/2005 | 18:36
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O papa João Paulo II apareceu de sua capela particular do Vaticano, em um circuito fechado de televisão, para milhares de crentes que assistiam, nesta sexta-feira, à Via Crúcis noturna ao redor do Coliseu, de Roma, cerimônia que refaz as 14 estações do trajeto de Cristo até o calvário, onde foi crucificado.

O Papa estava sentado e usava uma estola litúrgica como sinal de sua participação na cerimônia. O pontífice não pronunciou nenhuma palavra e acompanhou o rito por um aparelho de televisão.

"Queridos irmãos e irmãs, estou espiritualmente com vocês no Coliseu, um local que me traz muitas lembranças e emoções", escreveu o Papa em mensagem lida pelo cardeal Camillo Ruini, no início da cerimônia. "Também estou perto de todos aqueles que neste momento passam por sofrimentos. Rezo por cada um deles", continuou.

"Ofereço também meu sofrimento para que o desejo de Deus se cumpra e que sua palavra encontre o caminho entre nós". "Cruz, única esperança", afirmou o Papa em uma comovente mensagem na qual também pediu: "Deus, nos dê paciência e valor, e conceda a paz ao mundo".

Desde segunda-feira os técnicos do Vaticano vinham instalando no apartamento do pontífice os aparelhos necessários para conectar o local com o Coliseu, em Roma, onde foram colocados telões para que o papa pudesse ser visto por todos os presentes.

A procissão ao redor do Coliseu foi instituída pelo próprio João Paulo II, que sempre a presidiu. A via-crúcis teve início às 17h15 (horário de Brasília) e foi transmitida ao vivo para cerca de 40 países. 

O papa ainda se recupera da traqueostomia a que foi submetido no hospital Gemelli, em Roma, para facilitar sua respiração. Por isso, sua participação nos eventos do Vaticano têm sido limitadas.

Calvário - As cerimônias litúrgicas da Semana Santa, as mais importantes do calendário cristão, foram marcadas pela tristeza do papa João Paulo II, que vive um calvário pessoal e doloroso com o agravamento de sua doença.

Enquanto os católicos do mundo inteiro rezam e revivem a paixão de Cristo, lembrando a morte do filho de Deus na cruz para redimir os homens, o Papa viveu pela primeira vez em 26 anos de pontificadao uma semana diferente, caracterizada pela incerteza sobre a sua recuperação.

Relegado ao silêncio pela traqueostomia à qual foi submetido há pouco mais de um mês, o Pontífice apareceu em quatro breves, silenciosas e contadas ocasiões na janela do seu apartamento, no Vaticano, para saudar os fiéis que se reúnem em frente ao palácio apostólico.

A emoção e os vivas dos peregrinos não conseguem esconder o que para muitos é evidente: o Papa está se apagando.

Com quase 85 anos de idade, marcado pelo mal de Parkinson, que já atacou seu sistema respiratório e agora dificulta a deglutição e a fala, João Paulo II luta com todas as forças contra uma doença que pode ser fatal.

Para muitos fiéis, a doença de Karol Wojtyla, o primeiro papa polonês da história, "é uma passagem mística purificadora e o torna uma espécie de santo", como ocorreu com vários santos canonizados no passado, sustentou o teólogo Orazio Petrosillo no jornal 'Il Messaggero'.

Seu calvário, assim como o de Cristo, está pontilhado de momentos dolorosos e de sacrifícios, a começar pela perda da mãe, aos 9 anos, passando pelos horrores da Segunda Guerra Mundial, até os atuais, tendo que renunciar à sua missão de líder da Igreja Católica e delegar a outros cardeais da cúria a celebração das cerimônias da Semana Santa.

Para um Papa que viajou o equivalente a 31 vezes a volta ao mundo, batendo todos os recordes, ver-se obrigado a ficar fechado atrás das muralhas do Vaticano por indicação médica é paradoxal. "Ele gostaria de fazer outras coisas, mas os médicos não deixam", afirmou nesta quarta-feira o cardeal Pio Laghi, reconhecendo a impaciência e, ao mesmo tempo, a impotência de João Paulo II diante do inevitável avanço do Parkinson.

Ex-ator de teatro, o pontífice jovem, saudável e esportista, que com o seu poder de comunicação seduziu o planeta e se impôs em todos os continentes, agora tem que se expressar com gestos e caretas da janela de seu apartamento. "Com o seu sofrimento, ele nos ensina o valor da vida", afirma a religiosa italiana Vincenzina Mazzieri, interpretando o parecer de muitos católicos.




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